Farsa

Banco Central: uma sabotagem encoberta pela imprensa burguesa

Artigo do Estadão busca confundir o cenário, e tirar a responsabilidade do presidente do BC, Roberto Campos Neto, do marasmo econômico em que se encontra o País

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O Estado de São Paulo, tradicional veículo burguês reacionário, publicou, no dia de ontem (25/06), uma matéria de opinião na qual ataca Lula por suas duras colocações a respeito do presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto. O presidente do BC vem mantendo a taxa de juros em 13,75%, a mais alta do mundo.

O artigo, como tradicional da cobertura econômica da imprensa burguesa, visa confundir e se aproveitar da falta de conhecimento geral sobre o tema. Sob o título de “A estagnação econômica veio antes dos juros”, vejamos os argumentos.

O primeiro ponto apresentado são as visitas ao exterior realizadas por Lula, algo natural visto a forte participação na política internacional do Brasil sob sua presidência, tanto em seus mandatos anteriores e, ainda mais, agora. O articulista diz que, entre as viagens, Lula “pouco se dedicou às prosaicas tarefas da administração”, e a melhora nas projeções econômicas, de 1,20% para 2,14%, estariam em função do ministro da Fazenda, como se o mesmo não fosse subordinado ao presidente. Mais, os números seriam medíocres, o que não seria culpa do Banco Central, explicação colocada pelo “presidente Lula, alguns economistas e muitos empresários”.

Se trata de uma longa introdução para desviar do ponto econômico:

“O Brasil está emperrado há pelo menos dez anos, tendo raramente superado, nesse período, a taxa anual de expansão de 2%. A economia pouco avançou mesmo em fases de juros baixos. Além disso, o País pouco se preparou para ganhar dinamismo. Desde o ano 2000 o investimento em meios físicos de produção, como equipamentos, máquinas e obras de infraestrutura, equivaleu em média a 18% do Produto Interno Bruto (PIB). Manteve-se, portanto, muito abaixo dos níveis observados em outras economias emergentes, frequentemente superiores a 24%. Além disso, a partir de 2015 a média nacional foi inferior a 17%, segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV).”

Ou seja, desde 2013, ano em que se iniciou uma ofensiva contra o governo, e época em que as repercussões da crise de 2008 começaram a ser sentidas com mais força no Brasil, a economia está “emperrada”, mas essa explicação é insuficiente. Então é citado o investimento no setor produtivo, desde 2000 (sem indicação de fonte). Tomando os números como verdadeiros, porém, seria necessário algumas considerações políticas, já que os números, por si, não dizem muito.

No início dos anos 2000, o País vinha de um intenso processo de desindustrialização, fruto dos governos “democráticos” de Collor e, depois, de FHC, o destruidor do Brasil. A partir do período do PT, a destruição foi reduzida e, em alguma medida, revertida, com a facilitação do crédito e estímulo ao consumo, além de investimento em áreas estratégicas da economia, como no setor de petróleo e gás e na construção civil.

Já em 2015, em plena marcha golpista, quando o governo Dilma Rousseff foi colocado contra a parede pelo Congresso Nacional, naturalmente que os investimentos diminuíram. E diminuíram em função da sabotagem econômica operada pela ofensiva do golpe, cenário que o Estadão e demais setores golpistas buscam repetir. Seria então necessário um gráfico demonstrando o histórico ano a ano dos investimentos, no mínimo, para que os números apresentados tivessem uma significação para o argumento, e pudessem ser acompanhados junto ao desenvolvimento da situação política.

O artigo segue tentando confundir:

“Crescimento econômico envolve muito mais que dinheiro barato e estímulo ao consumo […]. Juros baixos são importantes, mas a decisão de investir depende também da confiança no governo, da segurança institucional e da expectativa de condições favoráveis.”

Ou seja, independente da “confiança no governo, da segurança institucional e da expectativa de condições favoráveis”, sem os juros baixos existe um desestímulo ao investimento, sendo esse, entre os apresentados, o fator mais concreto na operação. Mais que isso, o estímulo ao consumo gera uma base interna que é fundamental para o crescimento da indústria nacional. O autor busca dizer o contrário, e reduzir a importância do ponto principal. E continua:

“Mas também é preciso levar em conta a formação do chamado capital humano, por meio da educação em todos os níveis e do treinamento para o trabalho. A qualidade da mão de obra é especialmente importante quando se investe em sistemas de produção modernos e tecnicamente complexos. Isso se aplica tanto à indústria quanto à agropecuária, atualmente o setor mais dinâmico e mais competitivo da economia brasileira.”

Justamente, porém, a formação é alavancada no País pelo investimento estatal, e está atrelado ao investimento nos setores produtivos e na expansão econômica. O artigo está defendendo uma medida que barra o investimento, que ele mesmo usa como justificativa para falar da formação de mão de obra. Portanto, um diversionismo.

Cinicamente, coloca ainda o autor: “O setor industrial brasileiro está em crise há pelo menos dez anos.”

O golpe de 2016, apoiado pelo Estadão, cujo processo se iniciou dez anos atrás, se deu em primeiro lugar para destruir a indústria brasileira. O setor naval, petroquímico, de construção civil, nuclear, elétrico, de distribuição, todos foram duramente atacados, com repercussões nas mais diversas áreas produtivas. Óbvio, então, que existe uma crise no setor industrial. E a alta taxa de juros se soma aos ataques, na tentativa de impedir uma recuperação econômica e industrial.

Com esse contexto, a citação seguinte se demonstra um escárnio:

“As perdas mais graves têm ocorrido no segmento de transformação, o mais diversificado e mais presente no dia a dia da maior parte das pessoas. Sua produção inclui roupas, sapatos, comida, bebida, equipamentos elétricos e eletrônicos, móveis e outros bens de uso doméstico, veículos, máquinas e equipamentos industriais, cosméticos, material de higiene e limpeza e medicamentos, entre outros bens.”

Ora, o golpe devastou a economia, rebaixou a massa salarial e jogou a população no desemprego e na miséria, e a produção em setores voltados ao mercado interno se reduziu, causa e consequência.

Na conclusão, o artigo do Estadão faz considerações sobre o processo de desindustrialização nacional, fugindo de qualquer fato, e apresentando fatores vagos: “desatualização das políticas”, falta de “integração global e da competitividade”, “benefícios fiscais mal desenhados”, “tributação inadequada” e falta de “estímulos ao investimento em capacidade e em tecnologia”. Termos que não apontam fator concreto.

Para fechar, coloca que o tucano Geraldo Alckmin teria um programa de reindustrialização, uma farsa, e que seria necessário mostrar “seriedade nas contas públicas” para facilitar a redução dos juros. Esse último ponto é uma chantagem, já que a tal “seriedade” nada mais é que a velha política neoliberal da austeridade, do corte de investimentos do governo nos setores sociais e produtivos. O que se coloca é uma defesa mal disfarçada da operação de sabotagem do presidente do Banco Central, que deve ser retirado do cargo o mais cedo possível.

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