Neste sábado (12), a Arábia Saudita nomeou pela primeira vez um embaixador não residente para a Palestina. Atual embaixador na Jordânia, Nayef al-Sudairi exercerá a mesma função na Palestina, além de atuar como cônsul-geral em Jerusalém.
Até o presente momento, as relações diplomáticas entre Riad e os palestinos eram realizadas pela embaixada saudita em Amã, capital da Jordânia (a Palestina, compreende a Faixa de Gaza e a Cisjordânia).
Dessa forma, a nomeação de Nayef al-Sudairi para atuar como embaixador na Palestina expõe uma aproximação entre o país e a Arábia Saudita.
Historicamente, a Arábia Saudita tem a posição formal de defender a criação de um estado palestino com base nas suas fronteiras anteriores ao ano de 1967. No mesmo sentido, não reconhece a legitimidade do Estado de Israel, não havendo relações diplomáticas formais entre ambos. Apesar disto, assim como Israel, a Arábia Saudita é utilizada há décadas como ponta de lança do imperialismo no Oriente Médio, em especial contra o Irã, a fim de conter a revolta dos povos do Oriente Médio contra a dominação dos Estados Unidos e da Europa.
Sendo assim, o fato de que os sauditas estão nomeando pela primeira vez um embaixador para a Palestina constitui uma ação prática que evidencia que a Arábia Saudita continua a se movimentar para deixar de ser um agente fundamental da dominação norte-americana no Oriente Médio. O que se acentua pelo fato de que (conforme já dito) o embaixador também deve atuar também como cônsul-geral em Jerusalém, cidade que é reivindicada pela Autoridade Palestina como a capital dos territórios palestinos (embora o centro político seja, de fato, Ramalá), acirrando a já existente animosidade entre a Arábia e Israel, afinal, Jerusalém é oficialmente a capital do Estado Sionista.
Essa movimentação dos sauditas já havia ficado clara com o reestabelecimento das relações diplomáticas com o Irã (inimigo declarado dos EUA) no primeiro semestre desse ano, a qual fora mediada pela China (outro inimigo declarado do império ao norte). Foi reforçada com o fato de que a Síria foi readmitida na Liga Árabe, readmissão esta provavelmente capitaneada pelos sauditas.
Assim como inúmeros outros países oprimidos pelo imperialismo, a Arábia Saudita, ao ver o enfraquecimento deste, busca aumentar sua independência política e econômica. E, para que essa empreitada tenha sucesso, os sauditas veem diante da necessidade de fortalecer o vinculo entre os países Árabes no Oriente Médio. Afinal, para que países oprimidos tenham a chance de se libertar (mesmo que de forma relativa) da ditadura mundial do imperialismo é necessária a união entre eles.
Este é o sentido da nomeação de um primeiro embaixador saudita para a Palestina.
E é sintomático do aprofundamento da crise em que o imperialismo, em especial o ianque, se encontra.
Nos últimos anos, os norte-americanos e os europeus vêm perdendo cada vez mais o controle sobre suas neocolônias, em todo mundo. Essa perda de controle vem se acentuando rapidamente no decorrer do último ano. Desde que o exército americano foi expulso do Afeganistão, em derrota emblemática, a debilidade imperialista foi postas às claras. Esse fato foi acentuado com a guerra na Ucrânia, em que centenas de bilhões de dólares gastos em armamentos sofisticados e em mercenários treinados pela OTAN, e incontáveis sanções não estão suficientes para barrar o caminho da Rússia à vitória.
Com isto, até mesmo as regiões do globo que estão sob a mais brutal opressão por parte do imperialismo vê seus países oprimidos buscando uma independência. É o caso da África, com a sublevação de militares nacionalistas em diversos países (vide Níger, o mais recente). É o caso do Oriente Médio. Praticamente todos os países se movimentam para sair debaixo do coturno do tio Sam. Até mesmo países que historicamente atuam como prepostos do imperialismo na região, vide a própria Arábia Saudita, mas também o Egito, governado por uma ditadura brutal.
Até mesmo Israel caminha nesse sentido, como se pode notar pelos protestos impulsionados pelos Estados Unidos contra o governo fascista de Netanyahu.
Conclui-se, portanto, que essa nova aproximação entre os saudistas e os palestinos é mais de um episódio na desagregação da ditadura imperialista, e tende a expandir a fronteira para novos acontecimentos semelhantes, agravando a espiral de crise na qual o imperialismo se encontra preso.