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Mato Grosso do Sul

Abandonados, índios de Dourados encontram refúgio na religião

Maioria frequenta a Igreja Evangélica, apesar de denunciarem que os pastores se opõem à luta dos indígenas pela terra

Eduardo Vasco, de Dourados (MS)

Passeando de carro por tão somente dez minutos pela Aldeia Jaguapiru, vimos cinco igrejas evangélicas na manhã do dia que chegamos a Dourados (MS). Outro dia, quando a noite levava a completa escuridão aos territórios indígenas da periferia da cidade, adentramos a mata por uma “estrada” rodeada pelo breu e pelo vazio. A única construção que vimos era outra igreja evangélica.

Assim como nos subúrbios das cidades, no interior do País há igrejas evangélicas por toda a parte. Onde há gente miserável, há uma igreja evangélica. E os índios de Dourados são miseráveis.

“Aqui dentro da aldeia tem mais igrejas que população”, brinca Ana Carla, índia guarani cujo pai, o tio e o primo estão presos há mais de duas semanas na Penitenciária Estadual de Dourados, passando fome e frio, sob acusações que todos índios da retomada Iwu Vera dizem ser falsas.

Segundo o último censo publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, há cerca de 20 mil índios em Dourados. Os dados certamente estão defasados e esse número, atualmente, é maior. Eles vivem em uma área correspondente a apenas 0,1% do município, constituindo, contudo, por volta de 10% de sua população. Na prática, vivem segregados em um gueto.

Júlio de Souza tem 77 anos e chegou a ser detido pela Polícia Militar, mas foi liberado quando nove indígenas (dentre eles o pai, o tio e o primo de Ana Carla) foram encaminhados para o presídio. Ele frequenta a igreja quase todas as noites e diz que é preciso acreditar em Deus. O pastor de sua igreja também é guarani e apoia a retomada que eles realizaram, na tentativa de recuperar o território invadido por latifundiários e empresários.

No entanto, boa parte dos pastores se opõem à luta dos índios por sua terra. Quando realizaram a retomada Iwu Vera, há oito anos, os índios foram acusados de “ladrões de terras” pelo pastor de uma igreja que frequentavam. Esse pastor os expulsou da igreja.

Ana Carla conta que sua irmã é membro da Igreja Deus é Amor e que o marido dela é o presidente da igreja. Sua irmã é impedida de participar das atividades dos índios da retomada por questões políticas.

Algumas das índias da retomada Iwu Vera e da retomada Nova Iwu Vera, iniciada logo antes da prisão dos nove índios guarani, caiouá e terena pela PM, costumam vestir saias jeans cobrindo as pernas até abaixo dos joelhos, como fazem as evangélicas.

Quando a tropa de choque da PM ameaçou invadir e retomada Nova Iwu Vera, no último sábado (22), após reprimir com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo o ato que fechava a rodovia ao lado, os indígenas ficaram apavorados. Um senhor expressou sua indignação com a retórica que aprendeu nos cultos: “Deus vai ‘tá’ te vendo! Deus vai te matar! Vai pro Inferno! Deus vai te levar pro Inferno! Deus vai te levar pro Inferno!”

Passando frio e encharcados com a chuva, sem saneamento básico, sem energia elétrica, vivendo de doações para almoçar e jantar, comendo muitas vezes apenas arroz em um barracão que montaram como uma cozinha comunitária na Nova Iwu Vera, esses índios estão abandonados. Não recebem nenhuma assistência dos governos municipal e estadual e o que está salvando a sua vida é o Bolsa Família, do governo federal. A Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) também os deixaram na mão, conforme denunciam. “Quando estamos doentes, demora horas para virem nos socorrer”, reclama um índio ao ver um carro da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) pedindo para passar pelo bloqueio feito por eles durante a manifestação de sábado.

Não existem Organizações Não-Governamentais (ONGs) na Aldeia Jaguapiru. Aparentemente, os índios daqui não dão dinheiro nem status aos órgãos que vendem a imagem de humanitários e indigenistas às custas do sofrimento desses povos. Também não está por aqui nenhum partido político que, em época de eleição, apresenta candidaturas indígenas para fazer demagogia e receber votos da classe média. Tampouco essa mesma classe média, que se preocupa em discutir se o correto é chamar os índios por “indígenas” ou “povos originários”, aparece por estas bandas.

Basicamente a única instituição que faz um trabalho regular com estes índios é o Partido da Causa Operária (PCO), que ajudou a organizar manifestações e denuncia a âmbito nacional e internacional a prisão arbitrária dos nove indígenas. O PCO será o primeiro partido político a abrir uma sede na localidade, a fim de aprofundar o trabalho de organização destes índios esquecidos por todos na luta pela terra. Nisso, aparentemente, os índios não podem contar com os pastores evangélicos.

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