Em entrevista coletiva na Inglaterra, após a cerimônia de coroação do rei Carlos III, Lula voltou a criticar a privatização da Eletrobrás, feita durante o governo Bolsonaro.
O presidente, que já tinha chamado a privatização de “bandidagem”, afirmou que entrará na Justiça contra alguns pontos da venda da empresa. Na entrevista, ele criticou também a farra dos diretores e conselheiros da empresa: “Os diretores aumentaram seus salários de R$60 mil por mês para mais de R$360 mil por mês, e um conselheiro para fazer uma reunião ganha mais de R$200 mil. Não é possível num país em que 33 milhões de pessoas passam fome vivermos numa situação como essa”.
As declarações geraram reação da direita. Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, afirmou que “essas questões de rever privatização preocupam”. A própria Eletrobrás publicou comunicado dizendo que a ação do governo “contraria as premissas legais e econômicas que embasaram as decisões de investimento do mercado”.
É um verdadeiro escárnio o que está acontecendo. Qualquer pessoa sabe que a venda da Eletrobrás foi um roubo, assim como foram roubos todas as privatizações. Agora, os acionistas e especuladores que tomaram de assalto a empresa vem a público dizer que qualquer tentativa de reverter minimamente as irregularidades cometidas é ilegal.
Isso mostra como o governo Bolsonaro, assim como o governo Temer, foi um governo profundamente entreguista, capacho, cachorro dos grandes capitalistas. A alegação da Eletrobrás toma por base, inclusive, as regras aprovadas por Bolsonaro e o Congresso golpista, que exluem o governo da participação das decisões da empresa, além de ficar como sócio minoritário. A União tem 43% das ações da Eletrobrás mas apenas 8% de poder de voto dentro da empresa. Ou seja, tudo foi montado de um jeito que impedisse que o governo tivesse qualquer poder de decisão, basicamente só arcando com gastos.
Além disso, a diretoria da Eletrobrás anunciou um novo Plano de Demissões Voluntárias para enxugar o quadro de funcionários. O que está em marcha é a destruição da empresa, como aconteceu com todas as privatizações.
As críticas e denúncias de Lula são corretas. E é preciso ir além. A privatização foi um roubo do povo brasileiro. Ela não deve ser modificada apenas em alguns pontos, mas totalmente revertida. É preciso estatizar a Eletrobrás e reverter esse crime contra o povo brasileiro.
Mas a pressão da burguesia contra as declarações de Lula e a resistência do Congresso Nacional mostram que a reversão da privatização só poderá ser conquistada por meio da mobilização popular. Lula precisa se apoiar nessa mobilização para colocar em prática uma política verdadeiramente popular.
Não apenas reverter a privatização da Eletrobrás, mas todas as privatizações criminosas feitas pelo golpe de Estado e nos anos de FHC.
