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O surgimento dos bravos heróis

A evolução do Hamas, da Intifada à Operação Al-Aqsa

O processo desencadeado em 1987 promoveu uma mudança. Ao final, a política do Hamas superou a degenerada OLP, que abandonou a luta pelo fim de Israel

Em 1987, uma verdadeira rebelião popular explode no extremo norte da Faixa de Gaza contra a ocupação de tropas sionistas. O processo desencadeado é um marco que promoveu uma mudança importante nos rumos da luta do povo palestino. Por um lado, termina com a degeneração total e completa da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), expressa pelos “Acordos de Oslo”. E, por outro, dá origem ao Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas (sigla em árabe), que promoveria, no último dia 7 de outubro, incursões inéditas com foguetes contra alvos militares e estratégicos de Israel, principalmente na costa banhada pelo Mar Mediterrâneo.

Antecedentes à fundação do Hamas 

Antes da Primeira Intifada (termo em árabe que se refere a esse tipo de revolta popular), também conhecida como Guerra das Pedras, todo território palestino estava sob o domínio do regime de Israel como resultado da Guerra dos Seis Dias ou Terceira Guerra Árabe-Israelense, iniciada em 5 de junho de 1967. Neste conflito, que envolveu países árabes, o Egito não perdeu somente o controle sobre a Faixa de Gaza, como também da Península do Sinai. Da mesma forma, a Jordânia perdeu controle sobre a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. E a Síria, que buscara se unificar ao Egito para formar a República Árabe Unida, terminou sem as Colinas de Golã.

Nascido em 1936, Ahmed Ismail Hassan Yassin, o futuro fundador do Hamas, foi obrigado a se refugiar junto com seus familiares, em virtude da limpeza étnica que atingiu seu povoado como resultado da Primeira Guerra Árabe-Israelense em 1948, para o campo de al-Shati em Gaza. O líder espiritual começou a influenciar e ganhar seguidores depois que se tornou professor de língua árabe numa escola primária. Em 1973, o líder espiritual fundara o Centro Islâmico (Mujama al-Islamiya), que era ligado à Irmandade Mulçumana, uma instituição de orientação sunita dedicada a realização de obras de caridade. Esta organização foi constituída no Egito em 1928 e se estabeleceu em mais de 70 países com o objetivo retomar os ensinamentos do Alcorão rejeitando qualquer influência do imperialismo.

Em 1984, o xeique Ahmed Yassin planejaria organizar com os futuros líderes do Hamas, com destaque para Ibrahim Makadmeh e o xeique Salah Mustafa Muhammad Shehade, uma resistência armada para combater o regime sionista. Yassin foi condenado a 13 anos de prisão por armazenar armas secretamente, outros membros do grupo também terminariam presos. No ano seguinte, a libertação de Yassin e também cerca de outros 1.150 prisioneiros do regime sionista aconteceu através do Acordo de Jibril, o qual somente se tornou possível a partir do sequestro realizado pela Frente Popular para a Libertação Palestina – organização nacionalista sediada na Síria – de três agentes do Instituto de Inteligência e Operações Especiais do Estado de Israel – análogo à CIA e conhecido como Mossad -, durante a Primeira Guerra do Líbano.

No ano de 1986, Shehade formaria uma rede células de resistência denominadas al-Mujahidun al-Filastiniun (Combatentes Palestinos), que funcionaria até 1989 tendo como operação mais conhecida o sequestro e morte de dois soldados sionistas.

A Primeira Intifada, o surgimento do Hamas e das Brigadas Al-Qassam 

Diante de tamanha violência e humilhação impostas contra o povo palestino pelo regime sionista, em 8 de dezembro de 1987, após um caminhão militar israelense colidir propositalmente com um veículo que resultaria na morte de quatro palestinos, uma gigantesca insurreição seria iniciada no campo de refugiados de Jabalia, a Primeira Intifada. Apenas dois dias depois de irromper a fúria que arrastaria toda uma população a enfrentar balas e tanques com paus e pedras, seria fundado o Movimento de Resistência Islâmica por Ahmed Yassin e Abdel Aziz al-Rantisi – este seria o representante da ala paramilitar da Irmandade Mulçumana Palestina. A fundação do Hamas resultaria em nova prisão do xeique Yassin, afinal, tamanha afronta contra o Estado genocída de Israel não poderia ser perdoada pelos sionistas e seu “crime” mereceria nada menos que reclusão perpétua.

O desenvolvimento desse processo que marca o surgimento do partido, que se tornaria o principal inimigo do imperialismo em território palestino nos dias atuais, também seria marcado pela deterioração total que transformaria a OLP numa espécie de polícia do movimento da resistência palestina. O Movimento de Libertação Nacional da Palestina, o Fatá (sigla em árabe), que liderava essa frente constituída por uma dezena de outras organizações em 1964, abandonaria a luta pelo fim do regine sionista e de uma Palestina soberana, laica e multiétnica para reconhecer, em 1988, a legitimidade do Estado de Israel. A proposta elaborada em 1947 de criação de um Estado para os judeus, que o imperialismo impôs através da ONU (Organização da Nações Unidas), em território palestino parecia, finalmente, estar concluída.

Em outubro de 1990, no Monte do Templo, território considerado sagrado, onde se encontram a Mesquita de Al-Aqsa e o Domo da Rocha, mulçumanos buscaram impedir uma provocação sionista e a polícia israelense assassinou dezessete palestinos. Diante desse acontecimento, o Hamas declarou uma jihad, guerra e vingança, contra todos soldados sionistas. É neste clima que, em 1991, foi criado o braço militar do Hamas, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam. O nome das brigadas se trata de uma homenagem ao xeique nacionalista e fundador da organização Mão Negra, cuja morte em 1935 pela polícia britânica provocou a Grande Revolta Árabe de 1936-1939 contra a ocupação colonial do imperialismo.

O Hamas realizaria inúmeros ataques contra alvos israelenses utilizando explosivos em grande escala e uma série de operações de guerrilha buscando estimular a continuidade da intifada e impedir um acordo da OLP com o regime sionista. Outros grupos minoritários da OLP também defenderam de maneira intransigente a resistência armada contra a criação do Estado de Israel em território palestino, a cisão dentro do movimento das forças reais da Palestina se tornara cristalina.

A traição de Yasser Arafat e o processo de ascensão do Hamas   

A ação do Hamas não evitou que acordos entre o general Yitzhak Rabin, então primeiro-ministro de Israel, e Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina e do Fatá, fossem firmados em Oslo, capital da Noruega, sob a “mediação” do presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, no dia 13 de setembro de 1993. Esse acontecimento marcaria o fim da Primeira Intifada e também a transformação da “autoridade palestina” num serviçal do regime sionista e consequentemente do imperialismo. A deposição das armas da OLP para adoção de uma política de negociação e de reconhecimento do Estado de Israel nunca teve qualquer garantia de um território e exército próprio, de Jerusalém como sua capital, comercio exterior, impostos, redes de distribuição de energia e de abastecimento de água.

A partir da traição do líder do Fatá, a OLP ficaria com o compromisso de garantir a “paz” na Palestina: sua responsabilidade passaria a ser o policiamento da resistência armada palestina, tudo para garantir uma tranquila ocupação aos sionistas. O Fatá entregaria o controle de todo o país e, em contrapartida, teria o status de “Autoridade Palestina”, algo que não garante soberania nenhuma à Palestina.

A capitulação do Fatá diante da situação facilitaria ainda mais o caminho para o Hamas conquistar a preferência de setores mais radicalizados, principalmente os envolvidos na intifada e da Faixa de Gaza, onde está presente a Irmandade Mulçumana que financia construção de escolas, hospitais, cultura e assistencialismo.  

Em fevereiro de 1994, o médico israelense Baruch Goldstein, vestido com o uniforme do exército sionista, assassinou vinte e nove palestinos no Túmulo dos Patriarcas de Hebron (Cisjordânia). A mobilização dos palestinos contra a ocupação do regime sionista também seria reprimida pela polícia de Israel, que deixaria outros dezenove palestinos mortos. Enquanto Hamas buscava dar uma reposta mais contundente com uma série de atentados inclusive contra civis, rompendo com o princípio estabelecido pela própria organização de atacar somente combatentes, a suposta autoridade palestina era pressionada por Israel a busca uma solução. 

Uma curiosidade sobre Goldstein: ele é um colono norte-americano que nasceu no Brooklyn (Nova Iorque) e também pertencia ao grupo Cahane e Kach, que são de orientação fascista e reconhecidos inclusive pelos Estados Unidos e União Europeia como terrorista. O atual ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Bem-Gvir, também esteve ligado a esses grupos, o que esclarece muito sobre o caráter fascista das autoridades israelenses.  

Em 1996, o regime sionista adota uma política de eliminação dirigida aos militantes do Hamas. Assim como outros membros do partido, o líder das Brigadas Al-Qassam, Yahya Abd-al-Latif Ayyash, foi assassinado pela Shin Bet (o Serviço de Segurança Interna de Israel, análogo ao FBI dos Estados Unidos). No funeral de Yahya Ayyash, compareceram em torno de 100 mil palestinos, demonstrando todo apoio que o Hamas tem da população. A liderança das brigadas armadas seria transferida para Salah Shehade, que havia formado, em 1986, uma rede de células de resistência dos Combatentes Palestinos. 

Em 18 de setembro ano de 2000, eclode a Segunda Intifada, ou Intifada Al-Aqsa. O estopim, dessa vez, foi a visita do então deputado Ariel Sharon ao Monte do Templo, território sagrado onde ocorreu a chacina de dezessete palestinos pela polícia sionista em 1990. O Hamas e os demais grupos armados inclusive ligados ao Fatá promoveram inúmeros atentados contra alvos israelenses, a novidade foi a utilização de foguetes, o que indica a relação do Hamas com Hesbolá – partido que também possui brigadas armadas e que acabava de derrotar Israel no sul do Líbano. 

Em 22 de março de 2004, o xeique Ahmed Yassin, que foi libertado pela segunda vez por meio da troca de dois agentes do Mossad capturados em tentativa frustrada de assassinar um líder do Hamas por autoridades da Jordânia em 1997, seria assassinado pelo regime sionista depois de fazer uma proposta de cessar-fogo por 10 anos. O líder espiritual do Hamas buscou negociar um governo palestino na Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental – sem exigir o direito dos refugiados de retornar à Palestina, deixando para as gerações futuras. O assassinato de Yassin resultou do disparo de um míssil por um helicóptero no momento de realizar a oração do Farj, a primeira de cinco obrigatórias a partir do amanhecer. O ataque também deixaria seus guarda-costas mortos e transeuntes, 200 mil palestinos compareceram ao seu cortejo fúnebre em Gaza expressando, mais uma vez, o apoio do povo ao Hamas.

No mesmo ano, em 11 de novembro, Yasser Arafat, que foi colocado numa solitária em Ramallah por dois anos até sua morte pelo regime sionista. Depois do início da Segunda Intifada, Israel havia paralisado os fundos para o Fatá e também sabotado os Acordos de Oslo. Arafat faleceu após um coma e não se sabe ao certo as causas da morte.

A revolta dos palestinos perdurou até 8 de fevereiro de 2005, quando ocorreu a Conferência da paz de Sharm el-Sheikh, realizada na Província do Sinai do Sul (Egito). O saldo de mortos no conflito foi de aproximadamente 5 mil palestinos e cerca de mil israelenses. Além disso, Israel prendeu em torno de 7.366 palestinos e destruiu cerca de 3.700 residências de famílias palestinas. 

Um semestre antes das eleições para o legislativo em 2006, Ariel Sharon, neste momento primeiro-ministro de Israel, retira as tropas sionistas de Gaza. Depois de boicotar as eleições presidenciais de 1996 e de 2005, o Hamas decide disputar vagas para o Congresso. O imperialismo e Israel buscam de todas as formas impedir a vitória do Hamas e, apesar de todo financiamento ao Fatá, o objetivo fracassa. O Hamas se torna o partido majoritário no parlamento conquistando 76 de um total de 132 cadeiras, contra 43 ocupadas pelo Fatá. 

A vitória acachapante do povo palestino sobre imperialismo sofre um revés, os Estados Unidos e União Europeia não aceitam o resultado e Israel. Além de banir as eleições para evitar que o Hamas conquiste também a presidência, indica de maneira ditatorial o Fatá como autoridade palestina. Após as eleições, o Hamas havia proposto novamente uma trégua de 10 anos e reconhecimento do território palestino. Mesmo em rota de colisão com Fatá, o Hamas havia chegado a um acordo sobre as eleições, mas o imperialismo não permitiu o pacto. Os partidos voltam a se chocar e o Fatá termina expulso da Faixa de Gaza e sua autoridade ficaria restrita à Cisjordânia. Evidentemente esse fato obriga o regime sionista a suspender os repasses financeiro para os palestinos na Faixa de Gaza, isso porque o Hamas se tornar autoridade legítima dos palestinos.

A inédita operação Dilúvio Al-Aqsa

É neste contexto que ocorre a vitoriosa operação Dilúvio Al-Aqsa, na qual a coalizão de organizações armadas liderada pelo Hamas, pela primeira vez na história, faz com que cerca de 3 mil foguetes furem a defesa de Israel. Os ataques contra alvos militares e estratégicos do Israel se deram principalmente em cidades no entorno da Faixa de Gaza, como Ashkelon, e ao logo da costa com Mar Mediterrâneo principalmente na região do Sharon, que compreende a capital Tel Aviv, mas também Herzliyya, ao norte do Distrito de Tel Aviv, e Gedera, no Distrito Central, ao sul de Tel Aviv.

A operação executada no dia 7 de outubro deste ano expôs a fragilidade da defesa de Israel. Diante da derrota, o governo de Benjamin Netanyahu decidiu lançar bombas deliberadamente sobre os civis palestino desde então. O regime sionista cometeu vários crimes de guerra como a utilização de fósforo branco, também emboscadas a refugiados, além de corte do fornecimento de energia elétrica e água, bombardeou armazéns de alimentos. Mais de 12 mil palestinos foram assassinados, dos quais mais de 5 mil eram crianças, que junto com as mulher correspondem a mais de 70% deste total.

Apesar dessa toda essa destruição principalmente na região norte da Faixa de Gaza, em terra, os números são muito favoráveis para o Hamas, tendo abatido dezenas de tanques – somente na última quarta-feira foram 20. Quanto mais tempo o Hamas resistir, mais perto estará a sua vitória e de toda população oprimida do mundo. É preciso que os países árabes apoiem militarmente os palestinos para acabar de uma vez com a ocupação sionista, as organizações populares de todo mundo devem sair às ruas em solidariedade à Palestina e apoio ao Hamas. Os setores oprimidos devem exigir de seus governos a ruptura imediata das relações com o estado sionista, além da expulsão de todas os representantes de Israel.

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