Prestes a embarcar para China, na tarde desta segunda feira (10), Lula segue se distanciando cada vez mais do imperialismo em sua política externa.
Nos dias que precederam a viagem, uma declaração conjunta de apoio à paz e pelo fim da Guerra na Ucrânia já vinha sendo negociada entre o presidente Lula e seu homólogo Xi Jinping.
Os acertos finais do texto, e sua eventual assinatura devem acontecer no dia 14 de abril, quando do encontro entre os dois presidentes. É importante lembrar que um dos pontos defendidos pela China é de que não haja, no texto, nenhuma referência de que Rússia seja o agressor.
Não é de hoje que Lula vem adotando a política pelo fim da guerra na Ucrânia. Esta foi sua política desde o princípio.
A esquerda pequeno-burguesa viu e continua vendo isto como uma prova de que Lula seria uma serviçal do imperialismo.
Contudo, essa posição não poderia ser mais equivocada, pois o imperialismo já deixou claro que sua posição não é pela paz, mas pela continuidade da guerra até que a Rússia saia derrotada.
No que diz respeito à atuação do Brasil como mediador do conflito, por exemplo, o governo norte-americano já deixou claro que Lula teria que reconhecer a Rússia como o único agressor no conflito. E, desde o começo da guerra, o presidente vem fazendo o contrário, jogando a culpa também em Zelensky e no imperialismo.
Em outro episódio que deixa claro que Lula está cada vez mais distante dos Estados Unidos e de sua política imperialista, o presidente expôs parte de seu plano de paz, sugerindo que o governo ucraniano abrisse mão da região da Crimeia e também de fazer parte da OTAN. Isto foi dito na última quinta-feira (6), em um café da manhã com jornalistas.
“Putin não pode ficar com o terreno da Ucrânia. Talvez se discuta a Crimeia. Mas o que ele invadiu de novo, tem que se repensar. O Zelensky não pode querer tudo. A Otan não vai poder se estabelecer na fronteira [com a Rússia]”
É um posicionamento que está em direto conflito com a política imperialista. Colocar a Ucrânia na OTAN foi justamente a causa inicial da guerra. Essa medida agressiva do imperialismo obrigou a Rússia a se defender iniciando uma Operação Militar Especial há pouco mais de um ano.
A declaração do presidente Lula não é coincidência. Vem pouco tempo após a visita de Celso Amorim (chefe da assessoria especial da Presidência) a Vladimir Putin. Cumpre frisar que, em meio ao conflito na Ucrânia, quase nenhum conselheiro, assessor ou chanceler está sendo diretamente recebido por Putin, o que demonstra um sinal de alinhamento político entre os governos brasileiro e russo. Por conseguinte, cai por terra a tese de que Lula seria um serviçal do imperialismo.
Na esteira desses acontecimentos, o governo Russo retirou restrições às importações de carne bovina brasileira, originadas do Pará, por ocasião de um registro de “mal da vaca louca”.
Voltando à China, a viagem do presidente Lula ao país asiático e a perspectiva do fortalecimento das relações comerciais e políticas é um passo adiante do Brasil em direção à sua independência perante o imperialismo.
Sendo a China o nosso maior parceiro comercial há mais de uma década, com o progressivo enfraquecimento dos EUA, essa relação tende a se fortalecer. Tanto é assim que, há cerca de uma semana, os governos brasileiro e chinês chegaram a um acordo para o uso do Yuan (moeda chinesa) em transações comerciais.
Esta é mais uma medida de política externa do presidente Lula que entra em contradição direta com o imperialismo, pois está na contramão da dolarização da economia mundial, pilar da especulação financeira, a qual, por sua vez, é um dos pilares do imperialismo.
Com o fortalecimento das relações com a China, o Brasil não poderá adotar política dos EUA em relação a Taiwan. Em outras palavras, mais outra situação de enfrentamento.
No decorrer dos cem primeiros dias de seu terceiro mandato, Lula já deu várias outras demonstrações de não ser servil ao imperialismo, pois o governo brasileiro:
• Recusou-se a fornecer armas à Ucrânia, para que o imperialismo continuasse a lutar contra a Rússia;
• Não condenou a Nicarágua na ONU, por violações aos direitos humanos opositores agentes do imperialismo;
• Recusou-se a assinar declaração da Cúpula da Democracia da ONU, condenando a Rússia pela guerra da Ucrânia;
• Votou a favor da investigação do atentado ao gasoduto Nordstream;
• Criticou a acusação de uso de armas químicas pelo governo sírio contra a própria população, emparedando o imperialismo na ONU.
Estes são os fatos. Eles demonstram claramente que Lula não é um capacho do imperialismo. Até quando a esquerda pequeno burguesa irá insistir nessa tese e guiar sua política por ela? Até vir um novo golpe de Estado? Irão apoiar novamente, assim como fizeram em 2016, contra Dilma? O tempo dirá.