Em 07/06/2001 falecia, com mais de 90 anos, o político boliviano Ángel Víctor Paz Estenssoro, quatro vezes presidente do país. Estenssoro foi um político de diversas faces, tendo transitado do nacionalismo ao neoliberalismo. O estudo de sua atividade política é fundamental para a compreensão das tendências políticas dos últimos anos, bem como da influência do imperialismo na política doméstica dos países latino-americanos.
Estenssoro é filho da pequena burguesia boliviana, nascido em 1907, entra para a política na década de 1940, quanto funda o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), que sera o principal partido da Bolívia durante décadas. Torna-se ministro da economia do governo em 1941, também participou do gabinete do governo de Gualberto Villarroel, este governo é derrubado e o Villarroel morto enforcado em um poste, Víctor Paz vai ao exílio, mas mantém o controle sobre o partido, que estende sua influência sobre os setores operários, camponeses e indígenas.
Em 1951, do exílio, ganha as eleições para presidência pelo MNR, de 1952 à 1956 estabelece um ciclo de desenvolvimento nacionalista na Bolívia, ampliados os direitos da classe trabalhadora, redistribuiu-se a terra, extinguiu-se o latifúndio em terras altas e ampliaram-se os direitos políticos para os setores indígenas excluídos. Contudo, a presença dos EUA já ai se encontrava, como na reorganização do exército com apoio Ianque.
Sua segunda presidência ocorreu de 1960 a 1964, marcada já pelo enfrentamento entre o governo e os sindicatos, a COB (Central Obrera Bolíviana). Paz impõem a possibilidade de reeleição, contra a esquerda que ainda estava em sua base. Assim vence as eleições de 1964, junto de seu vice, o general Hugo Banzer, que poucos meses depois dirigiu um golpe contra Paz que novamente se exilou. Estabeleceu-se um ciclo de ditaduras militares que duraram 18 anos. Candidatou-se novamente no momento de intensa crise política, nas sucessivas eleições de 1978,1979,1980.
Volta a disputas eleições em 1985, já com quase 80 anos, vence com apoio do partido do general Banzer e estabelece uma espécie de ditadura neoliberal, o oposto do que se esperava dele, isto é, de uma política nacionalista burguesa. Destruiu a empresa estatal mineira, liberalizou a economia, abrindo-a completamente ao capital internacional, destruiu direitos trabalhistas e estabeleceu uma dura perseguição aos sindicalistas e ao movimento sindical e de esquerda como um todo.
O plano neoliberal radical foi realizado através do Decreto 21.060, os resultados não tardaram a aparecer, a pobreza crescia a olhos visto e a crise somente aumentava. Fora considerada uma das maiores traições já vistas, que um político burgues tradicional, vinculado ao toda sua carreira ao nacionalismo, mudasse radicalmente após a eleição e implementasse o exato oposto daquilo que defendia de manira tão radical.
Tal fato mostrou claramente que a política do nacionalismo burgues é absolutamente insuficiente diante do neoliberalismo e que os políticos burgueses, mesmo do nacionalismo, ante ao fenômeno da segunda metade do século XX, o neoliberalismo, tendem a capitular completamente diante da política do imperialismo.