Jeferson Miola, em coluna para o Brasil 247, encarna o típico fascista de classe média que exige do Estado a força da Lei contra adolescentes infratores. Mas ele não é fascista, é um articulista de esquerda. O que faz, então, para se assemelhar a um troglodita de direita?
Pede punição contra adolescentes de classe média que, na escola, proferiram insultos racistas e preconceituosos contra nordestinos e pobres ao atacar verbalmente colegas que teriam defendido voto em Lula.
“Adultos e, também, crianças e adolescentes iniciadas pelos próprios pais na prática desses crimes monstruosos como o racismo, o fascismo e o nazismo, estão sujeitos à Lei”, brada o colunista, após afirmar: “professar ideias racistas, fascistas e preconceituosas não é liberdade de expressão, porque é crime. É crime tipificado no direito internacional e na legislação nacional.”
É uma nova modalidade de crime. O “fascismo juvenil”, nas palavras do autor. Se formos considerar que não há discussão, que tal ou qual manifestação de opinião não é liberdade de expressão porque seria crime, então aqueles que reivindicavam o direito à liberdade de expressão séculos atrás eram criminosos, porque transgrediram as leis da época. A defesa do Estado, da Lei e da Ordem, é reacionária. Por isso mesmo é que sempre foi uma política da direita e da extrema-direita, não da esquerda.
Mas o tema desta polêmica não é a liberdade de expressão, já tão abordado por este diário. O tema é a atuação parcial do Estado contra inimigos políticos de um determinado setor da sociedade. É o que está pedindo Miola contra os “fascistas juvenis”.
A direita diz: “se o menor pode trepar e ser pai ou mãe, então também deve assumir as responsabilidades por qualquer crime que tenha cometido, igual a um adulto.” A esquerda responde que é uma questão social, principalmente econômica e educacional. Se aos menores não é concedida uma condição para o seu pleno desenvolvimento, inclusive educacional, até que tenham cumprido a idade que lhes torna responsáveis pelos seus atos, os 18 anos, então algo está errado ─ não tanto com eles quanto com o Estado que lhes deveria fornecer essas condições.
Com os “jovens fascistas” ocorre o mesmo. Foram justamente as instituições do Estado as maiores responsáveis pela ascensão do fascismo, com toda a sua propaganda, com as leis monstruosas aplicadas nos últimos anos, com a repressão policial, com a imposição de políticos de extrema-direita, com a campanha contra as greves, os sindicatos, os movimentos sociais, a esquerda e o PT e ─ o que mais nos interessa aqui ─ com a infiltração de suas concepções dentro da própria esquerda brasileira.
E o pensamento e as palavras agressivas de Miola são um reflexo disso. “Adolescentes em conflito com a Lei não são impunes. Devem ser punidos com base na Lei, sobretudo os adolescentes fascistas”, diz. É pedir para o Estado praticar perseguição política. A direita sempre fez isso contra a esquerda. Aqui, ao invés de pedir punição aos “negrinhos” ladrões de bicicleta, pede-se aos “jovens fascistas”.
A esquerda está adotando a linguagem e os métodos da direita mais reacionária. O mesmo ocorre quando chama de “terroristas”, “baderneiros”, “criminosos” e “arruaceiros” aqueles que exercem seu direito democrático à manifestação só porque não concordamos com suas reivindicações, como os casos da semana que passou. Inclusive falam do “direito de ir e vir”, a mesma carta usada pela burguesia e pela direita para atacar e justificar a repressão a grevistas e sem terra que fecham estradas.
A esquerda caiu em um pântano repleto de areias movediças do qual não consegue escapar. O medo do “fascismo” provoca-lhe tamanha histeria que acaba por alimentar o verdadeiro fascismo: a máquina repressiva do Estado. E mais: pedindo repressão a enormes setores sociais, como caminhoneiros e estudantes, de forma completamente irracional, sem apresentar uma política progressista e independente, ela vai se tornando cada vez mais isolada e joga amplas parcelas da população no colo dos fascistas de verdade.
É uma política cega e suicida resultante da completa adaptação da esquerda ao regime golpista e ao Estado capitalista cujo regime se fecha cada vez mais.