A enorme repercussão em torno de uma fala do youtuber Monark traz novamente à superfície o quanto a esquerda deposita esperanças no Estado e em quem o controla, a classe social dominante dentro do capitalismo, a burguesia.
Diante de uma defesa abstrata de que a liberdade de expressão deveria ser tal que até um partido nazista deveria ter o direito de se registrar, o youtuber foi rotulado como nazista por lobistas judeus, capitalistas que patrocinavam o Flow Podcast, “celebridades” diversas, políticos da direita e inclusive muitos esquerdistas, numa grotesca frente “antifascista” de faz de conta, que inclui ninguém menos do que o ilegítimo presidente Jair Bolsonaro, além de todo o STF, MPF, PGR e o aparato repressivo e burocrático do Estado.
A articulação em torno dessa improvável “aliança” faz necessário que se discuta essa fé inabalável da esquerda pequeno-burguesa no regime político burguês. Uma fé digna dos religiosos mais fervorosos, inabalável diante de sucessivas provas que contrariam seus preceitos básicos. Em primeiro lugar, desde sempre a esquerda nunca pode contar com a burguesia quando confrontada com o fascismo. Em todos os países onde o fascismo chegou ao poder, isso ocorreu em acordo com a burguesia, inclusive seus setores ditos “democráticos”. Foi o caso inclusive do fascismo alemão, o nazismo.
Enquanto o partido comunista alemão, guiado pela burocracia stalinista, igualava nazistas aos social-democratas, os capitalistas alemães pressionaram o presidente Hindenburg a nomear Hitler como chanceler do país, num golpe de Estado operado através de uma manobra por dentro do regime político. O que se seguiu foi uma ditadura que condenou milhões de trabalhadores, e diante da repercussão atual vale lembrar: não apenas judeus. Para além do antissemitismo, Hitler pregava abertamente o combate ao comunismo e aos comunistas, o que agradava enormemente a burguesia mundial.
A vitória do golpe militar no Brasil em 1964, inaugurou um período de governos fascistas no país. Novamente, tudo por dentro do regime político burguês. A esquerda brasileira foi então colocada na ilegalidade, torturada e assassinada. Tudo isso com o aval da burguesia imperialista, que inclusive providenciou treinamento de tortura para os militares brasileiros. Para piorar, o fim da ditadura militar manteve inabaladas as estruturas do regime político, que segue absolutamente antidemocrático nos dias de hoje.
Mais recentemente, durante o frenesi da “luta contra a corrupção”, muitos esquerdistas atuaram para dar um verniz “progressista” ao fortalecimento da repressão estatal. O saldo dessa parceria foi o chamado “Mensalão”, que perseguiu lideranças do PT, e a “Lava Jato”, que foi peça fundamental no golpe de Estado de 2016, na prisão de Lula e na consequente fraude nas eleições de 2018. Atrás de uma “boa intenção”, no melhor dos casos, essa esquerda ajudou a preparar o terreno para um crescimento do autoritarismo do regime político no Brasil, que recaiu principalmente no maior partido da esquerda nacional e colocou no governo federal um entusiasta do fascismo.
Depois de tantos casos recentes de fracassos nessa “aliança” da esquerda com o regime político burguês, a fé dessa esquerda segue firme. Para combater o nazismo, querem que o STF, o Congresso e o Ministério Público entrem em cena para linchar um ou outro personagem menor na luta política. Com isso, conseguirão novamente apenas a violação dos direitos democráticos da população, que inevitavelmente se voltará contra a própria esquerda.