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Felipe Maruf Quintas

Mestre e doutorando em Ciência Política na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Multilateralismo e Soberania

Uma Era de Ouro nas Relações Internacionais

Vivemos uma Era de Ouro nas relações internacionais, onde a janela de oportunidades para o protagonismo dos países há muito tempo não era tão ampla.

multilateralismo 2

A imediaticidade das tensões e dos conflitos e a absoluta imprevisibilidade do futuro induzem os observadores a enxergarem seu próprio tempo pelo prisma da negatividade. Disso resulta que, em geral, a sempre almejada Era de Ouro encontra-se, quase que obrigatoriamente, no passado ou no futuro, mas, raramente, ou mesmo nunca, no presente.

No plano das relações internacionais, o mundo atual, à primeira vista, assemelha-se a tudo menos a uma Era de Ouro. Pandemia, agitações sociais, escalada de extremismos ideológicos, Grande Reset, tudo parece compor um cenário desanimador e absolutamente hostil a qualquer laivo de otimismo.

Contudo, sob um olhar mais objetivo, tais problemas parecem menores quando cotejados com as imensas possibilidades que se descortinam na atual quadra histórica.

Na verdade, esses problemas são os efeitos colaterais da transição, ainda longe de concluída, do centro geoeconômico mundial do Ocidente norte-atlântico ao leste asiático.

O processo de enfraquecimento do imperialismo anglo-saxão e de fortalecimento da China em íntima parceria com a Rússia engendra uma rara situação mundial onde nenhuma potência é suficientemente forte para estabelecer sua hegemonia e reconfigurar o plano internacional segundo seus próprios interesses.

As relações mundiais de poder tornam-se, desse modo, mais maleáveis, abrindo o caminho para a emergência de potências regionais, entre elas Índia, Turquia, Indonésia, África do Sul e Nigéria, outrora meros apêndices das economias norte-atlânticas hoje decadentes.

Ao contrário da Guerra Fria, onde havia apenas duas superpotências, e da década de 1990, quando os EUA assumiram a posição de “lonely superpower”, o mundo contemporâneo apresenta uma clara tendência para a multipolaridade e, portanto, para relações mais abertas e dinâmicas entre os países, com maior espaço de negociação para cada qual fazer valer seus interesses sem que isso signifique prejuízo dos demais.

O Brasil, que sempre se vinculou, em diferentes graus, de maneira periférica ao Atlântico Norte, apresenta, hoje, pelas suas dimensões territoriais e demográficas, pela sua abundância em recursos naturais e pela liderança continental da sua infraestrutura físico-industrial, todas as condições materiais para fortalecer o seu Poder Nacional e ampliar sua projeção internacional na América do Sul e no Atlântico Sul, transformando-o em seu lago geopolítico, bem como no mundo, inserindo-se de forma soberana nas negociações internacionais e nas relações entre as potências.

Mas, para isso, precisará de um projeto nacional que defina muito claramente os seus objetivos nacionais permanentes e transitórios, bem como os meios para alcançá-los. A alvissareira abertura de possibilidades de ascensão geopolítica no mundo atual só poderá ser devidamente aproveitada se o País souber para onde ir e encontrar os meios para tanto. A base de todo projeto e de todo delineamento de objetivos e estratégias é a visão que se tem do País. Que “certa ideia” de Brasil fazemos nos dias que correm? Como nos enxergamos e o que esperamos de nós mesmos enquanto Nação?

Infelizmente, como nunca antes em nossa história, o Brasil, justamente numa conjuntura internacional tão favorável, encontra-se desprovido de sentimento de identidade e de orientação estratégica, incapaz, portanto, de definir seus próprios interesses nacionais, assumindo uma posição passiva num mundo marcado pelos soberanismos. O Brasil que, no auge da hegemonia britânica, no século XIX, rompeu diplomaticamente com Londres, e que, no auge da hegemonia estadunidense, na década de 1950, rompeu com o FMI, hoje, em plena baixa história do Atlântico Norte, sujeita-se, de maneira ineditamente vergonhosa, aos ditames militares-comerciais e financeiros dos EUA e das grandes corporações do eixo Wall Street-City, sem nenhuma compensação e reciprocidade.

Vivemos uma Era de Ouro nas relações internacionais, onde a janela de oportunidades para o protagonismo dos países há muito tempo não era tão ampla. Contudo, somente estarão aptos a se beneficiarem os países que souberem para onde ir e puderem manobrar em defesa dos seus interesses. A Questão Nacional, longe de ter se diluído na globalização, tornou-se um imperativo de sobrevivência e sucesso na ordem global. Os países que formularem seus próprios projetos e tiverem a coragem de persegui-los triunfarão. Os que abdicarem de iniciativa e se submeterem a forças exógenas serão devorados. O jogo está aberto. Cabe a nós, como Nação, jogá-lo, em vez de continuarmos sendo jogados.

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*As opiniões dos colunistas não expressam, necessariamente, as deste Diário.

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