A burocracia de esquerda, a cada dia que passa, desde antes do golpe de 2016, inventa mil e uma teses mirabolantes de pseudo-manobras políticas, sempre em busca da subserviência dos explorados à política da burguesia, para enfim conseguir obter alguns “êxitos”. Essa política ilusória e capituladora, tem nos levado a uma enxurrada de derrotas.
Na campanha eleitoral isso tem se tornado mais visível ainda. Lula, que lidera todas as pesquisas eleitorais desde antes de 2018, comprovando ser a figura política mais popular do País, teria de se submeter à humilhante aliança com os golpistas falidos que estão sendo varridos do cenário político desde o golpe.
O primeiro fracasso, nesse sentido, foi a chantagem de colocar Geraldo Alckmin como vice na chapa de Lula. Alckmin não agregou um voto sequer, porque seus eleitores votam agora no Bolsonaro. Fato é que o candidato bolsonarista em São Paulo ficou como primeiro colocado no primeiro turno para o Palácio dos Bandeirantes, e a votação de Lula se manteve dentro daquilo que poderia alcançar sendo tocada como foi, ou seja, a frio.
Esse processo amarrou todo o discurso e a prática política de combate às medidas do golpe de Estado, que certamente jogaria lenha na fogueira da polarização, e poderia agregar mais votos para o ex-presidente Lula, ao se propor resolver os problemas concretos que afligem os trabalhadores, que perpassam fundamentalmente por efetuar denúncias como a Operação Lava-Jato enquanto uma conspiração de traição nacional dos agentes políticos internos que se submeteram ao Departamento de Estado dos EUA, uma nação estrangeira que objetivava destruir nossa economia e nossas empresas estratégicas; das reformas trabalhista e da previdência; a ampliação da terceirização; as privatizações da Petrobrás, Eletrobrás e Embraer; a destruição da ciência e tecnologia, do programa habitacional e das obras de infraestrutura; etc.
Disseram que Lula deveria fazer campanha de casa, sob um suposto argumento de zelar pela segurança do ex-presidente. Depois, inventaram que os atos da campanha no primeiro turno deveriam ter revista na entrada; proibição de determinados materiais e barreiras de contenção, o que se comprovou um completo fiasco, evitando atos de massa e o envolvimento político da militância e do povo durante a campanha.
A burocracia de esquerda, ao invés de fazer uma mobilização junto aos sindicatos, ao movimento popular do campo e da cidade, nos assentamentos, acampamentos, ocupações, bairros populares, sindicatos e locais de trabalho, para buscar o voto daquele trabalhador e trabalhadora enganada pelo discurso bolsonarista, preferiu fechar acordos com figuras decadentes como Marina Silva, Kassab, Eduardo Paes e César Maia.
Quando o PT tem a oportunidade de enfrentar frontalmente as atrocidades cometidas pelos golpistas e o bolsonarismo (que também é golpista), o mesmo oscila e não se posiciona de maneira firme, não explora as nítidas debilidades do inimigo que, ao contrário daquilo que muitos pensam, é extremamente frágil e que poderia ser varrido do mapa se as direções das organizações populares tomassem a decisão de fazer isso. Essa questão da fragilidade se comprova no fato de que, em seis anos, os golpistas não conseguiram estabilidade política, justamente porque apesar de desorganizadas e desorientadas, as organizações populares e sua base social são enormes.
Agora, na magnífica mente desses burocratas, Lula deveria absorver as proposições de figuras fracassadas e medonhas, como Ciro Gomes e Simone Tebet, que não possuem votos e que afundaram nas eleições junto com o bloco de poder do qual fazem parte, que é o bloco que controla o regime político desde 1988. Chegaram a adotar uma “recomendação” de que o PT deveria abandonar o vermelho, como se os latifundiários, os empresários e a burocracia estatal, com propensões ao fascismo, vão mesmo votar em Lula porque o mesmo vai usar uma camisa branca e fazer apelos pela paz.
A proposta de que se use branco nas manifestações é uma posição de classe, um obstáculo, que se apega em qualquer tipo de desculpa fajuta para evitar a inserção dos trabalhadores na atividade política, e não deixar cair água no chopp da conciliação com a ala decadente dos representantes políticos da burguesia.
O voto a ser disputado tem de ser o dos elementos da classe operária e da população mais pobre que estão confusos, sendo enganados pela extrema-direita e todo seu aparato político. São votos que estão nas periferias, e não os votos da classe média que nunca votou e nunca vai votar no PT.
Os sucessivos fracassos dessa burocracia não deixa outra alternativa para o campo democrático-popular, nacionalista e revolucionário, que é a de atropelar esse tipo de posição através de denúncias políticas das capitulações e articulando ações alternativas por fora da máquina burocrática, criando verdadeiras condições de superação do bolsonarismo e de derrota do conjunto do golpe de 2016.
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