Com o fim da eleição, a polarização não se desfez, e o cenário político não está, como a esquerda pequeno-burguesa — sempre paralisada — esperava. Logo após a vitória de Lula, Bolsonaro não fez um pronunciamento, e parte de seus apoiadores, os caminhoneiros em destaque, tomaram às estradas e estabeleceram bloqueios pelo país. O ministro do STF, Alexandre de Moraes, na noite de segunda-feira (31), determinou que a polícia rodoviária federal (PRF) deveria desbloquear as vias federais, municipais e estaduais, além de poder prender e multar os responsáveis. O STF depois referendou a decisão.
Frente ao fato, a imprensa, os governadores reeleitos, políticos derrotados na eleição desde a direita tradicional e extrema-direita, à esquerda pequeno-burguesa e passando pela imprensa golpista desataram num frenesi repressivo. Chamados por mais bombas em cima desses trabalhadores que protestam de maneira equivocada, mas legítima. O discurso de boa parte da esquerda nem mesmo se incomodou por trocar os chavões da imprensa golpista, inimiga dos trabalhadores e comprometida com a destruição do país e a repressão. Os caminhoneiros são acusados de baderneiros, terroristas, arruaceiros. Acusações de protesto “político”, historicamente usados para reprimir o movimento operário também se fizeram presentes. Mas, por quê?
A esquerda pequeno-burguesa, ao não se mobilizar, não ter aproximação qualquer com o movimento operário, não confia na classe operária, não confia nos trabalhadores como sendo a real solução para os problemas políticos. Nesse sentido, ao invés de saber que, caso se apresente uma tendência de fato golpista na situação política, a resposta seria mobilizar a base operária, camponesa contra o golpe, essa ala da esquerda se aferra às instituições, estas sim, golpistas. A esquerda pequeno-burguesa, ao invés de colocar a necessidade de apresentar seu programa que irá beneficiar também os caminhoneiros para eles, chama a repressão estatal.
A polícia rodoviária federal, a polícia militar e até guardas municipais já foram mobilizados. O medo de um golpe leva a esquerda, desorientada, a se prender aos golpistas reais, a se sujeitar a eles de joelhos — os arautos da repressão, defendidos como democratas —, e pedir para que “por favor, parem o golpe em curso”. Houvesse de fato um golpe em curso, o STF, os governadores e todos os golpistas não estariam em fileira cerrada contra os que, confusos, tomaram às ruas contra os próprios interesses.
Esse medo já levou a esquerda a defender o poder de censura do ministro Alexandre de Moraes, que estabeleceu uma verdadeira ditadura de opinião no período anterior à eleição. Levou esse setor a apoiar Joe Biden, o senhor da guerra, contra o dito mal maior Trump. Esse mesmo mal menor foi o responsável pelo golpe de 2016 no Brasil, e hoje organiza a 3a Guerra Mundial, enquanto destrói a economia europeia. A política do medo, da histeria, não é uma política, é uma falência total e completa da política dessa esquerda. Esse medo, provocado pela própria propaganda da burguesia, arrasta uma ala grande da esquerda a repetidamente, tal qual agora faz um setor dos caminhoneiros, se colocar contra os seus interesses próprios, e os interesses da classe trabalhadora em geral.