Lula venceu na capital paulista no primeiro e no segundo turno. Foi uma das 11 capitais onde ele obteve vitória sobre Bolsonaro, que saiu-se vitorioso em 16.
Além de São Paulo, o petista venceu em Porto Alegre, Salvador, Aracaju, Recife, João Pessoa, Natal, Fortaleza, Teresina, São Luís e Belém.
Ele obteve 53,54% dos votos, contra 46,46% de Bolsonaro. Lula venceu em 35 zonas eleitorais da capital, e Bolsonaro em 23. Entre as cidades onde o ex-metalúrgico obteve a maioria dos votos constam São Bernardo do Campo, Cotia, Franco da Rocha e Francisco Morato, na Grande São Paulo. Na capital, Lula foi predominante no chamado “fundão” da Zona Sul, onde estão localizados, por exemplo, Grajaú e Parelheiros, alguns dos redutos da classe operária mais pobre da cidade.
A vitória na cidade mais industrializada do País e, dentro dela, nos bairros mais pobres, é uma evidência de que a classe operária mais avançada do Brasil votou em Lula. Isso é inegável.
Esse fato faz cair por terra o mito de que o sudeste seria “fascista” ou pelo menos “de direita” somente porque, em um quadro geral nos estados a direita sai-se vencedora tradicionalmente ─ como ocorreu ontem com Bolsonaro, ao vencer em todos os estados do sul e do sudeste com exceção de Minas Gerais.
Afinal de contas, a classe operária industrial e sua vanguarda são o exato oposto do fascismo, que é um instrumento da burguesia utilizado precisamente para subjugar o proletariado.
Em menor medida, o mesmo pode se falar de Porto Alegre, a cidade mais industrializada do sul do País.
O mito do sudeste e do sul fascistas foi criado pela própria direita para dizer que os estados mais importantes e avançados do Brasil rejeitam o PT. Contudo, a esquerda, como sempre, atua como caixa de ressonância desse discurso, em que, ao mesmo tempo, exalta o nordeste como sendo o bastião do socialismo.
Obviamente que o povo do nordeste tem crédito por ajudar na vitória de Lula, mas isso se deve fundamentalmente às políticas corretas (embora insuficientes) dos governos do PT com relação à transferência de renda para os setores mais pobres da população, grande parte deles concentrados no nordeste do Brasil.
Enquanto isso, no sul e sudeste, onde o PT nasceu e se consolidou, o partido reduziu o seu índice de votação e foi ultrapassado pela direita por dois motivos: 1) a força da burguesia nesses estados, que mantém o controle do aparato estatal e manipula as eleições com um poder maior para mantê-las sob controle; 2) a falta de uma política do PT para a classe operária industrial.
Por isso o terceiro governo Lula precisa focar, além de transferir renda aos mais pobres e melhorar a vida dos nordestinos, em aumentar os direitos trabalhistas, recuperar a CLT e valorizar o salário mínimo e o emprego digno do setor mais avançado dos trabalhadores, que é a classe operária urbana, concentrada principalmente no sudeste do País.