Um dos maiores adversários da Seleção Brasileira nas copas do mundo é a imprensa nacional. Melhor seria dizer imprensa colonial, pois sua função é transmitir aqui as ideias produzidas nos países imperialistas.
E sobre o futebol, essas ideias são escancaradamente anti nacionais. Temos a impressão que como o futebol é um assunto mais popular, onde cada brasileiro tem um palpite sobre qualquer coisa, as opiniões da imprensa aparecem como casuais, sem conteúdo político. Explicando melhor: se a imprensa defende a privatização da Petrobrás e a entrega do petróleo brasileiro, ficará claro que se trata de uma política entreguista. Já no futebol, os absurdos falados aparecem apenas como meras opiniões.
Assim como no caso do petróleo, as posições da imprensa sobre o futebol tem o mesmo conteúdo entreguista. E aqui, não se pode confundir a propaganda superficial ufanista de uma parte da imprensa – principalmente a televisiva – com o objetivo imediato de lucrar com os eventos relacionados ao futebol. A política geral da imprensa, no entanto, é totalmente entreguista.
Na Copa, essa política fica mais escancarada, pois é o campeonato mais importante do mundo, portanto, o momento em que a pressão política e econômica imperialista é mais intensa.
A impressa nacional expressa essa pressão com uma verdadeira campanha contra a Seleção. Isso não é novidade. Há muito tempo, as mesmas ideais são repetidas por jornalistas e cronistas esportivos. Basta conhecer um pouco da história da crônica esportiva brasileira e saberemos que tudo o que é dito hoje já foi falado pelo menos 70 anos atrás.
Sempre que o Brasil é derrotado, essa campanha se intensifica, já que a derrota no futebol parece – apenas parece – corroborar a campanha. Quando o Brasil perdeu a Copa de 50, houve uma avalanche de ideias negativas sobre o futebol brasileiro. Criaram a ideia de que não éramos os melhores. Foi preciso que o Brasil ganhasse em 58 e 62 para que o futebol arte se afirmasse enquanto tal diante do futebol força europeu. Mas mesmo nessa época, com os melhores jogadores da história, a derrota de 66 abriu novamente o esgoto jornalístico contra o Brasil. Em 70, até que o Brasil fosse campeão, os ataques contra a Seleção eram constantes.
Entre 70 e 94, com a sequência de derrotas, ganhou força novamente a ideia de que a Seleção e o futebol brasileiro estavam ultrapassados. Hoje, muitos olham a Seleção magistral de 1982 como uma das melhores do mundo, apesar de não ter vencido, mas na época, a avacalhação foi total. Os jornalistas abutres usaram o fracasso de 82 e 86 para dizer, com ainda mais “autoridade”, que o Brasil deveria copiar os europeus.
Quando o Brasil perdeu em 1998 a final para a França, novamente uma avalanche de elogios aos europeus e avacalhação geral contra o Brasil. O pentacampeonato em 2002 amorteceu as críticas, mas por pouco tempo. Estamos, agora, num período similar ao que vivemos entre 70 e 94.
A imprensa ignora o “óbvio ululante” como dizia Nelson Rodrigues. Essa expressão, embora pareça ser de um torcedor, é muito precisa. Esse óbvio é a habilidade indiscutível do jogador brasileiro, algo inegável pelos números, pela quantidade, pela qualidade, mas também é óbvio para qualquer um que vê o espetáculo. Ele é negado pela imprensa nacional, que está programada para elevar o europeu e rebaixar o brasileiro.
A eliminação do Brasil nessa Copa trouxe à tona as ideias de sempre, requentadas, com cheiro de naftalina, contra o futebol brasileiro. De um modo geral, se pudermos resumir essas ideias em uma só seria assim: “não somos mais o melhor futebol do mundo”.
O esforço para provar essa tese sem base na realidade é tão grande que o Uol/Folha de S. Paulo, quando a Argentina se classificou para a final no dia 13 de dezembro, não perdeu tempo e publicou uma matéria com o título: “Argentina iguala Brasil em número de finais em Copas do Mundo”. Para chegar nessa conta, o jornalista forçou a barra dizendo que na Copa de 50 o Brasil não foi à final porque o regulamento daquele campeonato previa um quadrangular final, em que todos jogam contra todos.
O que chama a atenção não é a realidade da informação, mas o esforço para rebaixar a Seleção. Uma imprensa verdadeiramente nacional poderia dizer, por exemplo, que, a Argentina foi para a final e, se ganhar, ficará a duas Copas de igualar o Brasil. Mas a vontade de avacalhar o futebol brasileiro é tão grande que o jornalista forçou uma informação para elogiar os argentinos.
É interessante também que não dizem que o Brasil foi roubado, que o Brasil foi a seleção que mais sofreu com a violência dos adversários. Apenas que “não somos mais os melhores”. Escondem a realidade para comprovar a tese. Não dizem que, apesar de tudo isso, nenhuma seleção tem mais títulos que o Brasil, nenhuma seleção tem os números que o Brasil tem, liderando em quase todos os quesitos. Não falam porque estão orientados a rebaixar o futebol brasileiro.
O ex-jogador Casagrande, por exemplo, afirmou que a Argentina é a melhor seleção da América do Sul e que o Brasil está “se distanciando das grandes seleções”. Fizemos um artigo sobre essa colocação, mas grosso modo, ambas as afirmações de Casagrande só servem para avacalhar o futebol brasileiro, elas não têm sequer base na realidade, a não ser o resultado específico dessa Copa.
A avacalhação também aparece na tentativa de desvincular o jogador e a Seleção do povo brasileiro. A Folha de S. Paulo publicou matéria, em 4 de agosto deste ano, dizendo que, segundo o DataFolha, a “Copa do Mundo não provoca interesse em 51% dos brasileiros”. Falaram isso em agosto e em novembro e dezembro, durante a Copa, o povo parou para ver o Brasil jogar. É ou não é uma manipulação grosseira da realidade para atacar essa cultura popular brasileira? Ao menos serve para mostrar que essas pesquisas realmente não servem para nada.
A ideia de que o povo não se identifica com a Seleção foi repetida várias vezes, pela direita e pela esquerda pequeno-burguesa. Tudo é parte de uma campanha feroz contra a cultura nacional, o futebol. E por quê?
O motivo é relativamente simples: querem desvalorizar nosso futebol para continuarem vindo aqui para comprar os talentos brasileiros a preço de banana para lucrar na Europa. O Brasil é o País que tem mais jogadores jogando em outros países. E no caso da Copa do Mundo, precisam pressionar os jogadores e o povo para evitar que o Brasil, que tem o melhor futebol do mundo, vença muitas copas, o que seria um prejuízo para os países imperialistas.