Com o término do primeiro turno das eleições, uma das principais dúvidas levantadas na reta final, o papel o principal setor da burguesia golpista em relação ao resultado eleitoral, foi revelada de maneira clara. Com um crescimento exponencial de votos de Jair Bolsonaro e sua base, ficou evidente que, desde o princípio, a burguesia sabia da grande força política da extrema-direita e buscou contê-la por meio das pesquisas eleitorais.
Ao contrário da premissa levantada por setores da esquerda pequeno-burguesa, o resultado revelou que, na realidade, a terceira via estava muito longe de estar morta nas eleições. Pelo contrário, cumpriu, desde o início, um papel fundamental na tentativa do imperialismo em manter o controle sobre o regime político nacional.
“O grande segredo das eleições é que o principal setor da burguesia já sabia desde muito antes que o bolsonarismo iria ganhar as eleições de conjunto” afirmou Rui Costa Pimenta, presidente do PCO em sua análise realizada na terça-feira (04). Além disso, Rui também destacou a tática utilizada pela burguesia durante a campanha: a terceira via só não foi levada às últimas consequências, pois a burguesia percebeu que, ao visar colocar uma candidata como Simone Tebet no segundo turno, sua manobra serviria apenas para tirar votos de Lula e abrir caminho para um maior fortalecimento da candidatura de Bolsonaro.
A terceira via, assim, agiu, por um lado, para conter o rápido crescimento da extrema-direita nacional que busca tomar de assalto todo regime político. Por outro lado, o imperialismo também buscou, a todo momento, colocar a candidatura de Lula atrelada ao “centrão”, impedindo um crescimento também estrondoso da esquerda nas eleições.
Sobre este assunto, em sua análise, Rui frisou que “a polarização deveria levar a um avanço extraordinário da esquerda e do bolsonarismo, onde o PT lançou candidatos próprios foi bem, porém, onde se juntou com a burguesia, perdeu espaço”. Isso ocorre, pois o grande derrotado das eleições foi justamente o centro político do regime, os principais partidos da burguesia golpista e do imperialismo.
A terceira via tem como tarefa principal colocar de forma segura o regime político novamente nas mãos do principal setor da burguesia brasileira e do imperialismo. Isto mostra que, até o último momento, a burguesia trabalhou neste sentido.
Nem Lula nem Bolsonaro são os candidatos escolhidos pelo regime político, ambos, na realidade, revelam a grande desagregação do regime brasileiro e a destruição do centro político, como ficou evidente pelo pior desempenho eleitoral da história do PSDB que, sem nenhum senador, uma mísera bancada de 13 deputados e nenhum governador, perdendo até mesmo depois de 30 anos o estado de São Paulo, tornou-se um morto-vivo da política nacional.
Dessa maneira, o papel da terceira via era fundamental para retomar o controle do regime. No entanto, seu fracasso, como explicou Rui Costa Pimenta, não se deve a uma mera “falta de eleitorado”. Mas sim, uma opção política que visava controlar o bolsonarismo.
Para o segundo turno, as candidaturas da terceira via agora tentam forçar a Lula um compromisso de aliança total ao centrão. A burguesia não quer Lula também, no entanto, vê um maior espaço para boicotar sua candidatura o colocando de mãos dadas aos verdadeiros derrotados nas eleições.
É preciso combater esta política de frente que serve apenas para a derrota da esquerda nas eleições. Se Lula quer vencer, é preciso ver, na ação da extrema-direita, que desvinculando-se do regime político, se ganha mais popularidade entre o povo. É esse o caminho pela esquerda para derrotar o regime golpista.