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Na onda imperialista

PCB também entra de cabeça na campanha imperialista anti-Catar

Esquerda não cansa de repetir aquilo que dita o imperialismo. Os que criticam o Catar são justamente os responsáveis por todas as ditaduras pelo mundo.

Bola Furada

O imperialismo está fazendo um ótimo trabalho ao cooptar boa parte da esquerda brasileira para suas posições. A bola da vez, já que estamos no meio da Copa do Mundo, é o Catar. Que está sendo atacado, agora, pelo PCB. Esse partido é outro que entrou na onda de criticar o Catar em virtude do Mundial, como se pode verificar na matéria estampada em seu sítio: “Copa do Catar manchada de sangue do trabalhador”.

É muito curioso que quando o campeonato acontece em países ricos não se veja tamanha gritaria. Tem sangue de trabalhador espalhado nos quatro cantos da Terra, incluídos todos países ricos. No Catar, que é um país atrasado, não será diferente, portanto, não é preciso esperar a Copa do Mundo para se reclamar de nada. O campeonato, a rigor, não poderia acontecer em nenhum lugar, se a questão for reclamar de direitos humanos.

Segundo a matéria (uma tradução a partir do que publicou a Federação Sindical Mundial): “A designação deste emirado árabe para sediar o evento já estava marcada pela corrupção. São bilhões de recursos pertencentes ao povo do Catar, porque deles é a riqueza que está alojada em seu subsolo”. Certo, em tese, a riqueza pertenceria ao povo catari, no entanto, até onde sabemos, se trata de um país capitalista. E essa regra deveria ser estendida a qualquer povo. As riquezas no subsolo dos Estados Unidos pertencem a quem? E o que dizer da França, Inglaterra etc.?

Atirando para todos os lados

Esse trecho da matéria é particularmente interessante: “o patrocínio dessas empresas [de petróleo?] é sustentado por especulações e negócios dos quais apenas as elites do país árabe se beneficiam. Essa grande massa de capital também serve para sustentar regimes medievais e autocráticos que não hesitam em colaborar com o regime opressor de Israel e as democracias burguesas ocidentais que o endossam”. Não é verdade que apenas elites econômicas e políticas dos países árabes se beneficiem da especulação em torno do petróleo. O grande capital financeiro, o imperialismo, que é quem também dá suporte a Israel, é quem está ficando com o grosso do dinheiro. E esses regimes medievais sempre foram sustentados pelo imperialismo, que também sustentou, enquanto foi conveniente, todas as ditaduras sangrentas militares na América Latina, na Ásia, na África… Portanto, se devemos criticar o Catar, devemos antes criticar quem é o maior beneficiário desse tipo de regime.

Sim, é verdade, “o Catar também é um regime que oprime os direitos básicos das mulheres e das pessoas pertencentes a grupos LGBTI. Não há dúvida de que usarão o evento mundial para tentar limpar a cara de um governo opressor e para se apresentarem ao mundo como defensores da democracia e da integração”. Assim como as mulheres recebem menos do que homens para a mesma função na quase totalidade dos países desenvolvidos. Todos os países e regimes tentam se promover com a promoção de eventos, de jogos. É assim que a coisa funciona, não é uma exclusividade do Catar.

A Arábia Saudita, que é uma monarquia absolutista, praticamente não é incomodada pelo fato de violar os direitos das mulheres e minorias sexuais. E isso se dá porque é aliada do imperialismo. Enquanto permanecer dócil, nada acontecerá com esse país, seus governantes continuarão a ser tratados como reis e príncipes na grande imprensa, enquanto presidentes como Nicolás Maduro ─ que virou inimigo do PCB e de seu aliado na Venezuela, o PCV ─, dentre outros, continuarão a ser tratados como ditadores. A Inglaterra mantém Julian Assange preso por este ter dito a verdade, mas é o Catar quem viola os direitos humanos.

Não estamos dizendo que o governo do Catar e tudo o que ocorre ali não mereça crítica, estamos atentando ao fato de parte da esquerda se juntar ao imperialismo nessa campanha contra aquele país, em uma frente única contra um país oprimido. Quem não se lembra da Inglaterra querendo boicotar a Copa na Rússia enquanto tentava sediar o evento? Ou das inúmeras acusações contra o Brasil na Copa de 2014, apoiadas pelo PCB, cujos militantes saíram às ruas na operação golpista financiada pela Fundação Ford?

O imperialismo gastou US$ 3 trilhões e matou 2 milhões de pessoas no Afeganistão; foram US$ 1,5 milhão por afegão morto. Mas o problema é o Talibã, para a esquerda cooptada. Mais de 90% da população afegã (o que inclui mulheres e crianças) tem algum grau de inanição, mas a esquerda chorou sangue quando os invasores foram expulsos. A grande preocupação era o direito das mulheres. Que direitos elas tinham enquanto bombas choviam sobre suas cabeças?

‘Criados pelos avós’

As pessoas que escreveram essa matéria se parecem com aquelas que foram criadas pelos avós e nunca puderam descer para o parquinho para brincar. Essa história de “O capitalismo transformou o esporte, prática humana digna e louvável, em mais uma ferramenta ideológica para atingir seus interesses, impregnando-o de um caráter competitivo de acordo com sua filosofia, na qual quem não vence é um fracassado”. Será que nunca jogaram uma “pelada”? No futebol de rua, quem já jogou sabe, tem de tudo, menos dignidade, é um jogo bruto e quem não vence tem que aguentar as piadas. Isso faz parte da condição humana. Desde a Grécia Antiga, 550 anos antes de Cristo, Xenófanes de Colofão reclamava dos Jogos Olímpicos. Dizia: “Ora, muito sem razão é esse costume, nem justo é preferir a força física à boa sabedoria”.

A concepção de esporte do PCB é pequeno-burguesa, por isso se remete a “sentimentos mais conservadores de nacionalismo, confrontando fanatismos (…) vandalismo e violência…”. É o mesmíssimo discurso da classe média que não quer saber de futebol, o esporte do povo. Não sabe como o futebol, especialmente no Brasil, é uma paixão que alimenta, inclusive, os sentimentos nacionais de um país atrasado, sentimentos anti-imperialistas.

Condições de trabalho

O texto reproduzido pelo PCB termina abordando as condições precárias de trabalho no Catar, mas isso não tem relação com a Copa, sempre foi assim. As denúncias não precisariam ter esperado. O número de mortes, 6.500 de trabalhadores, que teriam ocorrido desde quando o Catar obteve o direito de sediar a Copa, até os dias atuais, não passa de fake news. Mesmo se o número fosse alto, não é boicotando o país que se irá alterar essa realidade.

O que está por detrás dessa campanha contra o Catar, o que está oculto, é o fato desse país ter andado um tanto desgarrado dos interesses do imperialismo. A Al Jazeera, o canal de comunicação, é de propriedade do governo do Catar e muitas de suas matérias andaram incomodando as grandes  potências. A Irmandade Muçulmana também é apoiada pelo governo catari, sendo ela um fator de instabilidade contra o imperialismo em muitos países árabes. Para completar, o Catar tem se aproximado cada vez mais de Rússia e China.

Enquanto isso, muito perto do Catar, ocorre um verdadeiro genocídio praticado pelo imperialismo no Iêmen, com as mãos da Arábia Saudita, que já matou mais de um milhão de pessoas. Onde estão os defensores  dos direitos das mulheres iemenitas?

A esquerda não pode servir de correia de transmissão para os interesses imperialistas, com a transformação de um país em um demônio. As condições de trabalho dos imigrantes ilegais nos EUA são extremamente degradantes, assim como a dos atendentes nas redes de fast food na Alemanha. Por que não se fala sobre isso?

O que está havendo é uma grande demagogia. A próxima Copa deve se realizar nos Estados Unidos, México e Canadá. Não veremos, com toda a certeza, essa onda de protestos por parte da grande imprensa, ainda que os Estados Unidos tenham destruído países inteiros, sem se preocuparem se suas bombas caíam sobre mulheres, LGBT’s ou trabalhadores explorados.

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