Jones Manoel, do PCB, publicou dois artigos no sítio da revista Ópera, republicados no sítio do PCB, propondo uma discussão sobre a Revolução Brasileira. Em artigo anterior, nós mostramos os erros de Jones Manoel ao analisar o desenvolvimento capitalista e o ecletismo de sua concepção sobre o partido revolucionário, que o leva a uma teoria anti-marxista do partido. No artigo de hoje, vamos apontar mais alguns absurdos da concepção do youtuber sobre o partido e a revolução.
Na primeira matéria de Jones Manoel, intitulada “A Revolução Brasileira como horizonte político concreto”, após afirmar que a vanguarda da classe operária pode assumir “diversas formas”, ele recorre ao intelectual acadêmico Eric Hobsbawm para explicar que o problema para a esquerda revolucionária são as “sociedades estáveis”, pois nessas condições de normalidade a vanguarda tem dificuldades de desenvolver movimentos que depois serão aproveitados no momento de crise.
Em suma, o dilema seria: a vanguarda não consegue se preparar adequadamente nos momentos normais justamente por serem estáveis, já que só são chamadas à prova no momento de crise.
Sobre essa concepção confusa, puramente metafísica, que Jones Manoel empresta de Hobsbawm, é preciso explicar algumas coisas. Concretamente, é nos momentos de estabilidade que o partido tem as melhores condições de se preparar. Não fosse assim, qual seria o sentido de os marxistas lutarem por cada vez mais direitos políticos e econômicos para os trabalhadores, coisa que só pode acontecer em “sociedades estáveis”, se isso seria ruim para a organização revolucionária? Aqui, vemos o problema do pensamento acadêmico, idealista, metafísico.
Ao contrário do que está dito, o marxismo tomou conta das sociedades no momento de maior estabilidade do capitalismo, a partir da década de 70 do Século XIX. Em todos os principais países capitalistas da Europa havia partidos socialistas. Engels e Marx criaram o maior partido operário do mundo, o Partido Social-democrata alemão. Numa sociedade estável é mais fácil construir um partido, não mais difícil.
O posterior fracasso desses partidos não tem a ver com a sociedade estável ou não, mas com aquilo que marxistas como Lênin mostraram: esses partidos foram corrompidos. Mas esta seria uma discussão à parte.
Jones Manoel ignora que a partir do Século XX o capitalismo entrou numa crise permanente. Esse problema coloca um desafio importante para a vanguarda revolucionária, estamos num período convulsivo, que dificulta o trabalho de construção do partido. Tudo ao contrário do que diz Jones Manoel.
Mas é importante dizer que dificultar não significa que seja impossível. O Partido Bolchevique talvez seja a prova disso.
O partido revolucionário tem que existir, não é uma escolha, não é um desejo criado na cabeça de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. O marxismo é uma ciência, Lênin, talvez o principal marxista que tenha falado sobre o partido, desenvolveu uma concepção científica do partido para a época de crise do capitalismo.
A concepção marxista do partido não é uma tese acadêmica, mas uma necessidade. Aqui, no sentido de ser inevitável, de ser uma etapa necessária do desenvolvimento revolucionário da classe operária.
No segundo artigo, intitulado “Para uma teoria da vanguarda revolucionária no Brasil”, Jones Manoel continua suas reflexões sobre a vanguarda e o partido.
“Qualquer militante com algum tempo de experiência já percebeu uma dificuldade objetiva na formação e atuação política: os intelectuais marxistas mais famosos e lidos da atualidade escrevem pouco ou nada sobre a questão organizativa”, diz ele.
Interessante a observação vinda de uma pessoa cuja principal atividade é acadêmica. Mas concordamos com o que diz Jones Manoel nesse caso específico. Contudo, a própria colocação de Jones Manoel mostra que ele mesmo é uma pessoa formada por intelectuais que na verdade não são marxistas, mas que ele apresenta como tais.
Os intelectuais de universidade “mais famosos e lidos da atualidade” não são marxistas que não falam sobre a questão organizativa. Eles são anti-marxistas, eis o problema central. A universidade, por ser um instrumento de dominação da burguesia formado por uma casta burocrática, é inimiga da construção do partido revolucionário.
Jones Manoel, em toda a sua argumentação nos dois textos, ignora um problema fundamental na organização da vanguarda: o programa político.
Diz ele que “toda organização, como disse Antônio Gramsci, é composta basicamente por três estratos: a) dirigentes; b) corpo intermediário que faz a função de ligação entre dirigentes e as bases; c) e as bases sociais da organização.”
Na sua busca acadêmica por uma receita para a organização da vanguarda, Jones Manoel esquece que a construção do partido deve seguir aspectos concretos: um programa correto, em primeiro lugar, e o desenvolvimento de determinados aspectos organizativos, como a centralização, por exemplo. Mas tudo isso vai depender da relação do partido com as massas, não podem ser fórmulas rígidas.
Jones Manoel tenta se distanciar dos intelectuais universitários. Mas como fica demonstrado pelas suas concepções do marxismo e da organização do partido, é ele mesmo um acadêmico. Suas concepções da vanguarda, da organização, do partido e da revolução são abstratas, sem uma base na realidade.
Como ele mesmo diz, a universidade não é um local para a discussão sobre a organização do partido. Mas olhando o PCB e seus principais integrantes, incluindo o próprio Jones Manoel, veremos que é precisamente um agrupamento de professores e estudantes universitários.
