Os economistas Armínio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan escreveram uma carta ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, nessa quinta-feira (17), criticando a sua posição sobre os gastos para o próximo ano. Em discurso na COP27, Lula critica o mercado financeiro e diz que “antes de responsabilidade fiscal, é preciso ter responsabilidade social”.
“Se eu falar isso vai cair a bolsa, vai aumentar o dólar. Paciência. Porque o dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas é por conta dos especuladores que vivem especulando todo santo dia”, declarou Lula.
Nesse sentido, os economistas, eximindo-se da culpa de uma oposição aos gastos sociais, dizem que “fazer tudo ao mesmo tempo” vai levar a alta da inflação e do dólar, fazendo o “crédito sumir do mercado” e finalizam dizendo que tudo isso “sob pena de o povo outra vez tomar na cabeça.”
Nesse mesmo sentido, o editorial do Estadão desse sábado (19), critica o Lula por ser irresponsável com algo que finalmente prejudicará os pobres:
“Em se tratando de um país que depende de crédito e que não tem histórico de bom devedor, é impossível fazer tudo ao mesmo tempo sem pressionar a inflação e os juros, fatores que prejudicam, sobretudo, os mais pobres” (Editorial Estadão, “A realidade chegou para Lula”, 19/11/2022)
E, por último, a carta ainda defende o teto de gastos dizendo, cinicamente, que ele não impede gastos sociais.
“A responsabilidade fiscal não é um obstáculo ao nobre anseio de responsabilidade social, para já ou o quanto antes. O teto de gastos não tira dinheiro da educação, da saúde, da cultura, para pagar juros a banqueiros gananciosos. Não é uma conspiração para desmontar a área social”, diz a carta.
Tudo isso mostra, em primeiro lugar, o cinismo da direita ao tentar colocar Lula como um possível algoz da população devido aos seus planos de, exatamente, tirar as pessoas da pobreza. O gasto social, aniquilado pelo golpe de Estado, é um problema não para a população, mas para os banqueiros e seus lucros. Sim, o problema é o mercado financeiro, como disse o companheiro Lula. Fato é que o investimento na população não dá lucro para os bancos, que, inclusive, é o setor que mais gera gastos para o Estado.
Há uma maneira simples de viabilizar os gastos sociais: deixar de pagar os juros da dívida pública, multiplicados a cada ano, e taxar diretamente a renda dos mais ricos da população. Enquanto os juros sobre o consumo, que recai principalmente na renda dos mais pobres, é o principal meio de arrecadação do Estado, os bancos sequer pagam taxas sobre os seus dividendos exorbitantes. Com essa realidade, esse mesmo mercado financeira ainda tem o cinismo de criticar o presidente eleito por causar um “rombo no orçamento estatal”?
Sobre a carta, Lula dá uma boa e evasiva resposta em seu twitter, dizendo:
“Fiquei feliz ao saber de uma carta de pessoas importantes me alertando sobre problemas econômicos e dando sugestões. Eu sei ouvir conselhos e, se fizer sentido, seguir.”
A verdade é que os “conselhos”, para não dizer “ameaças”, não fazem sentido. Por isso o Lula deve seguir a política de esquerda que tem tomado em seus primeiros atos no plano de transição do governo.