Coitados

O imperialismo catariano oprime a pobre Europa

A campanha contra o Catar chegou a ponto de criar um escândalo de corrupção no Parlamento Europeu, o que deixa claro tanto o enfraquecimento do imperialismo como sua agressividade

Foi só chegar a Copa do Mundo no Catar que de repente todos os podres do país sede começaram a surgir na imprensa burguesa, algo que por acaso se assemelha às copas da Rússia e do Brasil, mas não a Copa de 2006 na Alemanha. A última notícia é a do “Catargate”, um escândalo de corrupção envolvendo a vice-presidenta do Parlamento Europeu, que recebeu dinheiro em espécie para favorecer a política europeia em relação ao país árabe. É mais uma campanha absurda do imperialismo, que não só ataca o Catar mas o coloca como agressor e a Europa a vítima. 

A mais importante parlamentar relacionada ao caso foi a eurodeputada Eva Kaili, vice presidenta do Parlamento Europeu que foi presa e perdeu o cargo na terça-feira, dia 13/12. Ela foi uma das defensoras do país árabe ante a campanha imperialista, afirmou que: “A Copa é a prova de como a diplomacia esportiva pode obter a transformação histórica de um país com reformas que inspiraram o mundo árabe”. O que não é uma afirmação de todo incorreta, apesar de não ter muito conteúdo político.

O interessante desse caso é que o Catar, se o processo for verdadeiro, está corrompendo o Parlamento Europeu como forma de se defender. O país é alvo de uma campanha do imperialismo que pressiona o governo a se subjugar a seus ditames, tenta impedir que se forma uma crescente aliança com a Rússia e principalmente com a China. Durante a Copa o foco de ataque ao Catar eram os próprios países europeus, o que mostra que o governo estava correto em sua análise e assim tomou políticas para se defender. 

A campanha contra a corrupção, principalmente no que tange assuntos tão importantes como uma Copa do Mundo e o Parlamento Europeu, é sempre uma campanha feita por algum setor político com interesses econômicos definidos. O caso do Catar está claro, é preciso que todo o Oriente Médio esteja sob o controle do imperialismo, uma região com a maior riqueza da atual economia, o Petróleo, não pode ser independente, isso é um dos maiores pesadelos dos países imperialistas. 

Mas na narrativa da imprensa fica escondido outro ponto, talvez o mais relevante de todos. Na versão do imperialismo o Catar, uma monarquia absolutista muito poderosa conseguiu ruir a democracia europeia usando seu poderio econômico. Os árabes agressores, tais quais os russos, minam os citados países europeus usando os seus recursos naturais e suas diabólicas empresas estatais de combustíveis fósseis. A realidade é que a primeira vítima nesse caso é o próprio Catar, e a segunda os próprios europeus. 

A perseguição aos setores do Parlamento Europeu que aceitam aplicar uma política mais amena nos países oprimidos é um pequeno golpe de Estado comandado pelos principais setores do imperialismo. Existe um plano para mudar o funcionamento do Parlamento, que certamente resultará em uma política imperialista mais agressiva, dada a situação da qual surge essa manobra. A crise do imperialismo o transformou em um leão ferido, ao mesmo tempo está mais fraco e mais agressivo. 

A Folha de S. Paulo afirma que “A própria composição plural o torna um alvo especial para a atuação de lobistas. São 705 membros que representam os 27 países do bloco, falando 24 idiomas, e que, depois de serem eleitos nacionalmente, vão a Estrasburgo e Bruxelas fazer política. A Casa não possui um órgão de ética independente, capaz de monitorar e punir casos que ferem o código de conduta —o qual eurodeputados devem se comprometer a respeitar, mas cujo controle é realizado pelos próprios colegas.” Uma clara tentativa de aumentar o controle da organização por um pequeno setor.

Outro fator importante é que a campanha contra o Catar se baseia nos direitos trabalhistas e da população LGBT, isto é, tem uma aparência humanitária. Ela é uma repetição do que existia durante o período da colonização mundial pela Europa. Os  europeus civilizados teriam não só o direito, mas o dever, de intervir nos países atrasados, os quais invadiam militarmente, massacraram a população e roubavam os recursos, tudo de forma altamente civilizada. E esse quadro não mudou muito do século XIX para o XXI. 

Agora existe uma nova ideologia para embasar esses ataques, o identitarismo. No que tange os direitos da mulher e dos LGBTs, a Europa tende a estar na frente de grande parte dos países atrasados. Isso, em conjunto a ideologia repressiva identitária é uma fórmula pronta para justificar a intervenção imperialista. Nos últimos meses não só o Catar foi vítima, mas também o Irã, com a campanha supostamente contra o machismo. Não impressionaria se um escândalo de corrupção aparecesse com dinheiro de petróleo iraniano.

O que nunca acontece, por outro lado, são esses escândalos em países submissos ao imperialismo. Os outros Emirados Árabes, o Irã durante a ditadura do Xá, o Egito, o Afeganistão antes da vitória do Talibã, e os demais países submissos ao imperialismo nunca são corruptos. A corrupção existe no Catar, no governo do PT, na Rússia, na China e na Venezuela. É preciso esconder o interesse em saquear o mundo inteiro atrás de uma baixíssima campanha de defesa da moralidade. 

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