Não é novidade reportagens sobre a situação de penúria em que vivem os povos indígenas. Os temas recorrentes são violência contra aldeias inteiras, execução de caciques, luta pela terra, que, aliás, é garantida constitucionalmente, e desnutrição infantil.
No início de dezembro, a lista de ataques aos povos indígenas ganhou outro assunto, que não é novo, mas não tem tanto destaque quanto os demais. Empresários e servidores públicos do Dsei Yanomami, localizado no estado de Roraima, são alvos da Polícia Federal por desvios na compra de medicamentos para tratamento de malária e verminoses.
Estima-se que do total de medicamentos comprados, uma quantidade muito inferior foi entregue, deixando desassistidas mais de 10 mil crianças, das quais muitas desenvolveram a forma grave da doença, chegando a expelir vermes pela boca.
A saúde indígena está sob a responsabilidade direta do Ministério da Saúde, sem eximir estados e municípios do apoio. As ações de atenção integral à saúde são realizadas por equipes que atuam nos Distrito Sanitário Especial Indígena (Disei). Existem 34 Dsei, a maioria na região norte, que cobrem com ações de saúde mais de 775 mil indígenas.
O Dsei Yanomami foi mais um alvo de supostas empresas que ganham licitações milionárias no setor público e lucram sobre doenças e mortes de crianças, mulheres e idosos, que são as populações mais vulneráveis. O empresário Roger Henrique Pimentel responsável pela Balme Empreendimentos, empresa envolvida no esquema, é mais um nome na lista infinita de pilhadores do patrimônio e dos recursos públicos em nome do lucro acima de tudo e de todos.
Esta situação também chama atenção pelo fato do empresário envolvido ser um internauta que “luta” contra a corrupção. Isto só corrobora a farsa do discurso anticorrupção que embalou o golpe contra a Presidenta Dilma e a prisão de Lula. Trata-se de uma cortina densa de fumaça que encobre os verdadeiros esquemas que perduram há anos no País, possibilitados pela falsa máscara do empreendedorismo e geração de empregos e pelo apoio da burguesia.
Empresas de fachada e empresários que não possuem empresas brotam no Brasil a cada ano e chegam com o pacote completo: empresas recém abertas que ganham licitações públicas milionárias, empresários que são contrários a governos de esquerda e aos programas sociais, mas, são favoráveis à família e contra a corrupção. Neste ramo das licitações, esta é a configuração dominante.
A burguesia não perdoa crianças, sejam elas indígenas ou não. A burguesia só tem um lado: o dela. Os discursos que criam e propagam no País, para os quais a classe média se encarrega de ser o megafone junto com a Rede Globo, não tem nada de nacionalista, pois, a burguesia não tem pátria.