A imprensa burguesa, os banqueiros e os “aliados” de direita de Lula estão pressionando dizendo que o presidente eleito tem que ter “compromisso fiscal”, não pode ser radical, não pode adotar uma conduta de antiamericanismo infantil, tem de trazer o mundo para a Amazônia, não pode ser vingativo, tem que respeitar o teto de gastos, a “lei de responsabilidade fiscal”, o “equilíbrio das contas públicas” e demais baboseiras do gênero.
Essa pressão ocorre, principalmente, no terreno da economia. Dizem que ele tem que fazer acordos com o centro político para garantir a governabilidade, se distanciando das posições aventureiras que buscam resolver todos os problemas de imediato. Para isso, teria que adotar uma postura “responsável, madura” colocando gente ligada ao mercado nos ministérios e principalmente nos postos chave da economia.
No entanto, não foram esses setores – muito distante disso – que elegeram Lula. Inclusive muitos que estão dizendo essas sandices (a maioria) votaram contra Lula ─ todo o PIG, por exemplo. Por que Lula deveria ouvi-los? Ele tem que ouvir quem votou nele. Tem que ter compromisso com quem votou nele, quem o apoiou, particularmente ouvir a classe que votou nele, os trabalhadores, as massas populares, os explorados do país. E o compromisso com os trabalhadores passa por investir muito dinheiro em programas sociais, obras públicas, serviços públicos, destinar recursos para a área social, duramente afetada pelos cortes efetuados pelos neoliberais golpistas ao longo dos últimos anos, em particular após o golpe de 2016.
Neste sentido, o novo governo que tomará posse em janeiro não pode ter uma posição ambígua em relação às suas prioridades, em relação à classe social que será atendida e beneficiada com as políticas de Estado e de governo. A maciça votação recebida por Lula, tanto no primeiro como no segundo turno, votos que vieram sobretudo da classe operária e dos setores pauperizados da sociedade, exige do governo Lula uma clara postura no sentido do atendimento das reivindicações populares. Não pode haver qualquer vacilação quanto a isso, pois há uma enorme ansiedade e expectativa no conjunto das massas populares para que não somente as primeiras medidas, mas o direcionamento geral das políticas do governo popular de Lula, apontem e sinalizem claramente para a satisfação das necessidades mais elementares do povo trabalhador.
A burguesia exploradora, que nunca deu a menor importância para o sofrimento do povo pobre, deve ser tratada pelo novo governo com o peso que teve na eleição de Lula, ou seja, nenhuma influência, nenhum peso. Ao contrário, a burguesia se empenhou e fez todos os esforços para a derrota do candidato popular e por tentar viabilizar a alternativa da terceira via, operação fracassada diante da enorme polarização que tomou conta das eleições, desde o seu início, materializada nas duas candidaturas de maior apelo popular, Lula e Bolsonaro.
Nessa perspectiva, se Lula não for taxativo e categórico em relação às prioridades, em relação à classe social para quem deve dirigir os recursos públicos, seu governo certamente cairá refém dos setores mais direitistas e reacionários.
A questão que diz respeito a quem serão destinados os recursos públicos, desta forma, não é um problema legal, de tecnicalidades, de se enquadrar ou não dentro das regras ou dispositivos legais da legislação que limitam ou impedem gastar ou não gastar. Os governos burgueses dispõem de mecanismos que burlam a legislação que limita o teto de gastos, que simplesmente atropelou a lei de responsabilidade fiscal, como se viu recentemente no pacote que o presidente derrotado – Bolsonaro – encaminhou ao Congresso Nacional às vésperas de encerrado o prazo para a execução de novas despesas. Isso sem falar no execrável “orçamento secreto”, um dos maiores escândalos – junto a muitos outros – do governo dos neoliberais golpistas derrotado nas urnas. Tudo isso para atender aos interesses da burguesia e do imperialismo.
Lula, portanto, não deve se curvar às pressões vindas de setores que em nada contribuíram para a sua eleição, mas dirigir seu olhar e suas ações para os que garantiram sua eleição e seu terceiro mandato popular. Para que atende aos interesses do povo pobre e trabalhador.