Nesta sexta-feira (04), o Estadão publicou um editorial intitulado A hora da verdade para a direita. No texto, o jornal golpista se contrapõe ao que ele denomina de “onda rosa” na América Latina, referindo-se às eleições de figuras como Gabriel Boric, no Chile, e afirma que, no Brasil, o que existe é uma “onda direitista”. Para reforçar sua tese, coloca os dados das eleições gerais deste ano, as quais deram uma vaga para, em sua maioria, parlamentares direitistas.
Entretanto, apesar de que a maioria das figuras eleitas são bolsonaristas ou, em alguma medida, apoiaram Bolsonaro no pleito, o Estadão faz a campanha de que ele não recebeu votos por uma adesão ideológica à sua política, mas sim, por uma rejeição à esquerda e, principalmente, ao seu “extremismo”.
É curioso notar que Merval Pereira, em uma coluna para O Globo publicada no mesmo dia, reproduz a mesma tese. “A votação espetacular de Bolsonaro se deve mais ao antipetismo do que ao bolsonarismo”, afirma Merval, dando a entender, também, que o bolsonarismo não tem força política no País. Não é à toa que o Estadão é considerado uma espécie de circular pública da burguesia que a orienta enquanto classe no que diz respeito à política a ser adotada.
Finalmente, assim como a maioria dos textos publicados na imprensa burguesa, os artigos em questão não passam de propaganda ideológica. Em outras palavras, aquilo que os capitalistas querem transmitir, seja para seus pares, seja para a esquerda pequeno-burguesa.
Fato é que a polarização, muito pungente no Brasil, está promovendo a extinção do centro político, o principal grupo da burguesia ligada ao capital financeiro. Os elementos da direita vão cada vez mais à direita, agrupando-se em torno da figura de Bolsonaro; o mesmo ocorre na esquerda, mas com Lula. O resultado eleitoral mostrou de maneira clara esse quadro, já que o PSDB, principal representante desse setor, foi praticamente varrido do mapa.
Logo, a imprensa burguesa, partidária, acima de tudo, do imperialismo, está perdendo a sua força à medida que o centro desaparece. Bolsonaro é, para eles, uma ameaça, principalmente quando consideramos que ele deixou de ser um mero improviso da burguesia em 2018 e tornou-se o principal líder da direita no País.
A burguesia imperialista, vociferada pelo Estadão e pelo Globo, mostra a sua preocupação em relação a isso por meio dos artigos citados e, promove uma campanha que vai na direção contrária da polarização, visando reanimar o centro político ao afirmar que ele ainda pode vencer o perigo do “extremismo”.
Vejamos. Logo no olho de seu editorial, o Estadão afirma que os “Conservadores e liberais precisam se livrar de suas perversões: os reacionários extremistas e as oligarquias patrimonialistas”. Mais ao final do texto, coloca que “A derrota de Bolsonaro pode ser uma vitória da direita civilizada, se for capaz de expurgar da ‘onda’ direitista seus corpos estranhos mais perniciosos”, antes de exemplificar esses “corpos estranhos” citando o que chama de “neorreacionarismo”.
Seguindo a mesma linha, Merval afirma que “A direita terá um novo caminho e surgirão novos líderes que não precisam se comprometer com o extremismo e o jeito rude de fazer política de Bolsonaro”, uma carta de reconhecimento do tamanho do poder político do bolsonarismo.
A burguesia não conseguiu emplacar a sua tão almejada terceira via. Perdeu um grande espaço para o bolsonarismo que, no final, se consolidou como principal força política de direita no País. Para retomar o seu controle, precisa, necessariamente, neutralizar Bolsonaro e enfraquecê-lo. O problema é que não é algo que depende unicamente da burguesia, uma vez que a polarização é consequência direta da crise geral do imperialismo. Desfazê-la, ainda mais no Brasil de agora, é uma tarefa quase impossível.
Vale notar que outra frente para atingir essa manipulação se dá pela esquerda. Afinal, para acabar com a polarização, é preciso arrefecer os ânimos de ambos os lados e, para tal, estão infiltrando figuras do centro político, como no caso de Alckmin, que assumiu a vice-presidência do Brasil, dentro do governo de Lula.
No final, trata-se de uma gigantesca operação cujo objetivo é impedir que o centro político perca toda a sua influência na política brasileira. Os editoriais analisados mostram essa tendência e colocam à luz do dia quais são as pretensões da burguesia para o próximo período.