Jovens estudantes de Santiago e seus arredores promoveram protestos na última semana. Houve confrontos com a polícia e queima de ônibus, o que trouxe visibilidade e repercussão para a ação dos estudantes.
Alunos do ensino médio tomaram escolas de forma coletiva e organizada, no mesmo dia em que o texto da nova Constituição chilena foi entregue oficialmente. Um plebiscito, marcado para setembro, irá decidir se o texto, de fato, substituirá a antiga constituição chilena, que é remanescente da época da ditadura e da administração anterior à de Boric, a de Piñera.
Os estudantes se revoltam com a péssima qualidade da educação no ensino básico e nas universidades, sem contar com seu alto custo. Segundo os jovens, o texto pode prejudicar ainda mais a educação chilena, já enfraquecida por décadas de precarização, resultante das políticas neoliberais que o Estado chileno vem implementando há décadas.
Os protestos dessa semana vem na sequência dos protestos de estudantes em junho, quando dois policiais foram feridos em Santiago, uma pessoa foi detida e o protesto de estudantes dispersado por canhões de água. Como resultado, uma renomada escola internato do Chile foi fechada.
Em fontes da imprensa nacional e internacional, um ou dois parágrafos e vídeos curtos sobre as ações dos jovens chilenos aparecem trazendo manchetes como a que se lê no G1, reproduzindo a Agência Reuters, matriz dos noticiários em todos os continentes, sob a ótica imperialista.
Sobre a revolta, ficamos sabendo que: “Alunos do ensino médio do Chile queimam ônibus e escolas; incidentes violentos aumentam 56%. Protestos de estudantes contra a educação cara e de baixa qualidade nas escolas e universidades tornaram-se mais frequentes.”
Yahoo News tem manchete mais sucinta e convidativa: “Escola em chamas: protestos violentos de alunos abalam Chile.” Por reproduzirem a mesma versão da notícia, as agências de notícias também concordam sobre as razões dos protestos dos estudantes, considerados como fator de preocupação. “A Superintendência de Educação do Chile registrou um salto de 56% nos incidentes violentos no último semestre em comparação com 2018 e 2019, antes da pandemia, um aumento que incomodou políticos, psicólogos e professores.”
A principal razão apontada como motivação dos protestos estudantis é a pandemia e seus efeitos sobre o comportamento dos pré-adolescentes e adolescentes que passaram pela puberdade em isolamento e, agora, estão vilolentos contra quaisquer tipos de autoridades, principalmente no ambiente escolar. “Não vimos nada em nenhum outro lugar tão drástico ou dramático como aqui”, disse Francisca Morales, autoridade de educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Chile.”
Coletivos de estudantes, somando forças, tomam escolas e se manifestam de forma organizada, fazendo com que a repressão policial seja acionada porque eles denunciam a falência da política educacional neoliberal do Chile e exigem providências. Seria este um fato mais drástico e dramático que um ato de estudante estadunidense, sozinho, que vai à escola e mata dezenas de pessoas? Há, pelo menos, uns três por semana nos noticiários.
O que é drástico e dramático nos protestos do Chile é a ameaça que a juventude organizada e consciente pode fazer. O que ameaça é a organização em defesa de direitos. Metem mais medo nos imperialistas que os adolescentes “lobos solitários”, sempre armados até os dentes.
Nos protestos em escolas do Chile, ninguém foi baleado ou morreu, pois a intenção política dos jovens é evidente. Querem chamar a atenção sobre a questão do futuro da educação chilena, que tende a se deteriorar sob o governo neoliberal de Boric.
Os índios Mapuche também organizaram protestos recentemente, recebendo a atenção do governo Boric através da declaração de “estado de exceçaõ”, com intervenção das forças militares na região onde os protestos ocorreram. Indígenas, jovens estudantes, além de vários outros grupos que apoiaram Boric por seu discurso identitário, recebem de seu governo as mesmas ameaças e violências que Piñera oferecia a eles. Mais do mesmo, com nova aparência.