Frente à vitória popular de Lula que, no último domingo (30), foi eleito com a votação mais acirrada de toda a história da República brasileira, a burguesia já iniciou as suas “aproximações sucessivas” para tentar controlar o novo governo petista. Pouco tempo depois, por exemplo, o Estado de S. Paulo publicou uma série de artigos pressionando Lula para que adote uma política econômica direitista.
Ao mesmo tempo, outros jornais da imprensa burguesa “recomendaram” nomes para cada ministério do presidente eleito, apresentando uma lista de considerações supostamente feitas pelos aliados de Lula, na qual continha figuras como Simone Tebet (MDB), Marina Silva (Rede) e o banqueiro Henrique Meirelles.
Agora, a Folha de S. Paulo, que também estava nessa jogada desde a declaração do resultado final do segundo turno, publicou um artigo indicando que o “centrão”, bloco político formado por partidos como o Progressistas (PP), Republicanos, PL, MDB e outros, se aproximaria de Lula na Câmara dos Deputados caso este faça uma série de concessões. É uma matéria típica dos jornais burgueses que, sem deixar claro qual a origem das informações apresentadas, representa uma chantagem política contra Lula.
Segundo o texto, “integrantes do centrão já sinalizam que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode contar com uma base parlamentar bem mais sólida caso apoie ou não crie obstáculos à tentativa de reeleição do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)”. Além disso, coloca-se o problema da aprovação de projetos na Câmara, algo que só seria possível, por dentro do sistema, com uma aliança entre Lula e esse setor parlamentar.
Ou seja, antes mesmo de Lula tomar posse, o “centrão” já quer controlar o seu governo, esse é o sentido das negociações mencionadas. Aqui, deve ficar claro que ele sempre serviu para isso: obter vantagens do governo – seja de esquerda, seja de direita – em prol de seus próprios interesses. Ainda, é uma operação que, assim como foi durante o mandato de Bolsonaro, tenta frear a tentativa de independência dos governos que não são inteiramente controlados pelo centrão, como é o caso de Lula.
Nesse sentido, tentam neutralizar a política de Lula, empurrando-a cada vez mais à direita. Afinal, se ele, por exemplo, acabar com a reforma trabalhista, devolvendo aos trabalhadores os seus direitos perdidos, é o centrão que fica na desvantagem, uma vez que é sustentado por banqueiros, empresários e, de maneira geral, pelos setores mais podres da sociedade capitalista. Logo, precisam impedir que isso aconteça para defender os seus próprios interesses.
Finalmente, há uma diferença fundamental entre Lula fazer concessões ao centrão visando aprovar as propostas do seu governo que defendem as reivindicações dos trabalhadores, e fazê-lo em prol dos interesses do próprio centrão. Na primeira situação, estaria defendendo a classe operária brasileira; já na segunda, a burguesia. O “centrão” não é composto por elementos ideológicos — votam de acordo com seus interesses imediatos, e não de acordo com um programa político. No entanto, ficou claro, durante o golpe de 2022, que a capacidade da burguesia de comprar, pressionar e chantagear esses deputados é gigantesca, fazendo com que cumpram com os seus interesses.
No fundo, representa a compra do governo Lula por parte do centrão, algo que vai na contramão do objetivo de defender o povo que seu governo deve assumir. Afinal, a partir daí, teria que atender aos pedidos desse setor que, no “vamos ver”, quando for a vez de Lula ser beneficiado pela pretendida aliança, será deixado na mão. Antes de conceder qualquer coisa a seu governo, colocarão mais obstáculos que têm como solução favorecer os seus interesses. A partir daí, Lula terá entrado no jogo do centrão, que é justamente o que ele quer, ganhando, no fim, vantagem e boicotando cada vez mais o presidente eleito.
Para governar conforme os interesses dos trabalhadores, o novo governo de Lula deve manter a política que seguiu a partir do começo do segundo turno para vencer as eleições: mobilizar o povo contra a máquina de matar que é o Estado burguês. Consequentemente, deve abandonar toda e qualquer “aliança” que, na realidade, seja em prol da burguesia.
Fato é que, assim como coloca o artigo reproduzido, Lula enfrentará uma série de dificuldades concretas para aprovar qualquer tipo de projeto de esquerda na Câmara e no Senado. Todavia, o ponto é que esse não é o único e, tampouco, o principal jeito de fazer política. Frente a um legislativo infestado pela burguesia, Lula deve apelar para a sua verdadeira base e, como o maior representante dos trabalhadores no Brasil, convocar o povo às ruas para defender os seus próprios interesses.
Quando a burguesia não aceita os interesses dos trabalhadores por vias parlamentares, estes, organizados, devem obrigá-la por meio da força política nas ruas. É a velha máxima do movimento operário: patrão só escuta máquina parada. Por isso, ao invés de beneficiar o inimigo de classe do povo, a burguesia, Lula deve fortalecer as organizações que representam a população e convocá-las para governar ao seu lado.