Nesse domingo (2), ocorreu o primeiro turno das eleições gerais de 2022. Rumo à votação, a expectativa geral, impulsionada pela propaganda enganosa da imprensa capitalista, era a de que Lula levaria a vitória sem a necessidade de um segundo turno, permanecendo, na maioria dos levantamentos, cerca de 15 pontos acima de Bolsonaro. Todavia, longe disso, o resultado mostrou que a corrida está muito mais acirrada do que o esperado: Lula ficou com pouco mais de 48%, enquanto que Bolsonaro, com 43%.
Então, pouco tempo depois da apuração e da definição matemática da disputa, a burguesia, bem como setores mais direitistas da esquerda pequeno-burguesa, deram a linha que querem para a política de Lula: vá para o centro conquistar o apoio dos capitalistas ainda indecisos, como aqueles representados por Ciro e Tebet.
Helena Chagas, por exemplo, no portal Brasil 247, publicou uma coluna de opinião intitulada “Lula terá que fazer concessões ao centro”, na qual a esquerdista defende a tese de que, não só para se eleger, como também para governar, Lula deve endireitar a sua campanha. Ao mesmo tempo, Merval Pereira, um dos principais porta-vozes da burguesia brasileira, afirmou, em seu artigo intitulado “O Brazil não conhece o Brasil”, que a esquerda não conhece o povo brasileiro que, segundo o jornalista, estaria em uma fase “mais capitalista”. Então, chega à mesma conclusão de Helena, de que Lula deve ir para a direita angariar os votos que lhe faltaram neste primeiro turno.
Longe de ser uma novidade, fato é que, sempre que possui a oportunidade, a burguesia tenta domar Lula pressionando-o para que se volte para o chamado “centrão” – a direita tradicional, ligada ao capital financeiro – para buscar apoio. Agora, principalmente quando o imperialismo está em uma guerra contra a extrema-direita à nível nacional, não seria diferente.
O ponto é que a burguesia imperialista precisa de uma alternativa ao bolsonarismo, pois este representa um setor da burguesia nacional que não representa, precisamente, os seus interesses. Mais importante que isso, Bolsonaro é aliado de Trump que, neste momento, torna-se cada vez mais popular nos Estados Unidos apesar de todo o aparato que o Partido Democrata de Biden, setor mais tradicional da política, detém.
Nesse sentido, não conseguiram emplacar a chamada Terceira Via que, representada, principalmente, por Simone Tebet, não saiu da casa dos 5% de votos, tanto nas pesquisas quanto nas eleições em si. Então, precisam de Lula para fazer frente a Bolsonaro. Todavia, Lula é o candidato do povo e, sendo resultado da luta da classe operária brasileira, sofre uma enorme pressão dos trabalhadores. Tanto é que, apesar de toda a infiltração em sua campanha, não cedeu nas principais reivindicações da esquerda, como a luta contra as privatizações. Em outras palavras, de maneira geral, apresentou-se firmemente como um candidato anti-imperialista.
O imperialismo precisa, portanto, domesticar Lula para que ele se torne, na medida em que a realidade o permita, o candidato que defenderá a política principalmente econômica do imperialismo. É uma operação que teve seu início com a escolha de Alckmin para ocupar o cargo de vice-presidente na chapa de Lula, sem contar no apoio que o PT deu a Márcio França, no Senado, e a aproximação entre o ex-presidente petista e Henrique Meirelles.
Acima de qualquer coisa, deve ficar claro que a pior coisa a ser feita, neste momento, pela campanha de Lula, é ir ainda mais ao centro. O próprio resultado das eleições aos demais cargos mostram isso: bolsonaristas arrependidos, ou seja, figuras que saíram da extrema-direita para o centro, como Janaína Paschoal, Joice Hasselmann e Alexandre frota, não foram eleitos; ademais, o PSDB, principal partido do “centrão”, teve o pior resultado eleitoral de toda a sua história, beirando, inclusive a sua extinção; sem contar no desempenho do PSB e do PDT que, de maneira geral, também saíram no prejuízo.
Logo, fica claro que, tratando-se de um quesito puramente eleitoral, a estratégia de deslocamento ao centro é uma farsa, não engendra qualquer resultado positivo. Isso decorre do fato de que, com a polarização cada vez maior pela qual passa o Brasil e o mundo, a direita tradicional tende a desmanchar-se, algo que pode ser observado também na Itália, na Suécia e nos próprios Estados Unidos.
Entretanto, acima disso, dar uma guinada ao centro também é uma péssima estratégia no sentido político, pois significa a direitização da campanha daquele que representa a maior parte do povo brasileiro, algo que, assim como aconteceu nos últimos 4 anos, só pode ter um efeito: aumentar a força e, mais importante, a base da extrema-direita bolsonarista no Brasil.
Levando isso em consideração, fica evidente que, indo na contramão da pressão do imperialismo sobre sua campanha, Lula precisa polarizar ainda mais a situação política. Precisa realizar uma propaganda terrorista colocando Bolsonaro como o demônio nazista apoiado pela burguesia, o imperialismo e os banqueiros, candidato dos ricos, do golpe de Estado de 2016, que acabou com o salário e o emprego, que destruiu a saúde, a educação e os serviços públicos, que deu dinheiro para os bancos, que deixou o povo endividado e com fome.
Ao mesmo tempo, deve se colocar como a resposta à esquerda à crise que estamos vivendo. Deve se radicalizar e mostrar-se, cada vez mais, um inimigo brutal do imperialismo e de seus lacaios. Para tal, precisa, antes de qualquer coisa, expulsar qualquer tipo de figura reacionária de sua campanha, a começar por Alckmin, seu vice. Sua candidatura e, possivelmente, seu novo governo, devem se apoiar na mobilização popular e nela somente.
Deve defender com todas as garras a reversão de todas as privatizações, a revogação de todas as reformas golpistas da era Temer, a expulsão das tropas imperialistas da Ucrânia e, de maneira geral, a defesa de todos os países oprimidos como Cuba, Venezuela, Nicarágua, China e a Rússia, o fim da Polícia Militar, a reforma agrária, o fim do monopólio de imprensa no Brasil e, consequentemente, o fim de emissoras como a Rede Globo. Enfim, não pode realizar sequer uma única concessão ao centro, pois, assim, consolida a sua derrota e a derrota do povo brasileiro.
Finalmente, o povo é a única força que pode, de maneira verdadeiramente progressista, derrotar o golpe de Estado no Brasil e pôr um fim à investida do imperialismo no País. A “política por cima”, por meio de acordos, de concessões ao centro, já mostrou-se inúmeras vezes como uma verdadeira farsa. Agora, não será diferente.
Cada passo na direção do socialismo, da verdadeira esquerda, é um passo rumo à vitória de Lula. Sua radicalização é imprescindível não só para que leve o segundo turno e derrote Bolsonaro, mas para que governe de maneira firme, levando em consideração, em primeiro lugar, os interesses dos trabalhadores, e não dos banqueiros.