Na sexta-feira, 15, morreu no Rio de Janeiro aos 97 anos o general do Exército Newton Cruz. A fora algumas notas secundárias na imprensa burguesa, o seu falecimento é uma nota triste, não pela sua pessoa – uma personagem da extrema-direita e um dos expoentes da ditadura militar nos anos 70 e 80 do século passado -, mas por ter se tornado sinônimo da absoluta impunidade dos militares diante de umas das ditaduras mais brutais que já vivenciou o País em sua história.
Cruz foi chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI) – braço de espionagem dos governos militares criado logo após o golpe de 1964 – entre 1977 e 1983. O período marca a transição entre os governos de Ernesto Geisel e de Figueiredo e as disputas no seu interior no período de “abertura política”, que refletia a política do imperialismo norte-americano a partir do governo Jimmy Carter, de volta à “democracia”, como uma tentativa de controle do imperialismo diante da crise econômica mundial reaberta em 1975, com a “crise do petróleo” e que no Brasil, posteriormente, ficou conhecido como o “fim do milagre brasileiro”, momento em que o Brasil vivenciou altos níveis de crescimento econômico decorrência do alto grau de endividamento externo e de uma política sem precedentes de controle do movimento operário, com uma política de arrocho salarial interno e esmagamento da esquerda, entre os anos finais da década de 60 até 1973/74.
Já em 1974, o avanço eleitoral do então MDB, o partido da “oposição” com, apontava para a crise do golpe de 1964, o que se agravou com as expectativas eleitorais para eleições de 1978, que levou ou regime militar a estabelecer o “pacote abril” de 1977 que, entre outras manobras adiou as eleições para os governos estaduais e criou mecanismos para para eleger senadores biônicos para o Congresso.
Nesse processo, a alta oficialidade do Exército – a força predominante – do golpe de 1964 se dividiu entre os favoráveis à “abertura”, preconizada pelos verdadeiros chefes do País (o imperialismo) – e setores que defendiam uma política de aprofundamento da repressão, ao estilo do que naquele momento ocorria na Argentina. Cruz estava no segundo grupo.
Em 1981, já no governo do general Figueiredo envolto em uma crise econômica, que tinha como expressão visível o crescimento da inflação, a “ala dura” patrocinou uma de suas últimas ações, o atentado do Riocentro, uma festa popular em que se comemorava o 1º de Maio, com a presença de renomados artistas brasileiros – entre eles Chico Buarque, Alceu Valença, Gonzaguinha, etc – em que se pretendia cometer um atentado. No final, uma das bombas que era para explodir no evento, detonou antes, em um carro em que estavam dois militares, levando à morte um deles e deixando o outro gravemente ferido.
Em 2014, Newton Cruz foi apontado pela Comissão da Verdade como um dos 377 militares que cometeram crimes durante a ditadura, mas nunca foi condenado ou preso, assim como todos os demais.
Sobre o Riocentro, em entrevista à imprensa em 2014, chegou a afirmar que sabia do atentado, mas que na época “não tinha celular para impedir”.
Assim como uma boa parte dos nazistas, Newton Cruz morreu sem pagar pelos seus crimes, como resultado da política de conciliação de classes levada à frente por boa parte da esquerda e é justamente essa política que permite que os seus continuadores, como Jair Bolsonaro, estejam aí a defender e patrocinar a continuidade de suas atrocidades.