Na última sexta-feira, dia 18, o Rio Branco Esporte Clube, um dos clubes mais tradicionais do interior de São Paulo, lançou um edital de convocação aos conselheiros para uma assembleia geral. O assunto a ser deliberado: sacramentar a transformação do clube em SAF (Sociedade Anônima do Futebol). A nova galinha dos ovos de ouro do futebol brasileiro é, na verdade, uma farsa burguesa.
Assim como em diversos outros clubes, um patrimônio popular será privatizado aos interesses de um capitalista que sequer conhece o hino do clube.
Os dirigentes brasileiros sempre foram a parte mais incompetente do futebol brasileiro, maior celeiro de craques do futebol mundial, único país com doze clubes de grande tradição e torcida. A forma associativa desses clubes deixa o torcedor do lado de fora das decisões de seus clubes, tendo em vista o custo e a burocracia para tornar-se sócio e conselheiro. Contudo, mesmo nessas condições, há uma espécie de democracia, já que as diretorias são eleitas e, bem ou mal, há possibilidade do torcedor ingressar na vida política dos clubes.
O correto sempre foi abrir os clubes aos torcedores para que eles participem do dia a dia e dos rumos dos clubes. Nisso, as torcidas organizadas cumpririam importante papel, já que é a forma existente dos torcedores se organizarem.
Acontece que hoje está acontecendo justamente o contrário. Os clubes, desde o surgimento da SAF, estão sendo privatizados para grupos de poucos sócios, em geral um majoritário, que, sozinho, irá ditar os rumos do clube. Veja o caso do Botafogo, que foi comprado por um norte-americano que ninguém nunca ouviu falar e sequer mora no Brasil. Quando as decisões forem prejudiciais ao clube, como a torcida poderá cobrar? A quem? O dono, soberano do clube, não estará no Brasil para sentir os anseios dos torcedores.
Os famosos cartolas querem distanciar os torcedores dos clubes. Já conseguem com o chamado futebol moderno e o afastamento da grande massa de torcedores dos estádios, com preços abusivos. A destruição dos clubes pelos cartolas se dá na medida que utilizam dos clubes para lucrarem e fazerem negócios, e a burguesia utiliza este fato para fazer campanha da privatização total dos clubes.
Para reverter isso é preciso que os clubes sejam administrados pelos próprios torcedores e torcidas organizadas, que são os maiores interessados no desempenho do clube e não em seus lucros.
Além disso, o que ninguém põe em questão é que esses empresários estão comprando clubes apenas para lucrarem em cima. É um absurdo um clube do tamanho do Cruzeiro, tanto em número de conquistas quanto de torcida, ser comprado por 1 bilhão de reais. Depreciaram o Cruzeiro para que fosse vendido, como qualquer privatização. Porém, a partir do momento em que o dono sentir que lucro não é suficiente, ele abandonará o clube às traças e levar todo o dinheiro arrecadado, como já ocorreu inúmeras vezes mundo afora.
A mídia burguesa é a principal propagadora da ideia da nova salvação do futebol nacional. O lobby nos grandes meios de comunicação são gritantes. Inclusive, com alguns torcedores chamando esses jornalistas de corretores de clubes.
É preciso que os torcedores fiquem atentos e se contraponham à venda do futebol brasileiro.
