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Crise no seio do imperialismo

Macron vence e adia fim da União Européia

Mesmo perdendo para Macron, a extrema direita sai vitoriosa das eleições. Já a esquerda e o povo, devem esperar pelo pior.

Emmanuel Macron foi reeleito presidente da França depois de uma acirrada disputa com Marine Le Pen, candidata da extrema-direita. Macron venceu com 58,6% dos votos contra 41,4% de Le Pen. Entretanto, ela própria classificou seu resultado como uma “vitória retumbante” e, na realidade, uma das principais conclusões a se tirar com as eleições francesas é o fortalecimento da extrema-direita perante o aprofundamento da crise da União Europeia e do imperialismo.

Em 2002, o pai de Le Pen, Jean-Marie Le Pen, atingiu meros 18% na disputa presidencial. Em 2017, quando Le Pen foi derrotada por Macron pela primeira vez, quase dobrou o resultado de seu pai com 34% dos votos. Agora, o país ficou realmente dividido nas eleições, e Le Pen, mesmo tendo perdido, nunca teve tanto apoio como hoje. Le Pen chegou a declarar que não tinha “nenhum ressentimento e nenhuma amargura”, e chamou todos a apoiarem seu partido nas eleições do parlamento.

Além das medidas brutais de Macron contra a classe trabalhadora, a esquerda, por sua vez, é outra culpada pelo crescimento da extrema direita. Durante os 5 anos do governo Macron mostrou seu compromisso em destruir os direitos dos trabalhadores franceses, não é à toa que o povo francês se levantou contra suas medidas neoliberais. Porém, durante as greves e as manifestações, a esquerda simplesmente deixou para a extrema-direita a organização do movimento de massas e pautas fundamentais da classe trabalhadora. Inclusive agora, uma boa parte da esquerda se juntou com o imperialismo para apoiar a incessante campanha chamando a unidade contra a extrema-direita, em defesa de Macron, o “mal menor” ou a “única esperança da democracia”.

Mesmo assim, aproximadamente 28% do eleitorado francês decidiu não votar no segundo turno, o maior índice em mais de 50 anos em uma disputa presidencial. Dentre aqueles que votaram em Jean-Luc Mélenchon no primeiro turno – candidato mais à esquerda da disputa eleitoral que teve um sólido resultado de 22% dos votos – 21% declararam voto em Le Pen na véspera da votação, somados a 41% que anunciaram voto em Macron e 38% que não se manifestaram. 

Os dados demonstram que uma boa parcela da população não apoiou Macron contra a extrema-direita, e ainda muitos daqueles que apoiaram o candidato mais à esquerda foram incapazes de votar em Macron e se deixar enganar pela campanha imperialista. Por mais asqueroso que seja, pessoas de esquerda votaram na própria extrema-direita. 

Le Pen e alguns analistas não estão totalmente equivocados quando dizem que a eleição colocou em confronto o povo de cima contra o povo de baixo, os ricos contra os pobres. Macron, claramente, é o representante do povo de cima. Banqueiro, apoiado pelo sistema financeiro, formado em escolas de elite e profissional em aplicar a política neoliberal ostensivamente contra o povo, é também conhecido como “o presidente dos ricos”. Logo no início de seu mandato as reformas da previdência e trabalhista propostas por Macron levaram às ruas mais de 500 mil manifestantes em diversas regiões da França. Desta vez, durante a disputa eleitoral, o ponto mais ressaltado de sua campanha foi justamente aumentar a aposentadoria francesa de 62 anos para 65 anos de idade. Ainda assim, a esquerda o apoia como o “mal menor” e deixa para Le Pen o poder de organizar toda a indignação do povo francês.

Maurice Clément, 82, motorista de caminhão aposentado, disse que votou nos socialistas a maior parte de sua vida. Mas em 2017 votou em Macron no segundo turno porque estava preocupado com a extrema-direita.

Agora, ele diz “Marine Le Pen é a única a defender os trabalhadores.” irritado com a proposta de Macron de aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 65 anos como parte de seus planos de reformar o sistema previdenciário. Para aqueles que fizeram trabalho braçal durante toda a vida, se aposentar aos 65 anos era o equivalente a se aposentar de “muletas”, disse ele.

“Para mim, Emmanuel Macron é um presidente que tornou os ricos mais ricos”, como disse Gaëtan François, um operador de trator de construção e vereador de 40 anos, entrevistado pelo New York Times em frente à prefeitura de Hard Court-aux-Bois.

Nesta disputa, Le Pen se concentrou em questões mais próximas à população e menos em questões radicais da direita francesa como o problema da imigração e do islamismo. A candidata visitou diversos vilarejos no norte do país e áreas com alto índice de desemprego, locais onde teve mais votos. Em sua campanha, ela sabiamente criticou o governo Macron e chamou o povo a lutar contra a miséria e a “injustiça insuportável” – como ela mesma disse – das medidas econômicas de Macron.

Os trabalhadores franceses, especialmente aqueles mais desorganizados e distantes dos sindicatos, estão votando na extrema-direita. Agora, o povo está preocupado em comer, sobreviver, e claramente não será o Macron que vai resolver a situação. É natural que, na ausência da esquerda, o povo vote em Le Pen.

Le Pen também é beneficiada por uma guinada à direita que vem tomando lugar na França junto à radicalização da população perante a miséria. A direita francesa hoje tem canais como CNews – semelhante a Fox, diversos think tanks e várias plataformas nas redes sociais. Essas coisas “não existiam na França ou estavam em estágio embrionário”  alguns anos atrás, como declarou François de Voyer no início de abril, apresentador e financiador do Livre Noir, um canal do YouTube com um ano de existência focado em políticos de direita e extrema-direita. Além disso, a imagem de Le Pen ficou mais moderada e mais popular ao lado do outro candidato da extrema-direita Éric Zemmour, que também teve um resultado expressivo entre os novos candidatos e adotou posições bem mais extremas que Le Pen.

Finalmente, Le Pen assumiu em grande medida o papel que a esquerda deveria assumir, e a esquerda se tornou avalista de Macron. Tal exemplo mostra uma das funções da extrema-direita para manter o imperialismo no poder mesmo com os ataques mais brutais contra o povo.

Por outro lado, o que acontece na França mostra uma crise no seio do imperialismo. A França é, juntamente com a Inglaterra e a Alemanha, o país mais importante do bloco imperialista europeu. Le Pen discursa em defesa da nacionalidade francesa, e exalta a radicalização do povo contra as medidas neoliberais, essas, impulsionadas pela própria União Europeia e pelos Estados Unidos. Pois bem, se o Brexit fosse um golpe para a unidade imperialista, uma quase saída nacionalista francesa, conforme estabelecido nas propostas de Le Pen, teria deixado a União Europeia em risco de morte.

Sendo assim, rapidamente figuras centrais do imperialismo europeu comemoraram a vitória de Macron:

“Juntos, avançaremos a França e a Europa”, escreveu Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, em francês no Twitter.

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, escreveu no Twitter que “podemos contar com a França por mais cinco anos”. 

O chanceler Olaf Scholz, da Alemanha, disse que a reeleição de Macron foi um “voto de confiança na Europa”.

Macron venceu, entretanto as medidas neoliberais apoiadas por todo o imperialismo não vão. Le Pen e outros setores vão buscar a oposição no parlamento, mas, com a política de terra arrasada quem vai sofrer com a vitória de Macron e o fortalecimento da extrema-direita é o povo.

Foram Macron e o imperialismo que fizeram a extrema-direita crescer, e a esquerda simplesmente ficou a reboque de Macron. Mesmo que a situação possa parecer de desastre impedido, o novo governo Macron cobrará da esquerda e do povo um preço gigantesco, inclusive para sua própria reorganização na França. 

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