Novamente contrariando o mercado, Lula anunciou para a presidência, em seu governo, do Banco Nacional de Desenvolvimento e Economia Social, o BNDES, Aloizio Mercadante (PT). Mercadante é o presidente da Fundação Perseu Abramo, e esteve ao lado dos governos Lula e Dilma. Durante o primeiro governo Lula, foi líder do governo no Senado. Com Dilma, ocupou os cargos de ministro da Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, além da Casa Civil.
A reação negativa do “mercado” indica um desacordo com a nomeação. Apesar de compor a burocracia do PT, Mercadante, tal qual Haddad, é um homem próximo de Lula, e é esse o problema para os banqueiros. Na prática, tanto o BNDES como o Ministério da Fazenda, sob Haddad, irão operar a política econômica direta de Lula, sem uma disputa interna na área da economia do governo. Assim, as políticas de desenvolvimento nacional dessa área, ao menos a nível ministerial e do BNDES, não terão obstrução ou sabotagem, pelo menos a princípio.
O “mercado” exigia pessoas do perfil de Henrique Meirelles, Armínio Fraga e Pérsio Arida, banqueiros e homens de banqueiros. Já Mercadante e Haddad não só são integrantes do PT, como compõem um grupo considerado de confiança pelo futuro presidente. A reação do setor financeiro foi imediata, com as variações de costume frente a qualquer medida que não seja um ataque aberto ao povo. O Ibovespa recuou 0,96%, e o dólar variou 0,17% na tarde do anúncio de Aloizio Mercadante para o BNDES. Mercadante, apesar de economista como Meirelles, tem um perfil visto como oposto ao do banqueiro pelo “mercado”.
De acordo com Matheus Pizzani, economista da CM Capital: “Ele é lido como um economista heterodoxo, o que não é bem visto pelo mercado, considerando a percepção de que isso pode envolver retomada de políticas de caráter desenvolvimentista.”
O problema do “mercado” não se dá diretamente com as pessoas indicadas por Lula, mas pelo fato de que, dada sua proximidade com o presidente eleito, que está sujeito a uma enorme pressão dos trabalhadores, as áreas geridas por esses indicados serão passíveis da mesma pressão. Um membro do “mercado”, sem ligação com as massas ou com Lula, seria independente, nesse sentido, dos movimentos dos trabalhadores.
É preciso, portanto, intensificar essa pressão. Através da mobilização das amplas massas exploradas, para levar a política econômica do governo Lula à frente, no sentido de atender às reivindicações dos operários, dos camponeses, de toda a classe trabalhadora do País. Se o capital financeiro não aceita sequer nomeações e uma medida tão insuficiente como a PEC da Transição, que dirá uma política econômica mais efetiva, que contemple os trabalhadores do Brasil. O choque com a burguesia é, nesse sentido, inevitável, e as organizações dos trabalhadores também devem estar prontas para ele.