Apresentamos aqui aos leitores uma das mais esperadas entrevistas da série de entrevistas do Diário Causa Operária com os candidatos do PCO. O entrevistado da vez é Jairo Palheta da Silva, candidato ao Governo do Amapá. O companheiro é um agricultor familiar, trabalha na produção de macaxeira e maxixe.
É assentado pelo INCRA no assentamento federal Raimundo Osmar Ribeiro desde 2017. É um importante dirigente do movimento sem terra da Frente Nacional de Lutas (FNL). Coordenou o movimento dos sem teto em Macapá, de 2011 a 2017, liderando três ocupações na área urbana, com movimentos vitoriosos na ilha Mirim e Infraero.
Sua candidatura está à serviço da luta pela reforma agrária com expropriação do latifúndio, da luta por moradia e por reforma urbana sob o controle popular e da união por Lula presidente e por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo.
Segue a entrevista na íntegra:
Diário Causa Operária: Como é a vida de um militante sem terra?
Jairo Palheta: A vida de um militante sem terra primeiramente precisa ser voluntária, é preciso ter vontade, porque todo o sistema é contra o trabalhador rural que quer ter um pedaço de lote. O primeiro adjetivo que é posto a estas pessoas, a estes trabalhadores que militam, é de vagabundo, de marginal que não tem nada para fazer. Outro empecilho é a limitação financeira, sobrevivemos com os próprios recursos, fazemos nosso trabalho na horta ou na fazenda e trabalhos precários na cidade.
Mesmo assim, em paralelo a isso, o militante sem terra tem uma vida de militante. A militância é justamente a luta que ele sabe e tem certeza que pode mudar a vida dele, tendo acesso ao lote ele vai dar primeiramente o teto à sua família e vai poder produzir alimentos.
Diário Causa Operária: E como tem sido a luta da FNL no Amapá?
Jairo Palheta: A Frente Nacional de Lutas se organizou a partir de um lapso com o MST e começamos a nos organizar em 2014 no Amapá. Lutamos para conseguir terra para todos que não têm.
O INCRA daqui não tem objetivo de distribuir terra. O direcionamento da terra aqui sempre foi só para quem tem dinheiro. Inclusive, aqueles que não têm precisam enfrentar muitas operações da polícia federal.
Agora, a falta da política da reforma agrária apenas piorou com o governo Bolsonaro. Faz seis anos que no Amapá não se cria assentamento, não se constrói nenhuma casa popular. No Amapá, a reforma agrária não existe na prática. E a FNL entra justamente para contrapor essa posição do governo federal. Lutar por terra, por casa, por alimento e por moradia. Essa luta não tem sido apenas no meio rural, mas também no meio urbano. Onde as pessoas sem moradia e sem teto vivem em baixadas, com casas que têm quase 7 núcleos familiares, onde as pessoas não vivem, sobrevivem. É preciso que essas famílias se organizem. Esse é o trabalho da FNL. Organizar o trabalhador para lutar pelo teto.
Não queremos apenas o Minha Casa Minha Vida, que chamamos de casa de pombo, mas queremos o acesso ao lote. Ao redor de Macapá e de Santana se processam muitos condomínios de luxo, pois as empresas fraudam documentos com o governo e os juízes corruptos, que facilitam para as empresas a venda de lotes. Enquanto isso, com o trabalhador na mesma região, em uma ocupação no Bairro Novo Horizonte a Polícia Militar é a primeira que chega para sovar no lombo do trabalhador.
Ou seja, o trabalhador não tem direito ao teto. Eu vim do movimento sem teto, e lutei muito contra o atual candidato do governo do Amapá, Antônio Waldez. Foi ele o que mais bateu no lombo do trabalhador, mesmo sendo do PSOL. Agora, ele já passou pela Rede e atualmente está no Solidariedade, que de solidariedade com o movimento sem teto não tem nada.
Esse é o papel da FNL, organizar os trabalhadores. Sabemos que as eleições não resolvem os problemas dos trabalhadores, mas é um ambiente que temos para amplificar as dores do povo, as lutas, para chamar mais trabalhadores para a construção de conscientização.
Diário Causa Operária: E como tem sido a intervenção do PCO na luta pela terra no Amapá?
Jairo Palheta: O Partido da Causa Operária tem sido bastante esclarecedor, foi justamente por isso que saímos do PSTU. A política do PCO é voltada para os trabalhadores do campo, nós nos sentimos assistidos. É uma política que atende às necessidades do povo trabalhador. Essa primeira eleição que participamos como candidato a governador é justamente um ponto de partida para a construção do partido aqui no Amapá, principalmente no movimento dos sem terra e do sem teto.
Como costumamos dizer, vai haver um terceiro turno que é quando de fato o povo vai para a luta, vamos organizar os trabalhadores, o povo pobre, o povo sem teto, o povo sem terra. Porque o campo da eleição é um campo que não condiz plenamente aos interesses da classe trabalhadora, e só organizando os trabalhadores que vamos conseguir alguma coisa. Depois do final desse primeiro turno com certeza vamos estar nos organizando, e fazendo que principalmente as mulheres, que são as que mais sofrem sem ter um teto e um solo para morar e cuidar dos filhos, possam ter sua moradia.
Os candidatos que vão ganhar agora representam a perpetuação da mesma política que já vem sendo aplicada no Amapá. O governo atual tem 2 planos, o vice-governador do governador atual, e o outro que ele está carregando.
Candidato a governador no AP participa de atividade em Macapá
Diário Causa Operária: Quais as propostas do PCO para a questão agrária?
Jairo Palheta: O PCO com suas propostas para a reforma agrária no planejamento de luta é o ideal. Estão querendo transformar o Amapá no Mato Grosso, onde se produz muita carne mas é onde tem mais fome, onde tem fila de osso para o povo comer.
O agronegócio produz muito, só que ele decide para onde vai vender. E ele decide vender para fora do Brasil, deixando o povo brasileiro com fome. A reforma agrária faz o trabalho inverso, além de distribuir terras, de democratizar terras para mais pessoas, essas pessoas produzem alimentos para si e para o povo daqui. O Amapá não pode se tornar palco de fome e de mortes como no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
A proposta para cá é pegar terras que estão próximas de Macapá, que chamamos de “filé mignon”, e passar todas estas terras para a reforma agrária. Muitas dessas terras têm documentação mas estão vazias, o que por lei permite a distribuição. Ao todo, pleiteamos pelo menos um milhão de hectares deste perímetro para que possamos democratizar o alimento.
A causa da reforma agrária é justamente a produção de alimentos, as pessoas pararem de sofrer. A crise hoje no Amapá não é por causa da guerra na Ucrânia e da inflação como costuma se dizer, é justamente porque aqui não são produzidos alimentos. Se tem produção de alimentos acabamos com a inflação e alimentamos o povo.