A crise capitalista vem se alastrando e atingindo países desenvolvidos, como é o caso da Inglaterra, cujo primeiro-ministro, Boris Johnson, renunciou semana passada.
A inflação, que tradicionalmente é uma praga para os países mais pobres, chegou também na Inglaterra batendo recorde, a mais alta do G7 depois de quatro décadas. O índice está acima de 12%, o que agrava o custo de vida no país. A libra esterlina em relação ao dólar vem bem fraca. Investidores estão considerando a situação do Reino Unido como de risco. Segundo Jack Leslie, economista da Resolution Foundation,
“Com as perspectivas econômicas tão pouco claras, ninguém sabe até onde a inflação pode ir e por quanto tempo ela continuará – tornando os julgamentos de política fiscal e monetária particularmente duros”.
A Resolution Foudation afirmou também que essa crise está sendo agravada pelo Brexit, que traz implicações a longo prazo nos salários e produtividade do país. O salário do trabalhador inglês não acompanha a inflação. Sindicatos começam a alertar sob a iminência de dezenas de greves da classe operária nos próximos meses.
Rui Costa Pimenta, presidente Nacional do PCO, em sua análise política tradicional na COTV, sobre a queda de Boris Johnson, fruto dessa crise do Reino Unido, afirma:
“Boris Johnson é um político parecido com Bolsonaro, embora ele seja de do partido conservador, mas isso não quer dizer nada. Ele tentou se manter aí contra a decisão de setores do partido dele, mas ele se defrontou com uma renúncia coletiva dos ministros e caiu. Ele teve que renunciar à liderança do partido. De acordo com o sistema político britânico quem escolhe o primeiro ministro é o partido (…). Quem que derrubou Boris Johnson, porque que ele caiu? Os jornais e a imprensa capitalista ela se apressou em falar que ele caiu por causa do Brexit, que é uma interpretação capciosa. Eles sempre foram contra o Brexit então eles estão falando: olha, tá vendo, apoiou o Brexit e agora caiu. É mentira, isso é uma falsificação grosseira da realidade, ele não caiu nem remotamente por causa do Brexit. O Brexit, tudo bem, teve um efeito negativo na economia britânica, mas nada que derrubasse o governo efetivamente. O Boris Johnson estava bem cotado, ele fez aquela encenação que a burguesia de vários países fez na época da pandemia, aquela discurseira e tal, grandes defensores do povo contra o vírus, apesar de que ele foi pego com a boca na botija fazendo uma festa de arromba sem máscara, sem nada, no meio da pandemia, isso aí afetou um pouco a credibilidade dele. Mas o que está derrubando Boris Johnson é na realidade um fenômeno muito mais poderoso, que se tornou realidade, que é a inflação. O Reino Unido, vocês imaginam, um país com uma economia bastante estável, está com uma inflação de 12%. Se a gente pegar uma economia latino-americana que está bastante desestabilizada, como é a Argentina, por exemplo, essa economia está com 29% de inflação. Então, dar para comparar, 12% no Reino Unido e 29% na Argentina é uma inflação explosiva. Quer dizer, conclusão: Boris Johnson foi derrubado pelo Putin. Quando Putin iniciou a operação militar na Ucrânia, Boris Johnson fez uma série de declarações agressivas para mostrar força, uma dessas declarações levou inclusive os russos a colocar o arsenal atômico em estado de alerta máximo, aí causou uma tensão internacional esse acontecimento, mas ele não fez nada, finalmente foi derrubado pelo próprio Putin. Boris Johnson é uma vítima das sanções que os próprios países imperialistas lançaram contra a Rússia. Essas sanções estão na origem da inflação desses países, uma inflação que está ligada ao problema dos combustíveis. A Inglaterra é muito vulnerável a isso. Diante das declarações do próprio Boris Johnson agressivas contra a Rússia, Putin cortou o fornecimento de Petróleo aos ingleses, o que levou o preço a estratosfera”.
Foi esse apoio do primeiro-ministro à guerra imperialista dos Estados Unidos contra a Rússia que intensificou a crise do regime britânico, cujas consequências serão de fato mais mobilizações populares da classe trabalhadora em busca de melhoria. A Europa, que passa por crise semelhante, também será tomada por greves operárias e, se não conseguirem frear a inflação, poderá ver uma crise gigantesca em todo seu continente, abalando mais ainda o caquético regime capitalista nessa ordem mundial.