Há quase 22 anos esperando por demarcação legal e vendo suas terras serem invadidas, o povo Nawa do Acre começou em 2021 uma verdadeira saga para executar o que o governo não fez. Homens, mulheres e crianças peregrinaram em missão de autodemarcação pelas fronteiras do local ocupado pelos seus antepassados, enfrentando as intempéries da natureza e, neste mês de fevereiro, o site Amazônia Real lançou uma reportagem especial relatando a jornada desse para concretizar esse objetivo. Os repórteres Fábio Pontes e Alexandre Noronha, assinam o trabalho no canal de notícias citado acima e contam detalhes dos 5 dias quando acompanharam a expedição indígena. Leia o texto na íntegra e assista ao vídeo clicando neste link: https://abre.ai/d2Kj
Apesar de ameaçados pelo crescimento de fazendas ao redor, o motivo que desencadeou a ação corajosa desse grupo foi o projeto da rodovia Brasil-Peru. Recusado pelo país vizinho, o projeto da rodovia foi “ressuscitado” por Bolsonaro, ignorando suas implicações socioambientais na região de maior biodiversidade do Brasil e dividiria ao meio o Parque Nacional da Serra do Divisor. O prolongamento da BR-364, que hoje termina em Mâncio Lima (670 km de Rio Branco) começou a ser discutido na década de 1970, durante a ditadura militar. Mas o projeto parecia esquecido com a inauguração, em 2010, da Rodovia Interoceânica (Estrada do Pacífico), que já liga o Acre e o Brasil à costa peruana.
Segundo a reportagem, no dia 15 de outubro de 2003, aconteceu uma audiência na sede da Justiça Federal em Rio Branco, para conciliação e delimitação de terras indígenas:
“ficou definido que o governo brasileiro, por meio da Fundação Nacional do Índio (Funai), reconheceria a existência de mais um povo indígena: os Nawa. Além da Funai, estavam à mesa o Ibama, o Incra e o Ministério Público Federal. O cacique Railson Nawa representava a comunidade.
Ao final, o juiz federal David Wilson de Abreu Pardo estabeleceu o prazo de três meses para que a Funai fizesse a identificação e delimitação da Terra Indígena Nawa. Em 19 de novembro daquele ano, a fundação baixou a Portaria 1.071 para iniciar o processo de identificação do território. Os três meses já se transformaram em 18 anos e até hoje os Nawa não tiveram o processo de demarcação concluído, cabendo a eles fazer a autodemarcação.” Um exemplo de que a organização popular é a única saída para garantir direitos.
O povo Nawa é conhecido por consagrar as famosas “medicinas da floresta” como a Ayahuasca e o Rapé, popularizadas no mundo todo com a expansão da doutrina do Santo Daime, também do Acre. Considerados extintos até 1999, seus integrantes vêm fazendo um grande trabalho de resgate histórico e promoção de sua cultura. O vídeo no site mostra os guerreiros Nawa utilizando serra elétrica e outras tecnologias que auxiliam na sua luta, caso contrário, seria ainda mais difícil resistir. Os identitários, que dizem amar os nativos, entretanto fazem um desserviço aos povos originários à medida que evocam um ser místico e abstrato enquanto ignoram os reais problemas dos povos do campo e das florestas. A análise materialista da realidade nos faz, inevitavelmente, defender o armamento da população oprimida de todo o mundo, e portanto dos indígenas também. O povo Nawa com seu pioneirismo em demarcar por conta própria o seu território, impulsiona outros “parentes” a fazerem o mesmo e nós, enquanto marxistas, devemos dar todo apoio a formação dos comitês de auto defesa indígenas.
