Uma coluna publicada no jornal golpista Folha de S. Paulo, de autoria de Thiago Amparo, advogado negro e professor de direito internacional e direitos humanos, um dos expoentes dos identitários, revelou a que serve essa ideologia. Amparo dedicou sua coluna a criticar a foto em que se oficializou a indicação do PSB para concorrer a vice-presidente na futura chapa do ex-presidente Lula. O nome escolhido pelo PSB para indicar foi o do tucano, neoliberal e golpista Geraldo Alckmin.
O que chamou a atenção de Amparo, que se diz de esquerda, no entanto, não foi a figura política de Alckmin ou o programa que ele representa, mas outra coisa expressa na fotografia tirada dos membros do encontro. “A foto branca Lula-Alckmin”, título da coluna de Amparo, chama a atenção para o fato de serem todos os membros do encontro “brancos”, até mesmo o ex-presidente Lula, um nordestino, operário que saiu da miséria, na ótica de Amparo é branco, assim como Alckmin. Seria, segundo a expressão vazia dos identitários, o pacto da branquitude e da heterossexualidade (o colunista chama a atenção para o fato de somente haver duas mulheres brancas, sendo uma esposa de Lula) em ação.
O sentido da manobra é evidente, por meio da identificação como “brancos” procura-se igualar os partidos da direita tradicional, neoliberal, racistas e a candidatura do ex-presidente Lula, não havendo diferença substancial entre ambos. Evidentemente que se trata de uma peça de propaganda anti-Lula. O principal criticado é o próprio ex-presidente Lula, não porque tenha capitulado e aceitado uma aliança com setores da direita, mas porque é branco e, supostamente, não se opõem ao referido e imaginário pacto.
Forçando mais um pouco a identificação do PT e de Lula com os partidos tradicionais da burguesia, Amparo afirma:
“… ou o PT-PSB reconhece que os ventos da mudança apontam para compartilhar os assentos na mesa e na foto, ou estarão referendando que o velho normal, pré-Bolsonaro, era suficiente. Não era, houve Belo Monte, lei de terrorismo e lei de drogas e pouca garantia de direitos LGBTs e para mulheres”.
Ante uma profunda polarização política, que coloca as massas populares – que lutam dia a dia pela sobrevivência por conta da destruição econômica promovida pelo bolsonarismo e pela direita tradicional neoliberal – do lado da candidatura Lula para se defender dessa política e que de outro, coloca toda a burguesia do lado, seja de Bolsonaro ou da terceira via, mas contra Lula, Amparo atua para confundir o panorama. Utilizando um critério absurdo, a presença de negros, LGBTs, etc., tenta criar uma situação em que todos os gatos são pardos.
A ideia oculta é beneficiar a terceira via, que poderá ter um candidato, embora branco, que se declarou gay, rompendo aí um dos pactos. Isso fica bem expresso na última frase de sua coluna: “Precisamos pensar um novo futuro, com Bolsonaro derrotado”. Ao invés de afirmar um novo futuro com Lula presidente, único candidato do campo popular e democrático que pode vencê-lo, Amparo deixa em aberto o substituto de Bolsonaro, abrindo claramente espaço para a terceira via.
O identitarismo esta sendo usado para mostrar, ao menos a uma parcela da classe média, que Lula não é diferente de Bolsonaro ou de outros políticos tradicionais. Um dos elementos identitários da imprensa de esquerda, o jornalista Mauro Lopes, em uma entrevista, queria que o ex-presidente Lula se comprometesse com uma porcentagem de negros, mulheres etc., em seu possível futuro ministério, o que evidentemente o ex-presidente se negou a determinar, foi um motivo de crítica para identitários. Sobre o programa político que Lula pretende realizar e qual programa político as massas oprimidas devem lutar, os identitários se calam sempre.
A ideologia identitária é uma arma forjada pela burguesia imperialista contra seus inimigos de classe, isto é, a classe operária e o conjunto dos oprimidos. Entregou-a nas mãos da pequena burguesia, incentivou-a, assim como os romances de cavalaria incentivaram Dom Quixote a sair pelo mundo reparando agravos contra os mais fracos, a empunhá-la e segregar a nova moralidade (a moral identitária), assim como condenar os não crentes, com o mesmo furor, embora não com os mesmos métodos, que outrora fazia a Inquisição, chamada Santa. Para além da cruzada moral, puramente fantasiosa, que fazem, de maneira consciente ou inconscientemente é auxiliar a burguesia na sua luta contra o nacionalismo e contra os oprimidos e explorados.