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Samba Operário

Há 40 anos, morria Adoniran Barbosa

Um grande sambista que traduziu as dificuldades e as agruras de uma população pobre enfrentando a urbanização e a industralização de São Paulo sem perder o humor e a alegria

Muitas pessoas, certamente mal-intencionadas, dizem que São Paulo é o túmulo do samba. Quem conhece a história do samba, sabe a importância dos sambistas paulistas como Geraldo Filme, Toniquinho Batuqueiro, Paulo Vazolini, dentre outros. Mas, sem dúvida, uns dos mais brilhantes músicos que São Paulo produziu foi Adoniran Barbosa autor de grandes sucessos e foi inúmeras vezes regravados por grandes artistas

Nesta quarta-feira completa-se 40 anos que João Rubinato que nos abandonou. Nascido em Valinhos , à época distrito de Campinas, filho de  imigrantes italianos de uma das comunas de Veneza.

Nosso querido ítalo-brasileiro logo descobriu as agruras da classe trabalhadora, pois teve o ano de nascimento alterado na sua certidão de nascimento em dois anos para a frente para poder ter idade para trabalhar. O seu primeiro emprego foi em uma fábrica que só aceitava criança acima de 12 anos.

Adulteram o “batistério” para ele “pegar no basquete” mais cedo, “que a fábrica não aceitava gente com dez anos, só com 12” como ele explicou no programa Ensaio da TV Cultura gravado em 1972 (disponível na Internet).

Foi o inicio de uma longa jornada com várias atividades profissionais, tais como carregador de café em vagões em Jundiai, entregador de marmita, varredor em fábrica de tecidos, tecelão, encanador, pintor, vendedor ambulante de meias, garçom e metalúrgico. Mas, o que ele queira mesmo era ser sambista e artista.

Começou a frequentar os programas de calouros da Rádio Cruzeiro do Sul nos anos 1930 e acabou contratado pela emissora. Em 1935 ganhou o concurso de músicas carnavalescas da prefeitura de São Paulo com a marcha Dona Boa com J. Aimbere. Depois, compõe uma série de sambas e marchas, como Agora Podes Chorar , Se Meu Balão Não se Queimar, Você Tem um Jeitinho , todas compostas  com Nicolini e Malandro Triste com Mário Silva.

No inicio dos anos 40, aparece uma nova faceta do artista Rubinato, atuando como comediante  no programa Serões Domingueiras na rádio Record. Com o texto cômico do produtor e escritor Osvaldo Moles, Adoniran Barbosa, nome artístico da época dos programas de calouros, assume vários personagens como como Zé Cunversa, o malandro; Jean Rubinet, o galã do cinema francês; Moisés Rabinovic, o judeu das prestações; Richard Morris, o professor de inglês; Dom Segundo Sombra, o cantor de tango-paródia; Perna Fina, o chofer italiano; e o sambista Charutinho.

Com esses tipos é eleito o melhor interprete cômico do rádio paulista em 1950. No ano seguinte, ganha o primeiro de uma série de cinco prêmios Roquette Pinto na mesma categoria.

Em 1955, tem o seu primeiro sucesso quando Saudosa Maloca, gravada inicialmente em 1951, na interpretação do grupo Demônios da Garoa. Suas composições mais  famosas são Samba do Arnesto (1953), Iracema (1956), Tiro ao Álvaro (1960), Trem das Onze ( 1964) entre outras.

O talento de Adoniram é reconhecido pelos cariocas quando a gravação de Trem das Onze pelo Demônios da Garoa é vencedora do Prêmio de Música Carnavalesca do IV Centenário do Rio de Janeiro em 1965.

O seu tipo popular e linguajar característico de italiano da Mooca permitiu sua ida para o cinema inicialmente nas produções da Cia. Vera Cruz como O Cangaceiro (1953), Esquina da Ilusão (1953), e O Candinho (1954), este com Mazaropi, e para a televisão onde aparece em comerciais e na novela da Tupi Mulheres de Areia (1973-74).

A poesia das músicas de Adoniran traz todas as agruras da classe trabalhadora com humor em tons agridoces e melancolia. Sua escrita, sem medo de ter erros de português, traz a linguagem dos operários em São Paulo. Uma classe social que enfrenta os despejos das moradias, os alagamentos devido a um poder público negligente, a exploração nos canteiros de obra e nas fábricas. Mas tudo isso sem perder a esperança por dias melhores, além de trazer os encontros nos bares e nas rodas de samba para encarar as dificuldades no dia seguinte.

Adoniran traduziu o processo de urbanização de São Paulo e sintetizou as interações entre os negros e os imigrantes italianos que são elementos relevantes da classe operária paulista com seu linguajar italiano abrasileirado

Sem dúvida, sua poética incomodava as autoridades principalmente na ditadura. Sua música, Tiro ao Álvaro, fora censurada pela ditadura. Alegaram que as palavras alteradas pelo linguajar popular que denotava uma “falta de gosto”. Certamente uma razão aceitável para a atual esquerda liberal, para a qual a liberdade de expressão tem limite.

Passados 40 anos, a relevância de Adoniran Barbosa continua enorme. Seguem as regravações de seus maiores sucessos, que servem como trilha de telenovelas, sem mencionar os vários livros editados e disponíveis que abordam sua vida e sua obra.

Caso se interesse em conhecer mais sobre este grande sambista, podem ouça o podcast Musica de Classe n° 12 do canal de You Tube Radio da Causa Operária, dedicado ao artista, bem como diversas matérias publicadas pelo DCO.

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