A escalada inflacionária, juntamente com a progressiva desagregação do governo Bolsonaro, deu início a um importante processo de mobilização no movimento operário. A greve dos metalúrgicos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a movimentação em diversas categorias em vários estados, inclusive com confrontos com o prefeito golpistas, Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, na greve dos Garis, são evidências deste quadro.
O que marca a situação, no entanto, é que a profunda crise do governo não encontra uma contrapartida em uma ação unitária da classe operária. Mais ainda, importantes tentativas de mobilização, como os atos do dia 09 de abril, são abertamente boicotadas pelas principais lideranças da esquerda, que realizaram os atos com palavras de ordem vazias, sem um verdadeiro conteúdo político definido.
As greves dos trabalhadores garis e professores estaduais do Piauí e de Minas Gerais e diversas outras categorias, como a dos trabalhadores do Banco Central, somente não encontram condições para expandir-se e aprofundar-se pelo quadro de total isolamento a que estão submetidas. A direção da CUT, a única verdadeira Central Sindical do País, forjada nas lutas operárias no início da década de 1980, literalmente desapareceu do cenário político. Não há palavras de ordem para o movimento operário, não há campanhas, não há planos de lutas ou mesmo apoio às mobilizações. Neste momento, a CUT simplesmente apagou-se.
Com isso, o governo e a burguesia ganham tempo para estruturar um novo golpe contra a população, simplesmente inevitável diante do agravamento da crise. A receita é conhecida: confiscar os salários através da escalada da inflação, para depois confiscar novamente os salários através de um plano deflacionário. A isto chamam “plano econômico” e “modernidade”.
Na medida em que se encontra incapacitada pela política da sua direção a atuar unitariamente, ou seja, como classe, as amplas massas operárias, não obstante, lutam como podem. É o caso de greves parciais, a maioria das quais é feita contra a política das direções, como ocorre com a greve dos metalúrgicos da CSN, que passaram por cima das direções pelegas da Força Sindical e colocaram na parede os patrões para que cumpram com as suas reivindicações.
Para estruturar a reação operária faz-se necessário uma orientação política de combate da direção da CUT que, literalmente, ponha em movimento a principal organização operária do País.
Está colocado neste momento uma campanha pela convocação de uma plenária nacional da CUT com delegados eleitos pelas bases. Esta plenária deve ter como único objetivo a discussão e elaboração de um plano unitário de lutas que dê respostas às lutas salarias, à crescente onda de demissões, às privatizações, ou seja, ao conjunto da política de Bolsonaro, do imperialismo e do grande capital nacional.
Esta campanha deve ser levada aos locais de trabalho para que seja colocado em marcha não mais um evento das direções sindicais, mas uma verdadeira mobilização operária. Nesta plenária é necessário discutir uma pauta clara de reivindicações que contemple as reais necessidades dos trabalhadores (salário mínimo, reposição salarial, estabilidade no emprego etc.) e medidas concretas para unificar as campanhas salarias, a luta dos servidores públicos e das estatais, bem como unificar a luta dos trabalhadores da cidade com a do campo.
A necessidade da intervenção unificada da classe operária coloca em pauta a discussão da greve geral, discussão que deve partir do balanço e da superação das anteriores “greves gerais” da CUT que se resumiu, até agora, a manifestações de protestos sem qualquer continuidade e sem reivindicações definidas. Esta é a única saída diante do caos em que o País está colocado, com a qual arca a classe trabalhadora.