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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Reforço ao Golpe de 2016

Fertilizantes do imperialismo

Subsecretária de Estado para Assuntos Políticos dos EUA veio ao Brasil falar sobre "fertilizantes". Quais são os fertilizantes

A especialista da OTAN

O Brasil recebeu uma doutora em golpe de Estado, a subsecretária para Assuntos Políticos dos Estados Unidos, Victoria Nuland, nesta segunda-feira (25/4). Em nota, o Itamaraty divulgou que o diálogo objetiva: “ii) promoção da prosperidade econômica; e iii) fortalecimento da cooperação em defesa e segurança e promoção da paz e do primado do Direito”. Além de Victoria Nuland, vieram ao Brasil, o Subsecretário de Estado para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente, Embaixador Jose W. Fernandez; o Vice-Secretário de Estado Assistente para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Ricardo Zúniga; o Secretário de Estado Assistente para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Mark Wells; e a Secretária de Estado Assistente para Transição Energética, Anna Shpitsberg”, expõe a nota.

 (crédito: Ed Alves)
Foto: Ed Alves

O pano de fundo do diálogo foi a crise energética e a guerra na Ucrânia, mas o trojan, como sempre, foi a “democracia” norte-americana. Como as eleições brasileiras são as mais importantes deste ano, Victoria Nuland confirmou aos jornalistas presentes que um dos temas foi o sistema eleitoral brasileiro. A especialista da OTAN afirmou categoricamente: “Temos sim confiança no sistema e vocês (brasileiros) precisam confiar no sistema também”.

Em clima de “festa da democracia”, Victória Nuland também considerou que “as campanhas são abertas e o debate sempre faz parte das eleições”. Nuland [uma especialista em golpe] completou: “agora, é importante ter confiança nos sistemas para mostrar como a democracia brasileira é forte no Cone Sul”.

Victoria Nuland e o Euromaidan

A Secretária para Assuntos Europeus e Eurasianos Victoria Nuland (C) e o Embaixador Geoffrey Pyatt (E) distribuem doces na Praça da Independência em Kiev, 11 de dezembro de 2013. REUTERS/Andrew Kravchenko/Pool

Um pouco de bolos e bolachas compraram os manifestantes do Euromaidan, e bilhões de dólares foram despejados aos políticos ucranianos. “Por trás” da imagem, aquilo que parece uma bela ação, na realidade é uma articulação da senhora Victoria Nuland (de jaqueta azul) para que o golpe na Ucrânia tivesse características nazistas.

Assim como no golpe no Brasil, no Euromaidan existiam diversas possibilidades nas mãos dos EUA, desde o PSDB até Bolsonaro

Em 2013, Victória Nuland foi designada por John Kerry, então Secretário de Estado de Barack Obama, para ser Subsecretária para Assuntos Euroasiáticos. Nuland possui grande conhecimento sobre a região e fala russo fluentemente.

Nuland, amparada por forte aparato, conhecia a política da Ucrânia, e manejou as peças com a famosa exclamação Fuck the E.U” (“Dane-se” a União Europeia), quando determinou que o banqueiro Arseniy Yatsenyuk articulasse o líder do Svoboda, Oleh Tyahnybok e Viktor Yanukovych. Em diálogo vazado em 2014, transcrito pela BBC (Ukraine crisis: Transcript of leaked Nuland-Pyatt call), fica claro o desprezo de Washington pela União Européia, consequentemente pelo mundo.

Марионетки Майдана

O áudio reconhecido como autêntico, vazado em primeira mão no YouTube, é representativo. Mais ainda, revela os bastidores de um golpe e as intenções do imperialismo para a Ucrânia e Rússia. O Maidangate suspendeu o acordo com a União Europeia e colocou os nazistas no comando do golpe.

Cinco semanas depois, após duas viagens de Nuland à Ucrânia, foi concretizado um acordo de US$ 5 bilhões com Yanukovych. A finalidade? “Salvar o futuro europeu da Ucrânia, e por isso gostaríamos de ver o presidente liderar seu país”, responde Nuland, se referindo a Viktor Yanukovych. A injeção de recursos dos Estados Unidos “exigiria medidas imediatas para desescalar a situação de segurança e medidas políticas imediatas para acabar com a crise, e levar a Ucrânia de volta a uma conversa com a Europa e o Fundo Monetário Internacional“, discursou.

Imagem
A secretária de Estado, Victoria Nuland, com o líder neonazista do Svoboda Oleh Tyahnybok (esquerda), o banqueiro do FMI Arseniy Yatsenyuk (direita) e o ex-boxeador Vitali Klitschko (centro).

Qual foi o destino do dinheiro? A formação dos batalhões nazistas. A lista incluiu as seguintes hordas:

  • Svoboda (antigo “Partido Nacional-Social da Ucrânia”, que “coincidentemente” tem nome parecido o “Partido Nacional-Socialista Dos Trabalhadores Alemães” de Hitler)
  • Batalhão Azov
  • C14 de Kiev
  • O Batalhão Aidar (em Luhansk)
  • O Wotanjugend (nazistas russos)
  • Ucrânia Patriota (co-fundada pelo presidente do Parlamento Andriy Parubiy)
  • A Milícia Nacional
  • Karpatska Sich
  • Freikorps

Também foram financiadas unidades menores (mais de 30) que se fundiram com as maiores, e todas integradas às Forças Armadas da Ucrânia . Vários símbolos dessas organizações são comuns na Ucrânia (Sonnenrad, Totenkopf, Wolfsangel). Após 2014, a Ucrânia também se tornou o principal “exportador” da ideologia nazista em todo o mundo.

As células nazistas foram organizadas para ser combatentes antirrussos, treinados pela CIA e integrados ao exército ucraniano. Recentemente Victoria Nuland propôs a Zelensky, que o nazista Yarosh fosse designado Comandante-chefe do exército [ninguém pode lutar contra os russos melhor do que os nazistas, de acordo com Nuland]. O imperialismo protegeu ativamente esses grupos nazistas, com papel proeminente do Conselho Atlântico.

A visita de Victoria Nuland ao Brasil

A Reuters reportou a vinda de Nuland, assim como parte da imprensa capitalista brasileira, para dialogar sobre o tema “FERTILIZANTES” (provavelmente para suprir a demanda brasileira e fazer com que o Brasil apoie os Estados Unidos contra a Rússia).

Veículos da imprensa progressista também reportaram, lembrando que Victoria Nuland foi a principal estrategista do Euromaidan, conforme demonstramos na introdução da coluna. Contudo, a questão vai além do briefing oficial. De acordo com o a informação oficial:

A subsecretária Nuland também se reunirá com a próxima geração de empreendedores brasileiros inovadores e líderes em ciência e tecnologia durante sua visita para conhecer suas contribuições para o futuro social, científico e econômico do Brasil.
O subsecretário Fernández também discutirá a resiliência da cadeia de suprimentos com representantes do setor privado e prioridades econômicas e de saúde com altos funcionários do governo brasileiro. O subsecretário Fernandez viajará então para São Paulo em 27 de abril para discutir os desafios da cadeia de suprimentos em setores como energia limpa e saúde, assim como oportunidades para promover a diversidade e o empoderamento econômico das mulheres. (grifos nossos)


Ainda não é possível avançar sobre as ONGs brasileiras envolvidas nesse escândalo com Victoria Nuland, mas no tuíte acima, tem curtidas de lideranças ligadas à Dharma Politics, IrelGov – Instituto de Relações Governamentais; Brazil Foundation e da think tank fluminense Dom Cabral.

Como vimos denunciando, o imperialismo, por meio de grandes organizações brasileiras, se lançará a uma guerra de informações antirrussas sem precedentes, ao mesmo tempo que reorganiza a burguesia brasileira em torno dos Estados Unidos e países da União Européia.

Veículos de imprensa apoiados por dinheiro do Departamento de Estado dos EUA, como a CNN Brasil, entrevistou Nuland. De acordo com a subsecretária:

Falamos sobre as eleições hoje nas reuniões de alto nível, e a mensagem que transmitimos é que os Estados Unidos têm confiança real no sistema eleitoral brasileiro. Vocês têm um dos melhores no hemisfério, em termos de confiabilidade, transparência, etc. Todos os brasileiros devem ter confiança no sistema e devem participar. Isso é o mais importante. E os líderes brasileiros devem expressar a mesma confiança nesse sistema daqui para a frente, e esperamos que isso aconteça aqui, afirmou Nuland à CNN Brasil.

Evidentemente que a mensagem de Nuland, se traduzida politicamente, é uma versão do Maidangate para a situação brasileira, de acordo com os protocolos da Atlantic Council, uma das mais influentes think tanks do mundo.

WASHINGTON, ESTADOS UNIDOS – Victoria Nuland, Secretária de Estado Adjunta para Assuntos Europeus e Eurasianos no Departamento de Estado dos Estados Unidos fala para uma casa lotada no Conselho Atlântico. (Foto por Erkan Avci/Agência Anadolu/Getty Images)

Relações da Atlantic Council com a Terceira Via

A principal representante da Atlantic Council no Brasil é Valentina Sader, Diretora Associada e Líder do Conselho no Brasil, Adrienne Arsht Latin America Center. Recentemente intermediou conversas com Ciro Gomes, Sérgio Moro e Eduardo Leite, que chegou a incluir sua participação no site do governo do Rio Grande do Sul, antes da renúncia. Todas as entrevistas foram feitas em Washington D.C. no evento Brazil’s Choice in 2022.

Ciro Gomes se coloca como candidato de centro e ataca Lula e alinha à pauta norte-americana de desenvolvimento. Afirma Ciro Gomes: “Preciso demonstrar que sou viável”. Aos 41 minutos de entrevista surge a questão de uma correspondente do jornal “O Estado de S. Paulo”, em Washington, Beatriz Bulla:

Ministro bom estar aqui com vocês! Ciro, eu queria perguntar sobre a sua proposta de como chegar competitivo em outubro considerando as alianças daqui até as eleições. A gente tem visto, nas últimas semanas, uma movimentação bastante grande parte de partidos que pretendem criar uma candidatura viável, que seja competitiva, que não seja a do presidente Bolsonaro e nem a do ex-presidente Lula. O nome do senhor aparece aí logo atrás dos dois nas pesquisas.Queria entender como que estão as conversas do Senhor com os partidos que tentam formar essa união, de um nome comum para ganhar força nessa eleição, especificamente ver a possibilidade de fazer uma aliança, por exemplo com o União Brasil e o PSD. Como que estão essas conversas? Obrigada!
Português - Brazil’s choice in 2022: A conversation with presidential pre-candidate Ciro Gomes
Ciro entrevistado pela Atlantic Council , que deixa opera o programa da Terceira Via no Brasil. A entrevista também foi destaque do Estadão.

À Washington, Ciro Gomes disse muitas coisas que interessam aos Estados Unidos, tal como expansão das cadeias de produção de fertilizantes agrícolas. O que aparenta ser um discurso de soberania nacional, Ciro é considerado o político Coca-Cola, pois seu irmão, linha de frente do abutre, foi um dos responsáveis pela aprovação do “marco legal do saneamento básico”, sem nenhuma surpresa à pessoas como Vitória Nuland. Por isso o constrangimento de Ciro Gomes durante a entrevista, onde teve que sorrir “amarelo”, ao falar de “Petrobras estatal”.

A Atlantic Council, surgiu com a missão de encorajar a permanência da OTAN e apresenta uma das maiores expertises em assuntos eurasiáticos, ao lado da Randy Corporation, porém, com o selo e tradição de atuação durante o Maidan, tendo recebido contribuições de 20 países na última década, assumindo uma posição de proeminência na política antirrussa. A política Atlantic Council em

Página inicial da Atlantic Council

Nenhum Think Tank produz tanto material sobre a Rússia, Ucrânia e OTAN como o Conselho Atlântico, onde Nuland tem contribuições teóricas e práticas, não sendo a toa que tenha sido destacada para vir ao Brasil tentar dobrar Bolsonaro e fazê-lo sair da política de “neutralidade”. Nulan é uma estrategista destacada do imperialismo para essa missão, e Ciro Gomes, ao ser uma opção desse Conselho, demonstra que a missão do Brasil é alinhamento total e irrestrito contra a Rússia. No quesito “Ucrânia”, Ciro Gomes está ao lado do imperialismo, até mesmo com mais ênfase que Bolsonaro.

Considerações finais

Conforme exposto nesta coluna, todo cuidado será pouco neste momento. Nuland é agente do golpismo de Estado e articuladora habilidosa.

Como vimos nas articulações da Atlantic Council, Lula não é candidato do imperialismo. Também podemos verificar essa condição através da comitiva norte-americana em visita no Brasil, por isso é preciso reforçar a convocação para este Primeiro de Maio, para lotar a Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, e reforçar o coro por Lula Presidente, por um governo de trabalhadores!

A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a posição deste Diário.

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