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Um obituário político

“Existiram dois Olavo de Carvalho”, explicou Rui Costa Pimenta

Para uma correta apreciação do papel do líder intelectual da extrema direita, é preciso partir da realidade, não da opinião negativa que se tem dele, destacou o presidente do PCO

olavo bolsonaro scaled

Na mais recente transmissão da sua Análise Política da Semana, na Causa Operária TV, Rui Costa Pimenta tomou a morte recente de Olavo de Carvalho (24 de janeiro) como ponto de partida para um exame do papel que o líder intelectual da extrema direita brasileira cumpriu nos últimos anos.

O fenômeno político do “olavismo”

Ao traçar em linhas gerais um obituário do “guru” da família Bolsonaro, o presidente do PCO assinalou que, diante do acontecido, “o melhor não é comemorar, mas não é possível condenar quem comemora”. Independente do desagrado que as posições e as atitudes de Olavo de Carvalho causaram entre muitas pessoas de esquerda, sua contribuição para o desenvolvimento da extrema direita no Brasil merece, como ressaltou Rui Pimenta, uma análise objetiva.

Rui Pimenta assinalou que “não apareceu em parte alguma uma análise sobre o ‘fenômeno político Olavo de Carvalho‘. Disseram que era canalha, um farsante, etc. Mas o fenômeno consiste em que Bolsonaro foi eleito e Olavo de Carvalho era seu guru, o guru de seus filhos; foi um cara ligado à extrema direita norte-americana, ao ‘trumpismo’, colocou vários ministros no governo“.

Segundo destacou, porém, Olavo de Carvalho “não era apenas uma pessoa que indicava ministros. Tinha uma popularidade, criou uma espécie de corrente ideológica, inclusive em um setor da juventude“. Para entender melhor esse fenômeno, “é preciso tomar nota de que existiram duas pessoas distintas sob o nome Olavo de Carvalho“, disse o presidente do PCO.

O intelectual de direita

O “primeiro Olavo”, desconhecido pela esquerda, disse, foi o intelectual que, por exemplo, organizou uma edição dos  Ensaios Reunidos de Otto Maria Carpeaux, na década de 1990, e que se passou para a extrema direita que, em si, não é muito rica de intelectuais. Diante disso, Rui Pimenta salientou “a importância de avaliar o caráter intelectual de Olavo de Carvalho“ e comparou seu caso ao de figuras como Plínio Salgado (fundador do Integralismo, o fascismo brasileiro, admirador de Mussolini, etc.), Gustavo Barroso (renomado membro da Academia Brasileira de Letras e um dos elementos mais radicais da extrema direita integralista nos anos 1920) e Miguel Reale (afamado jurista e também ideólogo do integralismo).

Segundo o presidente do PCO, Olavo de Carvalho pertence a esse tipo de tradição da extrema direita brasileira. “É um dado importante porque o integralismo, não apenas pelo fenômeno intelectual, vai atrair muitos jovens intelectuais, não na qualidade de ideólogos, mas na de participantes”,  ponderou.

Esses jovens, explicou Rui Pimenta, foram atraídos, em parte, pela radicalização política da época, dirigida contra a política tradicional, contra “velha política”, tal como hoje ocorre com Bolsonaro, mas também porque o movimento contava com intelectuais capazes de apresentar suas ideias de maneira mais ampla, aceitável, civilizada, distanciando-se da truculência dos camisas verdes. Como exemplo disso, o presidente do PCO citou os casos do compositor Vinícius de Moraes, que mais tarde rompeu com o integralismo e se passou para a esquerda, e do historiador e escritor modernista, Câmara Cascudo.

“Nesse sentido“, continuou, “o fenômeno Olavo de Carvalho é parecido [com o do integralismo], aproximando uma juventude atraída por ideias, não tanto pela política de extrema direita“. Uma tendência, cogitou, é que após sua morte e o fracasso da extrema direita no governo, uma parcela desses jovens vá se desiludir do olavismo e se passar para a esquerda.

O direitista caricato

A segunda versão de Olavo de Carvalho é a personagem criada por ele mesmo para a Internet e os meios de comunicação, a figura agressiva, com palavrões, etc. “Esse segundo lado é importante porque daí surgiu a sua popularização. Popularizou-se como um colunista agressivo da extrema direita e quanto mais agressivo, mais chamava a atenção… E, tendo obtido sua atenção, as pessoas entravam em contato com o outro lado de Olavo de Carvalho, o intelectual. Isso permitiu criar um movimento bastante amplo“, observou Rui Pimenta.

Para entender realmente o surgimento desse fenômenos é preciso considerar ainda que Olavo de Carvalho surgiu de um processo no interior da imprensa burguesa nacional que, organizado pelo imperialismo, projetou diversas figuras de extrema direita nos veículos de comunicação que cerraram fileiras na campanha pela derrubada do governo Dilma Rousseff. “Um cidadão truculento, que busca intimidar os outros, que ataca a esquerda de maneira baixa, se somou a um clima na imprensa que era o clima do golpe, e Olavo, por natureza, se destacou nesses setores“, concluiu o presidente do PCO

Qual o balanço do “olavismo”?

O “olavismo”, como fenômeno político e ideológico, deve ser considerado separadamente em relação ao bolsonarismo. Este último representou um fracasso. “Bolsonaro, que seria uma pessoa influenciada por Olavo de Carvalho, não conseguiu traduzi-lo em uma política coerente. Os ministros que Olavo de Carvalho indicou foram todos um fracasso retumbante. Não conseguiram levar adiante nenhuma política mais ou menos séria”, refletiu Pimenta.

“Qualquer que seja o seu pensamento, a doutrina de Olavo de Carvalho não é consistente. Se a direita quiser avançar sobre essa base, vai ter que se reformular“, disse o presidente do PCO. “A ‘doutrina‘ dos ‘olavistas‘ é mais uma ausência de doutrina do que uma doutrina defeituosa“, concluiu.

As considerações apresentadas como parte da Análise Política da Semana do último sábado, 29, contribuem com o entendimento de questões políticas importantes. A morte de Olavo de Carvalho e o virtual fracasso do governo Bolsonaro (incapacitado de colocar seu “programa” em prática) não significam que a extrema direita não tenha futuro. Mesmo que Bolsonaro se mantenha no governo no próximo mandato, as derrotas sofridas pela extrema direita são indicativo de que “olavistas” e “bolsonaristas” precisarão de mais elaboração política e ideológica para progredir.

A análise do questão da extrema direita é importante e deve ser feita com cuidado pois há setores na própria extrema direita refletindo sobre os acontecimentos. O seu esvaziamento, a partir do choque ocorrido com os setores da burguesia que tradicionalmente dominam o regime político quando estes tentaram controlar Bolsonaro, não significa que sua história termina aí. Haverá novos capítulos que se basearão no balanço que a direita fará dos acontecimentos e, diante disso, a esquerda deve estar pronta para responder à altura das necessidades do momento.

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