O blog Esquerda Diário entrou de cabeça na campanha imperialista contra a Copa do Mundo no Catar. Trata-se do artigo “Exploração trabalhista e mais de 6.500 mortes nas construções para a Copa do Mundo do Catar”, publicado em 18 de novembro. Baseando-se no artigo do jornal britânico The Guardian e no relatório de uma ONG criada especificamente para fazer campanha contra o Catar, o “Esquerda Diário” simplesmente reproduz a manipulação promovida pelo imperialismo em uma campanha contra um país atrasado.
“Segundo o The Guardian, ao longo das construções de infraestrutura da Copa do Mundo do Catar de 2022, mais de 6500 operários morreram”, diz o Esquerda Diário. Conforme denunciou o jornalista José Antonio Lima no Twitter, a reportagem citada é veículo de uma enganação. “Em 23/2/2021, o Guardian publicou uma reportagem com um título sensacionalista: ‘Revelado: 6.500 trabalhadores migrantes morreram no Catar enquanto o país se prepara para a Copa’ (…) o tweet original do Guardian se tornou o epicentro de uma rede desinformação em vários idiomas”.
Para o blog brasileiro, a Copa do Mundo de 2022 está “manchada de sangue”. Mas essa não é uma ideia original. O jornal O Globo já afirmou a mesma coisa (“Só os craques podem salvar uma Copa manchada de sangue”, 2/4/2021).
“Lá morreram centenas de trabalhadores, em meio à situação cotidiana dos imigrantes que são obrigados a viver em condições de semi-servidão ou a contrair dívidas para poderem trabalhar”, afirmam. Afinal, qual a realidade? Centenas ou milhares? Não se sabe. Mas façamos outra pergunta: qual a fonte?
O Esquerda Diário cita o relatório de uma ONG britânica, Equidem, elaborado em julho deste ano. “Segundo a ONG britânica Equidem, imigrantes que trabalham nos hotéis do Catar associados à Fifa para receber as seleções e torcedores durante a Copa do Mundo sofrem situações de abuso e exploração, fomentadas pela legislação trabalhista do país.” A “informação” oferecida pela ONG britânica não tem como motivação a defesa do interesse de trabalhador nenhum, mas a defesa dos interesses dos Emirados Árabes Unidos em competição com o Catar.
No artigo “Quem está por trás da campanha anti-Copa do Mundo no Catar” (19/10/2022), a Independent United Nations Watch (IUNW), que se define como uma iniciativa internacional lançada por ex-especialistas da ONU e diplomatas, denuncia que “se descobriu que a Equidem Research and Consulting Ltd recebeu grandes quantias dos Emirados Árabes Unidos com o único propósito de lançar uma campanha de propaganda contra o Catar”.
“A campanha anti-Catar tornou-se uma questão global com apoiadores e oponentes em mais de um país. Foi muito além da região do Golfo quando companhias britânicas e lobistas norte-americanos se juntaram à campanha. Além disso, muitas empresas de notícias renomadas publicaram relatórios caluniosos sobre o país. Embora esse tipo de jornalismo descuidado não seja novo, sua mobilização não é bem-vinda. E enquanto servir aos direitos humanos é uma meta honrosa, é contraprodutivo criar caso contra o Catar vilipendiando o país”, diz o artigo.
A esquerda pequeno-burguesa não perde a oportunidade de apoiar o imperialismo em todas as suas campanhas. No caso do Catar, a campanha tem como conteúdo a ideia de que o país, que é uma monarquia, não é democrático. Por que existe essa campanha? Os países imperialistas sempre sustentaram os governos religiosos, retrógrados, do Oriente Médio. Apoiaram os movimentos religiosos para dominar o nacionalismo em todos os países do Oriente Médio. Não fosse o imperialismo, esses governos religiosos reacionários simplesmente não existiriam.
Por que atacar o Catar agora? O problema com o Catar não tem nada a ver com os 6.500 trabalhadores que supostamente teriam morrido nas obras da Copa. O que está em questão é que o imperialismo não pode conviver com nenhum tipo de independência, por mais limitada que seja e, nesse aspecto, o Catar já se distanciou muito do controle estreito que o imperialismo mundial tenta exercer sobre o Oriente Médio. Neste país está instalada a Al Jazeera, principal canal de comunicação do mundo árabe e, além disso, o governo do Catar financia a Irmandade Muçulmana no Oriente Médio, o que quase valeu uma declaração de guerra da Arábia Saudita.
A campanha contra a Copa no Catar é uma obra-prima de cinismo, de mentiras e encobrimento das operações criminosas do imperialismo no mundo todo. Os ataques visam domesticar os países atrasados, como tentaram fazer com o Brasil, com a campanha “Não vai ter Copa”, muito elogiada, por sinal, pelo mesmo Esquerda Diário em seu artigo: “Em 2014, no Brasil, foram milhares aos protestos contra a Copa do Mundo, com a juventude tomando as ruas junto de importantes greves operárias, exigindo melhores condições de trabalho e vida, não estádios multimilionários ‘padrão FIFA’. Esses são os exemplos a seguir, a da mobilização das e dos trabalhadores de forma independente, para que o esporte seja livre e possa ser desfrutado de maneira plena por todos, o que só pode ser real com o fim desse sistema de miséria e exploração, o capitalismo.”
A depender da esquerda pequeno-burguesa, a campanha do imperialismo vai prosperar, na medida que é reproduzida acriticamente por aqueles que se dizem defensores dos trabalhadores, mas são incapazes de distinguir quando um país atrasado se torna alvo dos maiores opressores do planeta, os países imperialistas que dominam o globo.