Diante das ameaças do imperialismo contra a Rússia na Ucrânia, assistimos, mais uma vez, à esquerda pequeno-burguesa numa posição lamentável de apoio envergonhado ao imperialismo. Trata-se da conhecida fórmula do “nem nem”. “Nem Rússia, nem Estados Unidos”, dizem os grupos de esquerda, jogando no lixo os ensinamentos do marxismo e da tradição da história do movimento operário e socialista de defesa das nações e dos povos oprimidos.
O “nem nem” esconde o apoio desses grupos ao imperialismo. Isso não é novidade. Esses mesmos grupos, com a mesma formulação, acabaram ficando ao lado dos golpistas na Ucrânia em 2014.
A organização internacional liderada pelo PSTU, a Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT), afirma o seguinte:
“Defendemos uma Ucrânia unificada e livre da opressão russa, a devolução da Crimeia e a retirada das tropas russas da fronteira oriental e das organizações paramilitares russas e ucranianas no Donbass. A reativação do conflito não tem, por parte do imperialismo, nenhum interesse em defender a soberania ucraniana, ao contrário: é uma operação para transformar o país em uma base militar da OTAN nas fronteiras da Rússia, quer dizer em uma colônia militar.”
A “Declaração da Liga Internacional dos Trabalhadores sobre o conflito EUA (OTAN) – Rússia – Ucrânia” publicada no sítio da LIT deixa claro que o principal agressor é a Rússia, não os Estados Unidos. O imperialismo norte-americano, no máximo, estaria se aproveitando da situação para fazer uma base militar da OTAN na Ucrânia.
Se fosse simplesmente “neutra” já seria pró-imperialista, mas essa posição do PSTU é bem claramente favorável aos Estados Unidos. Para a LIT, o principal problema é a Rússia, ela é a agressora.
Outro grupo que se diz trotskista, o MRT, a quem pertence o sítio Esquerda Diário, também adotou o “nem nem”:
“Na Ucrânia: nem intervenção imperialista, nem interferência militar russa! Por uma Ucrânia independente, operária e socialista!”
Em resumo, diante de um conflito entre o imperialismo e um país atrasado, sejamos neutros. É interessante que a esquerda pequeno-burguesa, na hora de fazer discurso nas redes sociais adora dizer que ser “neutro” é estar do lado do opressor, que “não existe neuralidade” e outros lugares comuns desse gênero.
Mas na hora que se coloca um conflito real, de grandes proporções para o mundo, ou seja, na hora que se coloca um problema concreto, a esquerda pequeno-burguesa grita: “nem nem”. “Sejamos neutros diante da ofensiva norte-americana contra a Rússia chamando de interferência reação defensiva dos russos”.
O problema é que justamente essa formulação coloca o grupo ao lado do imperialismo. Como a esquerda pequeno-burguesa gosta de repetir, “não existe neutralidade possível” nesse conflito. A Rússia é um país oprimido pelo imperialismo que está se defendendo. A única diferença aqui é que por seu tamanho e por seu poder bélico a Rússia não precisa abaixar a cabeça e se entregar como são obrigados a fazer quase a totalidade dos países oprimidos diante de qualquer ofensiva imperialista.
A própria Ucrânia, diga-se de passagem, foi uma vítima do imperialismo no golpe de 2014. Os Estados Unidos impulsionou grupos de extrema-direita, abertamente fascistas, para derrubar o governo que eles acusavam ser pró-russo. Quando isso aconteceu, boa parte dos grupos da esquerda pequeno-burguesa não disseram “fora interferência dos EUA na Ucrânia”.
Agora, que a Rússia está justamente se defendendo, aparecem os capachos esquerdistas para dizer “nem nem”, que na tradução para a política concreta significa: “fora Rússia, deixe os golpistas agirem à vontade a mando do imperialismo na Ucrânia”.
O MRT disfarça sua política pró-imperialista dizendo “Por uma Ucrânia independente, operária e socialista!”. Realmente é muito lindo sonhar! Mas problema é justamente saber como, diante da situação concreta colocada, fazer as massas ucranianas evoluírem para a independência e o socialismo. O MRT joga palavras ao vento para disfarçar sua política direitista.
Está no Bê-a-bá da política revolucionária que a derrota do imperialismo é um fator importante para impulsionar as massas. Se a Rússia derrotar o imperialismo na Ucrânia e de quebra expulsar os nazistas e golpistas pró-Estados Unidos isso não será o socialismo, mas pode ser um passo importante no sentido da mobilização não apenas da Ucrânia mas de todos os povos que lutam contra o imperialismo.
Outro grupo que se diz trotskista no PSOL, a CST (Corrente Socialista dos Trabalhadores), do vereador Babá do Rio de Janeiro, aderiu ao “nem nem”: “Não à agressão militar de Putin e Rússia à Ucrânia! Basta de bombardeios! Nem tropas russas nem forças da OTAN na Ucrânia!”
Vejam pela formulação do título da matéria que para eles o problema maior são os russos. A OTAN aparece de maneira secundária. Essa é a política oficial da imprensa burguesa para o caso que pode ser resumida assim: a Rússia é a agressora malvada, os EUA procuram um acordo por que todos querem paz, a OTAN não pode interferir porque o caldo pode entornar de vez. Uma posição cínica como tudo o que vem da burguesia.
A CST tem uma posição semelhante. “A Rússia é a agressora, mas a OTAN não deve intervir”. Os fatos estão invertidos. Não é a Rússia que está se defendendo da ofensiva dos EUA e da OTAN, mas é a OTAN que agora pode tentar contar a agressão russa.
Com essa política do “nem nem” a esquerda pequeno-burguesa mais uma vez está numa frente única com o imperialismo. Esses partidos não têm uma posição relevante nos acontecimentos, mas do ponto de vista ideológico e político criam uma confusão dentro da esquerda. Ao invés de impulsionar uma luta contra o imperialismo, se aliam com os piores inimigos do povo. São uma espécie de quinta coluna ideológica na luta dos trabalhadores do mundo todo contra o imperialismo.