A campanha imperialista contra o Irã se aprofundou durante a Copa do Mundo. A investida que começou no mês de setembro utilizando a morte de Mahsa Amini como pretexto para atacar o governo cresceu a ponto de no dia 22/11 o Parlamento Europeu cortar relações com o governo do Irã. Como de costume algumas organizações da esquerda pequeno-burguesa mantém um alinhamento descomunal com a política do imperialismo. É o caso do Esquerda Diário/MRT, que publicou dois artigos em seu sítio que aparentam uma tradução direta da BBC.
O artigo Iranianas no estádio e protesto de jogadores de Inglaterra e Irã furando o bloqueio da FIFA marcam o segundo jogo da Copa publicado na segunda-feira, dia do jogo, começa destacando os protestos políticos que cercaram a partida do Irã contra a Inglaterra. A seleção inglesa iniciou a partida ajoelhando-se supostamente em defesa dos direitos dos LGBT e na prática contra o governo no Catar. Esse caso em si já escancara a campanha imperialista que está sendo realizada contra o país árabe. O próprio texto do MRT afirma que “sete seleções europeias” fazem esse protesto.
O Esquerda Diário assim, no primeiro parágrafo de seu artigo, já entra no coro do imperialismo para atacar uma nação atrasada, o Catar. Nas últimas semanas ficou claro que no período da Copa do Mundo esse ataque se ampliaria devido à política mais independente que o país está tentando assumir. O Catar esta semana firmou um dos maiores acordos de venda de gás natural da história com a China. O MRT até agora não percebeu que a campanha identitária feita contra os países oprimidos é uma campanha do imperialismo para mantê-los sob o seu domínio.
No caso do Irã eles cometem o mesmo erro, só que neste caso a campanha foca na questão da mulher. No Irã, assim como em todos os países árabes, todos os países atrasados e todos os países imperialistas, a mulher é oprimida. A libertação da mulher na verdade só pode existir com o fim do capitalismo, algo que uma organização auto-proclamada trotskista deveria compreender. Contudo, os direitos das mulheres de países que estão sendo atacados pelo imperialismo são mais importantes para a esquerda pequeno-burguesa.
Aqui é preciso levantar a conjuntura do Irã nos últimos meses, após a morte de Mahsa Amini nas mãos da polícia iraniana, após a qual uma onda de protestos começou no país. Contudo, já está mais do que claro que o imperialismo é quem estimula essa onda de protestos, assim como estimulou os protestos contra o governo Dilma nos anos de 2015 e 2016, ambos governos nacionalistas de países muito ricos em petróleo. Não só isso como o Irã já denunciou que é a própria Inglaterra uma das maiores envolvidas na investida golpista, a mesma que participou do golpe de 1953 contra o governo nacionalista do Irã.
O que aconteceu é que ante a fortíssima pressão da imprensa imperialista a seleção dos guepardos não cantou o hino nacional em solidariedade aos protestos. O capitão do time Alireza Jahanbakhsh denunciou em uma entrevista que havia uma enorme pressão para não cantar o hino e que a imprensa fazia “jogos mentais” contra a seleção. A pressão foi tão forte, aliás, que não só a seleção não cantou o hino como foi goleada pela Inglaterra.
Até agora, os jogos da Copa não mostraram resultados tão ruins para as seleções dos países atrasados. O Senegal, por pouco, não venceu a Holanda, a Tunísia empatou com a Dinamarca e o México empatou com a Polônia. O resultado do Irã foi uma anomalia, o que mostra que a pressão do imperialismo teve um resultado. Os brasileiros devem ter facilidade de entender o ocorrido pois a seleção brasileira passou por um processo semelhante no ano de 2014.
Em 2014 houve uma investida golpista do imperialismo contra o Brasil, voltada diretamente para a Copa do Mundo com o movimento “Não vai ter Copa” e conseguiu desestabilizar a seleção, fazendo-a ser derrotada pela Alemanha. Assim como em 2022, o MRT adentrou a campanha golpista e contra o futebol dos países oprimidos no ano de 2014. A Copa do Mundo, sendo o mais importante evento de esportes no mundo, é um grande alvo das campanhas imperialistas, seja no Brasil em 2014, na Rússia em 2018 ou no Catar em 2022.
O Esquerda Diário afirmou no artigo A seleção do Irã não cantou o hino em solidariedade às manifestações em seu país , também do dia 21/11 que: “No passado, a seleção era uma fonte de orgulho nacional em todo país. Agora, com os protestos massivos, muitos preferiam que se retirassem do Mundial do Catar.” Aqui fica claro que a campanha contra o futebol iraniano vem de fora do país visto que essa descrição poderia muito bem ser sobre o Brasil em 2014. A campanha para torcer contra a própria seleção provém da imprensa imperialista e está a todo vapor também no Brasil.
O artigo segue mostrando imagens de torcedores iranianos com cartazes e camisas escritos em inglês “mulher, vida e liberdade”, ou seja, claramente uma campanha coxinha de setores pró-imperialistas. Quando vê torcedores brasileiros nos estádios da Copa, a esquerda diz que são os endinheirados ─ por que ela não fala o mesmo sobre os iranianos? O Esquerda Diário faz coro com o imperialismo em toda a campanha contra o Irã. Ele ainda termina citando o suposto número de mortos, presos e feridos: “410 manifestantes nos protestos, entre eles 58 menores. Também morreram 54 membros das forças de segurança e ao menos 17.251 pessoas foram presas.”
O mais interessante é a fonte utilizada para tais números, o HRANA, Humans Rights Activists News Agency, ou seja, utilizam as informações de uma ONG imperialista para atacar o Irã. É um absurdo. No Oriente Médio há inúmeros casos de falsificações grotescas feitas por essas ONGs como os Capacetes Brancos da Síria e o falso ataque de armas químicas que acusaram o governo nacionalista de Bashar Al Assad de ser o culpado.
O MRT, adentrando uma das principais campanhas do imperialismo no momento, mostra mais uma vez o caráter deturpado de seu “trotskismo”. O revolucionário russo, segundo líder da Revolução de Outubro e fundador da Quarta Internacional, desenvolveu o marxismo na época do imperialismo como sua maior oposição. É dever de todos os trotskistas sair em defesa incondicional dos países atacados pelo imperialismo, independentemente de seu regime político. Defender o Irã, a Rússia, a China, a Venezuela, a Nicarágua, o Brasil e muitos outros. Nos quesitos Copa do Mundo e Irã, o Esquerda Diário está longe de ser um Iskra (jornal de Lênin), se aproxima no entanto de um pequeno apêndice da Folha de S. Paulo.