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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Exploração do trabalho

Em defesa dos caminhoneiros contra as transportadoras

Transportadoras utilizam caminhoneiros para suas intenções políticas. Transportadoras não aceitam Lula para manter a alta exploração dos caminhoneiros. A CUT precisa agir.

A eleição de Lula representa a derrota (ao menos parcial) do golpe de Estado. Todavia, em virtude de ampla polarização, diversos segmentos da sociedade bloquearam estradas e foram às portas de quartéis pedir “intervenção federal” contra suposta “fraude eleitoral”. A organização de bloqueio das estradas circulou em grupos nas redes sociais, antes mesmo do fim do segundo turno. De acordo com reportagem, grandes grupos de Telegram atuaram na convocação dos atos. Outras reportagens sobre o bloqueio de estradas no interior do Brasil, demonstraram a diferenciação social e geográfica do movimento de fechamento de estradas contra a eleição de Lula. Em Foz do Iguaçu, na fronteira com a Argentina e Paraguai, os organizadores são o agronegócio, grandes transportadoras internacionais que atuam na fronteira, mas, principalmente, militantes bolsonaristas municiados por políticos locais e empresários.

Os caminhoneiros foram usados como “bois de piranha” e a esquerda pequeno-burguesa endossou o discurso repressivo da imprensa, pedindo que a polícia fosse utilizada contra os protestos, legítimos, embora reacionários. Bolsonaro, que catalisou grande parte dos movimentos populares, atuou diretamente durante a controversa greve de 2018 e se fez “porta-voz” de parte da categoria. Desta vez, durante a onda de protestos contra o resultado eleitoral, novamente circulou vídeo de Bolsonaro, rememorando o papel dele durante a greve dos combustíveis de 2018.

De fato, a greve era legítima, embora a disparada de combustíveis se deu justamente por causa do golpe de Estado contra os trabalhadores, que Bolsonaro ajudou a sedimentar. Contudo, de modo oportunista, Bolsonaro vocalizou a ira dos caminhoneiros, já que para a maioria, Temer não era um golpista, mas o “Vice da Dilma do PT”. Naquela ocasião, a Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), foi uma das mobilizadoras da greve. Hoje, um dos líderes daquelas greves, Walace Landim afirma em entrevista que as empresas estão usando os caminhoneiros para o bloqueio de estradas.

A gente tem a nossa pauta econômica. A gente sempre tá lutando para beneficiar a nossa categoria […] tem a questão do marco regulatório. O que me deixa muito triste é que muitos estão usando o nome da categoria […]. A nossa pauta principal é o fim do PPI (Paridade de Preço de Importação) […] isso [o que está acontecendo] é um movimento de extrema-direita que não representa os caminhoneiros […]. As empresas estão por trás disso porque o caminhão parado não é de caminhoneiro, ninguém rasga dinheiro. Quem tá por trás disso, alguns dizem que é o presidente.” , afirma Landim.

Landim é taxativo em afirmar que caminhoneiros sofrem na mão dos capitalistas, porém admite que muitos são bolsonaristas. Esse fenômeno pode ser explicado pela natureza da ocupação de caminhoneiro, uma categoria de trabalhadores da indústria dos transportes, que se diferenciam entre si. Uma parcela não tem caminhão, o aluga de outro caminhoneiro ou prestam serviços às empresas. O leasing é muito comum e fazer muitas viagens é uma forma de poder pagar o próprio caminhão. Outra parte dos caminhoneiros possui minifrota, colocando-o na condição de pequeno-burguês, um pequeno empresário do setor, mas que presta serviços aos capitalistas. Algumas transportadoras cresceram a partir de trabalho familiar e se envolveram com os protestos, deslocando caminhoneiros para ajudar no bloqueio das estradas.

Apesar do movimento claramente ter uma parcela de sua base social trabalhadora e outra parcela pequeno-burguesa e reacionária, não permite que a esquerda peça repressão policial. Isso demonstra grande atraso político. Por outro lado, de fato as repressões ocorreram pelos policiais militares.

Deste modo, o movimento ganha duas características: o potencial aumento da adesão para o confronto ao futuro governo Lula, e o descontentamento de muitos trabalhadores com os protestos, amplamente divulgados em redes sociais. A maioria dos empresários discordaram do trancamento de estradas e pressionaram a imprensa, pressionaram as PMs e demais forças de segurança a reprimir os manifestantes. A esquerda endossou o coro dos empresários para alegria da direita tradicional. Rui Costa, atual governador da Bahia, foi o primeiro a reprimir as manifestações.

Mais de 1,6 milhão de caminhões são registrados no Brasil, mas 27 mil empresas concentram de 5 ou mais caminhões, de acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT). Nessa concentração, cerca de 200 empresas possuem mais de 100 caminhões e atuam com centros logísticos nas maiores cidades do Brasil em todos os Estados. Trata-se de um setor poderoso econômica e politicamente. Numa situação de elevada concentração e exploração dos caminhoneiros, a pejotização é predominante. Trabalhadores são subcontratados e trabalham em condições extremamente precárias. É preciso um conjunto de leis trabalhistas que estabeleçam direitos aos caminhoneiros.

Essa relação de trabalho também produz concorrência entre caminhoneiros (enquanto há cartel entre os operadores logísticos). Nesse cenário há caminhoneiro arrendando caminhão e outras relações de trabalho ainda mais precárias. Não há dúvida que o caminhoneiro é um trabalhador, porém, não há dúvidas que existe a diferenciação na categoria. É nessa possibilidade de ascensão social que mira parte da categoria. As relações de exploração de trabalho do caminhoneiro, convivendo com o discurso liberal das rádios, de seus patrões, promove confusão política, facilitando a alta exploração por parte das transportadoras e demais empresas com logística própria. A CUT precisaria atuar melhor no setor, não compactuando com os ataques aos caminhoneiros que estão em protesto, mas recuperando-os para a luta de classes que eles vivem cotidianamente. Por isso Lula precisa dialogar com caminhoneiros, sem renunciar à organização estatal da indústria de transporte.

O caminho para conquistar os caminhoneiros é um discurso mais direto, voltado para as demandas urgentes da categoria, desde a saúde até a recomposição do frete valor. Sinalizar com mais ferrovias para mobilizar mais fluxos especificamente aos caminhoneiros, que poderiam ter o monopólio dos fretes a partir das estações. Porém, há de se ressaltar que o movimento que estamos assistindo, de bloqueios, trata-se de um movimento amplo, que usa caminhoneiros para fechar estradas, mas não significa que os caminhoneiros endossem aqueles protestos contra Lula, pelo contrário, muitos caminhoneiros votaram em Lula.

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