Neste domingo, dia 29, ocorrem as eleições para a presidência na Colômbia, país marcado pela violência da direita contra a população e ativistas de esquerda. A Colômbia se tornou um verdadeiro quintal sob intervenção direta do governo dos EUA e que serve como base para agredir a porção sul do Continente, tendo na Venezuela, atualmente, seu alvo principal.
A chapa com a maioria de intenções de voto, e mais à esquerda, é composta por Gustavo Petro e Francia Márquez. Petro é senador e ex-prefeito de Bogotá. Francia, de 39 anos, é ativista e seu discurso é o do combate às desigualdades sociais, ao racismo em defesa do meio ambiente.
Identitarismo
Qualquer pessoa pode se candidatar a qualquer cargo, no entanto, tem chamado a atenção o quanto as tais pautas identitárias têm tomado conta do cenário político. No Chile, Gabriel Boric fez uso demagógico de que defenderia os indígenas, que montaria um ministério paritário. Na prática, no entanto, está reprimindo duramente a juventude e já decretou estado de sítio contra os Mapuche. E sua popularidade já despencou, apesar de ter tomado posse recentemente.
No Brasil temos visto essa tendência. PCB e UP, para não apoiarem a candidatura Lula, lançaram pré-candidatos com perfis identitários: mulher e homem negro periférico. Na Colômbia não poderia ser diferente. Francia Márquez coordena a Fundação Foro Suroccidente, uma ONG que “luta pelo fortalecimento da democracia” e é financiada, dentre outros, pela Fundação Ford e USAID. Como todos sabemos, é dinheiro vindo da CIA que usa diversas instituições como fachada.
Conhecemos bem a atuação desses fundações que atuam continuamente para controlar a esquerda com a injeção de dólares e desestabilizar governos. Vale lembrar a atuação desses grupos no movimento Não Vai Ter Copa, responsável por dar visibilidade e trazer para a política pessoas como Guilherme Boulos.
Primeiro turno
Um outro dado que chama a atenção é a propaganda que se tem feito sobre a possibilidade de se ganhar as eleições ainda no primeiro turno. O mesmo vem ocorrendo no Brasil e sob essa bandeira se tem feito todo tipo de acordos direitistas, como a indicação de Geraldo Alckmin, ex-PSDB, para vice na chapa de Lula.
No entanto, a burguesia tem manobrado. O candidato do governo saiu da disputa, pois sua imagem está excessivamente vinculada ao presidente Iván Duque, fantoche dos EUA, com enormes índices de rejeição; e se uniu à candidatura de Federico Gutierrez, conhecido como Fico.
Fico faz um estilo jovem, tipo Boric, com seus cabelos compridos e braceletes. É ex-prefeito de Medellín e seu discurso demagógico tenta emplacar a ideia de que ele não seria um político. Diz que para ele ‘o importante são as pessoas’, que ‘não tem partidos políticos’, ‘não tem chefes políticos’ e que seus chefes são as pessoas. Tenta desvincular sua imagem do atual presidente.
Há um terceiro candidato que pode tirar Fico do segundo turno: o empresário Rodolfo Hernándes (Liga dos governantes anticorrupção), faz uma campanha para os jovens nas redes sociais repleta de memes e vídeos curtos. É visto como uma espécie de Donald Trump colombiano. Se diz a favor da legalização da cocaína, admirador de Hitler. Sua função é retirar votos de Petro e descontentes com o governo e de setores mais despolitizados do eleitorado que se dizem ‘antigoverno’.
Violência e combate ao tráfico
A violência estatal e de grupos paramilitares contra o ativismo social na Colômbia é brutal. Neste ano já foram assassinados mais cinquenta pessoas. A candidatura Petro sofreu diversas ameaças e quase interrompeu a campanha. Os comícios acabaram sendo feitos sem indicação prévia de dia e local. Nos palanques se via a presença de agentes com coletes e usando escudos à prova de balas.
Apesar de tanta brutalidade, pouco se fala sobre essas flagrantes violações contra os direitos humanos, pois ali se trata de um protetorado dos EUA. A grande imprensa tem centrado fogo na Venezuela, na China, Rússia etc., e se omite do quem vem ocorrendo no país vizinho. Nos anos 1990, três candidatos à presidência foram assassinados na Colômbia, por isso a esquerda tem que tomar medidas mais efetivas de autodefesa.
Uma das desculpas que os EUA utilizaram para intervir na Colômbia foi o ‘combate às drogas’. Na verdade, o que acontece é justamente que os americanos passam a controlar o tráfico. Hoje, se produz mais cocaína do que nos tempos de Pepe Escobar. No Afeganistão, depois da ocupação, a produção de ópio aumentou em 40 vezes.
A importância de controlar o tráfico de drogas é que esses narcodólares financiam todo tipo ações da CIA, com a diferença que a verba não precisa ser aprovada pelo Congresso dos EUA. Esse dinheiro ilegal é usado para manter bases secretas, centros de tortura, armar guerrilhas, corromper políticos etc.
Paz e amor
Apesar de ser um candidato muito moderado, Petro diz querer aproximação com a China e Venezuela, o que muda a relação do país com a Otan. Os Estados Unidos estão juntando esforços no mundo todo para atacar Rússia e perder o controle da Colômbia seria um duro golpe.
O que temos visto, até agora, da parte de Petro e sua vice, é um discurso ‘paz e amor’ e ‘anticorrupção’ quando a população está extremamente radicalizada. Mesmo que vença, isso ainda não é uma certeza, apesar de ter mais 40% das intenções de voto, as expectativas populares poderão entrar em choque com seu eventual governo, como temos visto no Chile.
De todos os modos, o descontentamento está crescendo de maneira vertiginosa, os ataques do neoliberalismo contra as condições de vida da classe trabalhadora de todos os países aponta para um período de grande enfrentamento. A esquerda precisa abandonar esse discurso moderado, isso só serve para conter o ímpeto das massas; deve, isso sim, apontar um caminho nítido para derrotar a burguesia e o imperialismo.