Se um dia o Diário do Centro do Mundo (DCM) contribuiu com a luta contra o golpe, esse tempo se passou. Dirigido por Kiko Nogueira, um ex-editor da Abril que nunca teve vínculo real com a esquerda, o DCM hoje presta o papel de Cavalo de Troia no interior da esquerda. Isto é, em vez de denunciar a direita e seus crimes, em vez de repercutir a atividade da esquerda, em vez de dar voz ao povo, o portal se tornou exclusivamente um blog de reprodução da política da direita golpista e de perseguição àqueles que se opõem a ela.
Essa mudança toda gira em torno de uma figura: Guilherme Boulos, hoje a principal personalidade do PSOL. Boulos, além de ex-candidato a presidente da República, ex-candidato à prefeitura de São Paulo e pré-candidato ao governo de São Paulo, é uma espécie de grife, uma marca sob a qual a burguesia vem agrupando um conjunto de grupinhos e políticos para atacar o PT.
Sob o guarda-chuva de Boulos, por exemplo, está o youtuber Jones Manoel (PCB), que dia após dia critica gratuitamente Lula, Dilma e seu partido. Está também a Unidade Popular pelo Socialismo (UP), um partido natimorto, sem programa próprio, que nasceu para apoiar o PSOL. Não propriamente sob o guarda-chuva de Boulos, mas no seu entorno, estão ainda coronéis como Ciro Gomes (PDT), que fugiu para Paris para boicotar a candidatura petista em 2018.
Boulos é, portanto, parte de uma operação de grande envergadura. Uma operação do imperialismo para promover um setor da esquerda nacional — ou, pelo menos, que assim se identifique — para que siga exatamente a sua política. Isto é, que ataque os partidos, organizações e lideranças nacionalistas e que pavimentem o caminho para que a direita neoliberal consiga se sustentar no regime.
O DCM é parte desse projeto. Está envolvido até a medula com o projeto Boulos: convida-o periodicamente para os seus programas, distribui elogios ao psolista, elogia sua política direitista de “frente ampla” e se cala diante da candidatura de Lula, que é uma pedra no sapato da Operação Guilherme Boulos. Nos últimos tempos, contudo, essa ligação com Boulos exigiu que o DCM desse mais um passo à frente no seu compromisso com a política da direita. Um passo tão à frente que terminou por enfiar os pés na lama.
Na medida em que Boulos foi incontestavelmente desmascarado pelas denúncias do PCO e do Diário Causa Operária, sendo questionado por pessoas do seu próprio partido e por seus seguidores nas redes sociais, o pop star do PSOL só tinha duas opções: ou reconhecia as denúncias, admitindo que é um agente da direita infiltrado nas fileiras da esquerda, ou usava do velho método de assassinar o carteiro para que não entregue a carta.
Sabendo que reconhecer ser um agente do imperialismo é o mesmo que encerrar a sua carreira, Boulos optou pelo mesmíssimo método que o stalinismo usou tão a fundo e pelo qual o nazismo é lembrado até hoje. Boulos e sua trupe, incomodados com as críticas políticas, partiram para a truculência para tentar calar os seus adversários.
E é aí que entrou o DCM. Um portal progressista, democrático, de esquerda, que discordasse das críticas do PCO a Boulos teria a obrigação de abrir um debate. De expor suas posições, de travar uma polêmica. Mas fez o exato oposto: usou todo o seu arsenal, conquistado abusando da boa fé das pessoas que entendiam que o DCM contribuía para a luta contra o golpe, para tentar silenciar o PCO.
Esse método não é nada novo, nem mesmo para quem passou a acompanhar política nos últimos cinco anos. É o método da Lava Jato, do ex-juiz Sergio Moro e do ex-procurador Deltan Dallagnol. Hoje pré-candidatos por um partido de direita — ou talvez de extrema-direita —, ambos alegavam na época que todas as acusações bizarras e procedimentos antidemocráticos em relação ao PT eram apenas a expressão de uma “luta contra a corrupção”. De uma “luta” supostamente “imparcial”, pelo “bem de todos”. Hoje, ninguém leva isso a sério.
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Kiko Nogueira, Pedro Zambarda e todos os que estão participando da campanha sórdida de ataques ao PCO seguem o mesmo caminho. São incapazes de admitir abertamente que atacam a esquerda revolucionária porque defendem um cavalo de Troia do imperialismo. Dizem, portanto, que estão a serviço do “jornalismo investigativo”. Quem dera!
Os métodos do DCM são, inclusive, exatamente os mesmos que os da Lava Jato. Fazem acusações sem provas e acusações absurdas. Querem colocar “um partido” na cadeia por ter pago míseros R$1,8 mil de assistência jurídica para cada candidato, e se calam diante dos R$250 mil que um único candidato do PSOL — Boulos — gastou. Fazem o mesmo, portanto, que a Lava Jato, que condenou Lula por ter visitado o sítio de um amigo em Atibaia.
São todas acusações morais, que apelam aos sentimentos mais baixos. Querem chocar uma senhorinha inocente com histórias cabeludas, e não fazer uma discussão política séria. Passam por cima de qualquer sentimento civilizatório e tentam humilhar seus adversários, em vez de polemizar com eles. Atuam como Moro ao divulgar conversas pessoais de Lula com Dilma Rousseff, apenas para que William Bonner se chocasse com a quantidade de palavras de baixo calão.
Dão um tratamento inquisitorial, ameaçam chamar a polícia e o Ministério Público, fazem uma campanha muito agressiva de várias matérias e lives, exclusivamente negativa, assim como foi contra o PT. Em determinado momento, os assessores de Lula contabilizaram que o Jornal Nacional usou mais tempo para atacar Lula do que uma partida de futebol inteira. Assim é o DCM com o PCO. E claro: não dão direito de resposta, não ouvem os dois lados, bloqueiam e apagam os comentários que denunciam suas mentiras e defendem a verdade.
A atuação do DCM, de fazer uma campanha podre para defender os interesses de Guilherme Boulos, é uma campanha de tipo fascista. Deve ser combatida duramente pela esquerda.
Meu nome é Pedro Zambarda, mas pode me chamar de Joice Hasselmann