Na última semana, a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abinde) e a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB) entraram com uma ação civil pública contra a Boeing na 3ª Vara Federal de São José dos Campos, no estado de São Paulo. Elas acusam a empresa norte-americana de ameaçar a soberania nacional por meio da contratação em massa de engenheiros aeronáuticos brasileiros.
A Boeing já contratou 200 engenheiros aeroespaciais seniores de diversas empresas brasileiras, sendo a mais prejudicada a Embraer, a principal empresa do setor aeroespacial no Brasil e uma das maiores do mundo. Em decorrência da alta valorização do dólar em relação ao real, a empresa norte-americana está utilizando o seu escritório no Brasil para oferecer salários superiores àqueles da Embraer e similares.
“Há um questionamento muito forte por parte de algumas entidades, uma vez que vemos um desvio ético significativo por parte da Boeing ao assediar, literalmente, esses engenheiros brasileiros”, disse o economista e coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, à Sputnik Brasil.
O caso é ainda mais escandaloso quando levado em consideração que, há pouco mais de dois anos, a Boeing e a Embraer estavam em meio a um processo de fusão.
Inicialmente, em 2017, a norte-americana tentou comprar a brasileira, algo que foi rejeitado pelo governo da época. Um ano depois, entretanto, foi anunciado um processo que, na prática, representa a entrega da Embraer à Boeing: a última ficaria com 80% de uma joint venture (empresa conjunta, ou seja, uma fusão em uma única empresa) proveniente de ambas as empresas.
Em 2019, já no governo Bolsonaro, o acordo foi estabelecido e, então, aprovado pelos acionistas da Embraer. Com isso, a Embraer começou a investir capital e tempo para se reestruturar e comportar a concessão em questão. Todavia, antes de fechar o contrato e pagar os US$4,2 bilhões (cerca de R$21 bilhões) que haviam sido prometidos à Embraer, a Boeing rescindiu o contrato e encerrou as negociações.
A justificativa da Boeing foi a de que a “Embraer havia descumprido as obrigações contratuais”, algo veementemente negado pela brasileira, que alega que a Boeing voltou atrás em sua decisão por conta de sua reputação manchada no mercado internacional após problemas com seu modelo 737 MAX.
Além das ações da Embraer terem caído cerca de um bilhão de dólares, a Boeing, durante o processo de fusão, teve acesso a um grande volume de documentos internos da empresa brasileira. Algo que, em situações normais, não seriam dados apropriados para uma empresa concorrente.
Em suma, a movimentação se deu da seguinte maneira: após obter informações privilegiadas acerca do funcionamento interno da Embraer, a Boeing se retirou das negociações que lhe concediam acesso a esses dados e, dois anos depois, tendo se estabelecido em São José dos Campos, está sabotando a empresa brasileira por meio da contratação de seus quadros técnicos mais importantes. Algo que só seria possível caso tivesse informações privilegiadas acerca desta – algo que, sabidamente, ela tem.
Cabe ressaltar que um dos principais interesses da Boeing em estruturar uma joint venture com a Embraer era o de acessar a mão de obra brasileira que, além de extremamente qualificada, é barata. Objetivo que a empresa norte-americana efetivamente atingiu, mas de maneira sorrateira visando sucatear a Embraer e os seus serviços para que possa se infiltrar no mercado aeroespacial brasileiro.
Levando em consideração o que foi apresentado, fica claro que a atuação da Boeing no Brasil representa uma operação de sabotagem imperialista contra a soberania nacional. Algo que, com a privatização, poderia ter sido atingido com facilidade, mas com um preço muito mais elevado do que com a simples contratação de funcionários essenciais à Embraer.
Além disso, trata-se de uma situação que mostra como o imperialismo age nesse tipo de operação: da maneira mais baixa e corrupta possível. Finalmente, em meio a uma das maiores crises da sua história, as potências imperialistas e, no caso, os Estados Unidos, precisam roubar os países oprimidos de suas riquezas para que possam se sustentar e adquirir uma sobrevida.
Tendo isso em mente, a Embraer é importantíssima para o imperialismo, pois é a terceira maior empresa do ramo em todo o mundo. O seu roubo por parte dos Estados Unidos representaria, consequentemente, um grande passo rumo ao fortalecimento do monopólio norte-americano sobre ainda mais um setor de produção.
A Embraer é brasileira e deve permanecer como tal, pois é um grande patrimônio da classe operária. Nesse sentido, deve ser reestatizada e posta completamente sobre o controle nacional. Ao mesmo tempo, a Boeing deve ser julgada e, no final, expulsa do Brasil por sua tentativa de acabar com parte significativa da indústria do País.