Com o novo governo Lula, começam também os pitacos advindos de todos os lados, sobretudo da burguesia. Quem deve ser o ministro do que, o que deve ser feito, o que não deve… tudo isso começa a fazer parte da imprensa burguesa de maneira a tentar influenciar as decisões do governo.
A bola da vez é sobre o ministro da Fazenda — e não poderia ser diferente. Quem irá ocupar o cargo é o principal responsável pelo caminho econômico o qual o governo Lula irá tomar em seu mandato.
A burguesia já dá bandeiras de que não deveria ser ninguém do PT, cotando nomes como Persio Arida para ficar de “babá” de qualquer sugestão do PT. Uma das principais indicações do partido no momento é Fernando Haddad, o qual já ocupou o cargo de ministro da Educação em governos anteriores do PT.
Haddad conversou com banqueiros na última sexta-feira, durante um almoço, numa espécie de teste dos tubarões da economia para chequem se o ex-ministro é “digno” do cargo, ou seja, esteja mais ao lado da burguesia do que propriamente do governo Lula. Apesar disso, por maiores críticas que possam existir a Haddad e seu caráter direitista dentro do PT, ele não é nem de longe o favorito da burguesia para o cargo.
Lula, sabendo disso, resiste à pressão dos banqueiros para escolher um neoliberal trajado de esquerdista para o ministério. Enquanto isso, Haddad, e até mesmo o próprio PT, é chantageado para se dobrar às chantagens da burguesia caso seja nomeado ministro, atendendo aos interesses dos banqueiros.
A pressão para a escolha do ministro é forte e ocupa as capas dos jornais da imprensa burguesa. Existe uma pressa para que isso seja feito, com uma pressão forte dos banqueiros em cima de Lula para que a nomeação aconteça o mais rápido possível — uma prova disso é o acontecimento padrão de quando há algo que desagrade à burguesia: a queda da Bolsa e a alta do dólar, forçada pelos especuladores para demonstrar esse descontentamento.
Outro ponto é relacionado à PEC da Transição: essa que propõe o rompimento do Teto de gastos que, entre outras coisas, irá liberar R$175 bilhões destinados ao Bolsa Família, tem chances de ser barrada no Congresso devido à sua maioria direitista — boa parte dos seus integrantes são porta vozes da burguesia e atendem aos seus interesses.
A ideia inicial era que o rompimento se manteria por quatro anos. Devido à baixa probabilidade de aprovação, entretanto, diversos setores da equipe de transição do governo, assim como a própria imprensa burguesa, começaram a sugerir que o período fosse diminuído para dois anos.
Essa é uma prova de que os parlamentares do Congresso estão colocando entraves para a aprovação da PEC, forçando Lula a, justamente, apressar a aprovação de um ministro da Economia que atende aos interesses dos banqueiros.
Tanto isso é fato que a imprensa tenta jogar o nome de Persio Arida para Haddad, afirmando que o planejamento do PT é lançar o nome dos dois ao mesmo tempo para atender aos anseios do chamado “mercado” e conseguir seguir fazendo o que planeja para o início do governo, como aprovar a PEC.
É óbvio que Lula não deve escolher alguém ligado ao grande capital financeiro para assumir o ministério. Também não deve ceder à pressão de atender aos interesses dos tubarões da economia. Mas, além de tudo isso, fica evidente também que os tais acordos com o Congresso não servem para absolutamente nada.
No caso de Lula, isso se intensifica. Os acordos com o Congresso, ou seja, com a burguesia e com a direita, não significam nada quando consideramos que fazem parte de uma tentativa da burguesia de tentar controlar o que o governo realiza, sendo um exemplo disso o próprio caso da PEC. É uma tentativa que, em certa medida, está se concretizando, a de fazer Lula de refém da política da burguesia, da direita e dos banqueiros.
A única alternativa a essa situação é a mobilização popular. Lula foi eleito pelo povo e, portanto, tem obrigação de governar para a classe trabalhadora, mas só conseguirá fazer isso quando a própria população for as ruas exigir seus direitos.
Isso porque a burguesia não se importa nenhum pouco com a população. A PEC, novamente, é uma evidência desse fator. Os banqueiros querem que o dinheiro do Estado vá para os seus bolsos, não para o cuidado de uma população que está afundando num País com altos índices de fome, miséria, com alta inflação e condições de vida cada vez piores.
Isso significa que não adianta pressionar parlamentares, levar medidas para a votação no Congresso e esperar que algum tipo de milagre aconteça — é necessário que a população pressione nas ruas, demonstrando que não está para brincadeiras e que, se o Lula pretende fazer alguma medida que seja a favor do povo, então ela será feita, seja por bem, ou por mal.