O raciocínio dos banqueiros, do chamado “mercado”, foi tornado explícito em uma coluna na Folha de São Paulo. Sobre o tema do ministro da Economia do futuro governo Lula, ao ser indagado sobre o problema de Haddad, o banqueiro dá uma gargalhada e abre uma pasta com recortes de entrevistas antigas do político, de 2018, antes da candidatura à presidência, em que as declarações mais importantes estão grifadas em marca-texto. O trecho parece retirado de um filme sobre o funcionamento do governo da Alemanha nazista.
Fica demonstrado como e em que nível os banqueiros controlam a situação política do País. Dossiês físicos sobre cada figura, com as declarações passadas, é isso o que regula a tal pressão realizada pelo “mercado”. Feita por meio de altas do dólar, baixas na Bolsa e da campanha incessante na imprensa burguesa. Não apenas pela formação curricular e impressões gerais, mas pela gravação das declarações concretas, mesmo que velhas e vagas.
Caso alguma palavra tenha sido empregada contra o interesse dos vampiros financeiros, ela estará gravada por eles. As falas de Haddad destacadas são, no caráter da maioria, inócuas: reversão parcial da reforma trabalhista, em particular na questão judicial, atacar os juros altos dos bancos, o uso de parte das reservas internacionais do País para a realização de investimentos públicos, e as estatais com papel central no plano de desenvolvimento nacional. Nada de reestatizações ou de reversão total de alguma medida golpista, nada sobre o aumento do salário mínimo para um valor que contemple os direitos estabelecidos na Constituição para os trabalhadores.
O que se realiza, de fato, é um cerco político completo. Qualquer figura que não seja um perfeito fantoche dos banqueiros é marcada como tal. O próprio banqueiro já indica que há um “trabalho sujo” a ser feito, sobre os cortes de gastos por eles chamados de “responsabilidade fiscal”. A política do “mercado” é sabidamente, por ele mesmo, impopular. Toda a vigilância tem por objetivo impedir que a população ou até mesmo um governo que possa ser pressionado consiga se beneficiar minimamente.
Nesse sentido, a declaração se soma em demonstrar que o governo Lula ruma a um choque com a burguesia. A não indicação de um ministro até agora, o que deixa o “mercado” no escuro, nas palavras do próprio banqueiro, “é o que importa e dá medo”. É preciso garantir este choque, impulsionando Lula para o enfrentamento com esses vampiros. Se nem com Haddad eles se satisfazem, o que nós queremos também não é Haddad. É preciso mobilizar já por um governo que leve adiante todas as demandas dos explorados, um governo dos trabalhadores.