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Bloqueios

Como a esquerda deve lidar com os caminhoneiros “bolsonaristas”?

Alguns setores pedem a polícia, outros pedem agressões por populares

Uma discussão específica tem dominado alguns grupos de conversa da esquerda, com relação ao movimento dos caminhoneiros que, desde segunda-feira, paralisaram rodovias pelo País.

O setor mais atrasado da esquerda defende as ações do Estado, da Justiça e da polícia, para reprimir os manifestantes. Essa é uma política abertamente reacionária, uma imitação do que fazem justamente os fascistas.

Outro setor, mais avançado politicamente, diz que não se pode chamar a polícia e recorrer a Alexandre de Moraes, porque seria exatamente pedir para que o Estado, o maior órgão repressor da sociedade, utilize toda a sua força ditatorial e autoritária contra uma parcela da população ─ que, embora tenha ideias reacionárias, está exercendo o seu direito de manifestação.

Esse último setor defende que as próprias organizações dos trabalhadores devem agir para liberar as vias e acabar com o movimento pretensamente golpista. Mas essa ação, segundo se argumenta, deveria ser agressiva, na base da força. Rejeitam a hipótese de se conversar com os caminhoneiros, porque seria uma tentativa inútil.

“Esses não conhecem a língua portuguesa, da conversa, não estão dispostos a acordos e não mudarão a percepção do mundo, pré-definida e fixa”, disse um companheiro em um grupo.

Pode ser estranho para alguns essa afirmação vinda de um jornal revolucionário, mas é a verdade: ser radical não significa ser necessariamente violento. O principal instrumento dos bolcheviques na revolução russa não foi a violência ─ que é apenas uma resposta à violência do inimigo ─, mas sim o convencimento. Com sua propaganda, os bolcheviques conseguiram convencer não apenas os setores mais avançados, ou seja, esquerdistas, da classe operária, do campesinato e do exército, mas inclusive muitos elementos atrasados, direitistas, que defendiam o czar. Por que conseguiram? Porque a verdade, a razão e a lógica estavam do seu lado. Porque o que eles diziam ia diretamente ao encontro dos sentimentos daqueles setores explorados.

Ao contrário do que pensam muitos esquerdistas, preconceito este que acaba sendo reproduzido de alguma forma até mesmo pelos setores mais avançados da esquerda, todo ser humano é passível de mudar de ideia. Isso não é o mesmo que defender que um banqueiro vai se tornar socialista ─ como pensa Cynara Menezes ─, mas sim que um trabalhador ou mesmo pequeno burguês, ou até um capitalista menor, pode se interessar pela política democrática e revolucionária, porque ela apresenta soluções para os seus problemas. Até mesmo um neonazista norte-americano passou para o lado do movimento negro, em um episódio ocorrido na década de 1970, após ter contato e compreender os motivos e a política de ativistas pelas liberdades civis e pela igualdade racial.

Por que, então, um caminhoneiro, que é um membro da classe trabalhadora, ou, no máximo, de uma pequena burguesia empobrecida e desgraçada, não poderia passar para o lado da esquerda? Será mesmo que, apenas por ter ideias confusamente bolsonaristas, conversar com ele seria o mesmo que falar para as paredes?

“Eles são irracionais, é impossível dialogar com gente irracional”, responde um outro companheiro. Isso é um preconceito. Todo ser humano é racional. Não se trata de uma questão psicológica, mas sim de uma questão de classe. O sujeito que neste momento tem um comportamento irracional, apaixonado, alienado em defesa de Bolsonaro e dos militares, tem um motivo racional para ser assim.

Um dos motivos é, precisamente, o abandono por parte da esquerda. A esquerda nunca se deu o trabalho de politizar essas pessoas, que terminaram por cair no colo da propaganda bolsonarista. Foram convencidos pelos argumentos fáceis e demagógicos da extrema-direita. Espancar esses indivíduos não resolverá absolutamente nada. Pelo contrário, dará munição para a própria propaganda e ação bolsonaristas. A solução é o convencimento político.

Isso é muito diferente de “quebrar o pau” com bandos bolsonaristas armados, grupos fascistas que buscam atacar e agredir os movimentos populares. Invariavelmente, esses grupos são patrocinados pela grande burguesia ─ característica que falta aos caminhoneiros que estão bloqueando vias neste momento, abandonados pelos próprios políticos bolsonaristas, entre eles o próprio Bolsonaro. Quando grupos realmente fascistas estão espalhando o terror nas ruas, agredindo sindicalistas, negros, homossexuais, mulheres etc. ─ o que passa longe do caso em questão ─, a única solução contra essa violência é a autodefesa dos trabalhadores. Agora, atacar caminhoneiros que exercem seu direito de manifestação bloqueando estradas (a mesma tática tradicional dos trabalhadores em greve ou em manifestação) não tem absolutamente nada a ver com autodefesa.

Além do mais, atacar uma categoria importante e estratégica como são os caminhoneiros é rejeitar o seu apoio na luta contra os inimigos comuns, ou seja, a burguesia e o imperialismo. Não somos favoráveis a jogar uma categoria dos oprimidos contra a outra. Essa é a fórmula do desastre da esquerda, de entregar um setor proletário de mão beijada para a extrema-direita.

Nós também não somos favoráveis a condenar os coletivos de trabalhadores que dispersaram alguns bloqueios. Até porque, na maior parte dos exemplos, essa dispersão não foi como a esquerda prega. Não partiram para a agressão física contra os caminhoneiros, mas sim abriram caminho para a passagem.

De qualquer forma, se a esquerda quer agir, que aja com a razão, e não de forma irracional. Que aja levando em conta que a maioria desses caminhoneiros, embora possam ser tachados de direitistas, têm interesses econômicos que, no final das contas, vão ao encontro das propostas e soluções tradicionalmente apresentadas pela esquerda.

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