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Economista do Dieese

“Chamar Ilan Goldfajn de vampiro é uma ofensa aos vampiros”

Nessa quinta-feira (24), o Diário Causa Operária (DCO) entrevistou, de maneira exclusiva, José Álvaro, técnico do Dieese e supervisor técnico do Dieese em Santa Catarina

Nessa quinta-feira (24), o Diário Causa Operária (DCO) entrevistou, de maneira exclusiva, José Álvaro de Lima Cardoso, técnico do Dieese e supervisor técnico do Dieese em Santa Catarina. Na ocasião, Álvaro comentou sobre a dívida pública brasileira, o teto de gastos, a indicação de Ilan Goldfajn para o BID e outros temas relacionados à economia.

Para José Álvaro, o teto de gastos é, acima de qualquer coisa, uma continuação do golpe, 

“Aqui, vale lembrar que o teto de gastos vem sendo furado desde o primeiro dia do governo Bolsonaro. Portanto, é uma piada, uma formalidade. Esse picareta do Paulo Guedes furou várias vezes o teto de gastos para ajudar os dele. Enquanto isso, os seus donos, os banqueiros etc., estão fazendo onda, reclamando que, supostamente, será furado o teto de gastos para matar a fome do pessoal. Então, isso é uma hipocrisia, é uma coisa vergonhosa.

Além disso, discutiu qual deve ser a postura do próximo governo Lula em relação à economia, comentando sobre a enorme pressão que vem sofrendo por parte da imprensa burguesa e dos economistas ligados aos banqueiros. Nesse sentido, defendeu uma política progressista voltada para o povo.

“Para o presidente que merece o nosso apoio, que disse que ele vai procurar fazer um governo melhor do que os dois que ele já fez, ele tem que começar por aí mesmo, começar com folga, começar bem, metendo dois gols já no adversário”, disse o economista sobre Lula, afirmando que ele deve, no mínimo, excluir a bolsa família de R$600 do teto de gastos.

Confira, abaixo, a entrevista na íntegra.

Diário Causa Operária – Por conta da equipe de transição, assuntos relacionados à economia estão muito em alta. Vemos que a imprensa burguesa está fazendo uma pressão muito grande sobre Lula e todo o seu governo para que ele adote uma posição cada vez mais direitista. Isso enquanto vem dando algumas declarações bem enérgicas, indo justamente na contramão dessa política e indicando que não vai ceder à vontade dos banqueiros. E dentro disso, José, houve muita discussão sobre o teto de gastos. Lula disse que não vai acatar, que vai priorizar os investimentos sociais. Como você vê essa questão?

José Álvaro – Eu acho que, apesar da coalizão que o Lula montou para ganhar as eleições ser bastante direitista, foi uma opção proveniente de uma avaliação em relação à possibilidade de vitória e também a possibilidade de governar.

Lula vai assumir num quadro de continuidade do golpe, de certa forma o que aconteceu nas eleições, com a vitória apertada do Lula, foi mais um momento do golpe, porque o governo Bolsonaro cometeu todos os crimes eleitorais possíveis. Se fosse um governo de esquerdas, se fosse a Dilma, por exemplo, eles tinham cassado a candidatura dela, tinham cassado uma candidatura do Lula que fizesse qualquer coisa parecida com o que fez essa extrema direita fascista.

Isso porque, se o Lula tivesse ganho no primeiro turno, ele entraria agora com muito mais força. A equipe de transição seria outra, não precisaria chamar o Frota, por exemplo. Ele iria preferir uma configuração mais à esquerda. Então, a rigor, se houvesse força política para isso, Lula nem deveria estar discutindo o teto de gastos. Ele devia estar dizendo o seguinte: nós vamos revogar o teto de gastos no dia primeiro. A rigor, deveria ser isso. Por que ele não faz? Porque não há força para isso, pressupõe uma força que pode existir, mas no momento não existe.

O teto de gastos é um absurdo e faz parte do golpe. Eu acho que o mínimo que o Lula pode fazer é colocar a questão do Bolsa Família por R$600 fora do teto de gastos. É o mínimo. Não é por acaso que os bancos e os economistas lambe-botas estão criticando isso.

Aqui, vale lembrar que o teto de gastos vem sendo furado desde o primeiro dia do governo Bolsonaro. Portanto, é uma piada, uma formalidade. Esse picareta do Paulo Guedes furou várias vezes o teto de gastos para ajudar os dele. Enquanto isso, os seus donos, os banqueiros etc., estão fazendo onda, reclamando que, supostamente, será furado o teto de gastos para matar a fome do pessoal. Então, isso é uma hipocrisia, é uma coisa vergonhosa. E os economistas que sabem disso têm que dizer com todas as letras.

Eu não acredito que o Lula vai baixar a crista em relação a isso. Vamos falar a verdade: esse é o mínimo que ele pode fazer, atender imediatamente, como ele mesmo tem falado, a questão da fome, os 33 milhões, no mínimo, de brasileiros que estão passando fome. Sem contar que 125 milhões de brasileiros vivem em insegurança alimentar, é gravíssimo que um país como o Brasil, que é o terceiro produtor de alimentos do mundo, tenha 40% da população argentina passando fome.

Lula está corretíssimo, é o mínimo que ele pode fazer. Então, para o presidente que merece o nosso apoio, que disse que ele vai procurar fazer um governo melhor do que os dois que ele já fez, ele tem que começar por aí mesmo, começar com folga, começar bem, metendo dois gols já no adversário.

Diário Causa Operária – Aproveitando que você colocou essa questão do fato de que o Bolsonaro, desde o primeiro dia do governo dele, fura constantemente o teto de gastos ao bel prazer dos banqueiros. Temos o próprio exemplo do começo da pandemia, em que Paulo Guedes deu mais de um trilhão de reais para os banqueiros.

Conversamos com um companheiro que participa da Auditoria Cidadã da Dívida Pública sobre um gráfico que estamos reproduzindo na nossa imprensa, justamente porque mostra quão demagógico é essa questão do teto de gastos. Ele comentou, na ocasião, que isso o pagamento de juros da dívida pública é uma coisa que não está inclusa no próprio teto de gastos. Como é essa questão da dívida? Como você enxerga esse problema?

José Álvaro – Essa observação do companheiro da auditoria é muito correta. Uma coisa que eu não tinha pensado é que o problema da dívida revela, dentre centenas de coisas, a hipocrisia desses caras. Porque você passa metade do orçamento federal para pagar uma dívida que já foi paga muitas vezes pra meia dúzia de parasitas e especuladores – porque eles não passam disso, eles até se intitulam banqueiros, mas eles são parasitas. O sistema da dívida é um sistema cujo objetivo é roubar recursos do povo brasileiro.

Eu já tenho muitos anos de economista, porque como eu sou um cara velho, já me formei há muitos anos e estou à frente do Dieese há 34 anos. Meu tema de graduação foi a dívida externa brasileira, que, naquela época, na década de 80, era muito problemática. Hoje, a dívida externa não é um problema. O problema hoje é a dívida pública, que abrange a dívida externa e a dívida interna – a dívida externa é a dívida em outras moedas, a dívida interna é a dívida em reais. A dívida pública é um absurdo, é como se fosse uma lombriga gigante, um verme gigante no organismo do Brasil. E tem um detalhe importante: como o mundo numa etapa de financeirização do capitalismo, ou seja, do domínio dos bancos, o capitalismo já superou em muito tempo o período onde ele foi progressista, ele foi produtivo etc.

Apesar de ser um problema para muitos países, o Brasil gasta, normalmente, mais de 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) com juros da dívida. Isso é um negócio absolutamente inaceitável. Se o povo brasileiro soubesse o que significa os gastos da dívida pública, se ele entendesse esse gráfico que você mencionou…

Para os banqueiros, isso é como uma galinha de ovos de ouro. Como tem falado Maria Lúcia Fattorelli, que é a grande estudiosa do assunto da auditoria da dívida, os banqueiros não querem que o Brasil pague essa dívida, obviamente, porque seria matar as galinha dos ovos de ouro. Eles querem continuar fazendo agiotagem com a população.

Tudo o que é dito sobre a dívida pelos setores dominantes, pelos economistas ligados a bancos, como o Banco Central, por empresas, inclusive grandes empresas industriais, boletins do FMI etc., é mentira. Isso tudo é para manter uma farsa, que é manter a lombriga gigante que explora os nutrientes do Brasil, que come os nutrientes do Brasil como se fosse uma coisa legítima.

Diário Causa Operária – Sobre esse problema, você colocou que 5% do PIB é destinado só para o pagamento desses juros. Mas, ao mesmo tempo, a burguesia, a direita sempre fala que não temos dinheiro suficiente para dar para o povo, não temos dinheiro pra saúde, para educação, para nada. É algo que vemos com muita força no governo Bolsonaro, que fez uma série de cortes orçamentários e que não reajusta, além disso, o salário mínimo. O Dieese tem uma proposta justamente para essa questão. Você pode falar um pouco sobre isso?

José Álvaro – Não sei se todos os ouvintes sabem, mas o Dieese, Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, é uma instituição que já existe há 67 anos. E o Dieese é uma instituição peculiar no Brasil. O movimento sindical dos Estados Unidos, ou do Japão, ou da Europa, não tem uma instituição sustentada pelo movimento sindical cujo papel é formular pesquisa, assessoria e educação sindical, que é basicamente o tripé de trabalho do Dieese para o movimento sindical. Isso não existe, é um orgulho dos brasileiros.

O Dieese calcula todo mês o salário mínimo necessário. O que vem a ser o salário mínimo necessário? É um salário, suficiente, de forma mínima, para suprir as necessidades básicas de uma família composta por quatro pessoas, um casal e dois filhos pequenos, [para] suprir as necessidades que estão previstas desde a Constituição de 1946. Esse valor é atualizado todo mês e atualmente ele está em aproximadamente R$6406,00. Ou seja, é mais de cinco vezes o salário mínimo oficial do Brasil.

Esse é um dado importante porque ele revela o quanto o trabalhador brasileiro é explorado. E alguém poderia dizer que quase ninguém ganha o salário mínimo, mas é mentira. Muita gente ganha, quase 70% dos proventos dos aposentados e pensionistas é o salário mínimo. Milhões de trabalhadores ganham só o salário mínimo. E se você pegar até dois mínimos, até três mínimos, então temos 80% da classe trabalhadora brasileira. Em outras palavras, 80% da classe trabalhadora brasileira no mínimo está longe de receber o salário mínimo necessário calculado pelo Dieese [grifo do DCO].

Diário Causa Operária – Para finalizar, José, outro acontecimento que ganhou destaque nesta semana foi a indicação do Ilan Goldfajn para presidente do BID, o que aparenta ser uma das últimas façanhas do governo Bolsonaro. Fizemos um breve perfil de quem é o cidadão e, assim como a grande maioria das pessoas nesse tipo de cargo, é um vampiro que também serve para entregar o patrimônio brasileiro aos capitalistas. O que você achou desse nome para o BID?

José Álvaro – Eu achei uma sacanagem com os vampiros [risos]. Esse cara é muito pior que os vampiros, é vampiro na décima. Quando ele [Ilan] foi presidente do Banco Central, ele dava expediente no Itaú de manhã e, à tarde, no Banco Central. Ou seja, pegaram a raposa e disseram o seguinte: você vai administrar o galinheiro.

Isso faz parte do golpe, é mais um lance do golpe, uma operação do golpe. É uma medida que deveria ser revogada, ogoverno Bolsonaro está fazendo política de raspa do tacho. E como eles são picaretas, são entreguistas, estão aproveitando para roubar aquilo que é possível e cair fora.

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