Nas mãos de uma concessionária desde 2019, com o seu espaço público dado para a mesma fazer o que quiser por trinta e cinco anos, o histórico estádio da capital paulista, o Pacaembu (que passa por uma “reforma” atualmente), tem hoje em dia até as suas partes materiais, identificadas com a sua história, sendo vendidas. Hoje as suas antigas cadeiras podem sair por até 1,8 mil reais pela internet, tendo suas pré-vendas esgotadas.
Nesse caso, se trata de um claro processo de esquartejamento do estádio que passa por obras que o mudarão completamente, como vimos antes com grandes estádios brasileiros. É uma operação para garantir o lucro dos capitalistas em cima de sua cultura, que deveria ser mantida, preservada. Reformas só devem ocorrer no sentido de aperfeiçoar o local, trazendo inovações sem destruir a sua identidade.
Claramente atrativas para quem é amante do futebol, essas cadeiras guardam um charme e uma história que estão vivas em milhões de pessoas que tiveram alegrias e tristezas no local. Agora, elas têm sido comercializadas entre 1,4 mil a 1,8 mil reais, tendo sido vendidas as 600 peças disponíveis segundo site da empresa organizadora da comercialização Tok&Stok, que utiliza-se do butim ao estádio como forma de alavancar a sua marca do ramos dos móveis de interiores. A empresa ainda ousa chamar o processo de doação, sendo, na verdade, uma completa manipulação dos sentimentos das pessoas, pois hoje, poucos tem condições de darem 1000 reais em uma cadeira.
Na descrição do site, a Tok&Stok diz:
“Cada peça presenciou tudo o que aconteceu no ‘Paca’ (sic) e carrega em si as memórias e as marcas do tempo. O sol, a chuva, o suor e as lágrimas deixaram manchas e arranhões que as fazem únicas por serem verdadeiras”.
Os capitalistas sabem manipular as coisas e, dessa vez, utilizam como sempre as “bem intencionadas” ONGs e/ou grupos esquerdistas pequeno-burgueses para fazerem seu jogo. Quem está em conluio com os capitalistas desta vez, nesse jogo sujo de destruição da história, é o grupo de caridades de dois grandes ex-jogadores campeões mundiais pelo São Paulo Futebol Clube (Raí e Leonardo), a Fundação Gol de Letra, ONG que é especializada em doações para comunidades carentes e pessoas necessitadas. Em outras palavras, a máscara que os capitalistas hipócritas mais desejam quando o jogo é sujo mesmo.
Logo, temos uma ONG “bem intencionada”, grupos empresariais querendo lucrar com qualquer coisa e um patrimônio público sendo esquartejado por eles. A ONG em questão, que precisa de grana como todos nós, alega que foi contatada pela equipe da Tok&Stok e que, segundo reportagens, manterá cem por cento de todos os lucros.
A concessionária Allega, que é quem está sob posse do estádio, informa que se não houvessem as doações, as cadeiras seriam jogadas no lixo. Mesmo assim, muitos itens do estádio já foram descartados como sucata desde o início das obras em 2020. As cadeiras mesmo terão que passar por uma reforma para serem apresentadas aos compradores posteriormente, por isso a pré-venda.