Em recente entrevista para a TV 247, Pepe Escobar afirmou que “O Ocidente não tem lideranças e Lula será o líder do Sul Global” (Tv 247, Pepe Escobar: G20 em baixa, BRICS em alta, 17/11/2022).
É verdade que o BRICS visa a expansão e vários países são candidatáveis, inclusive Argentina, que apresentou sua candidatura em setembro de 2022. Entretanto, antes de passarmos aos fatos, vamos à afirmação do Pepe Escobar.
Pepe Escobar é notório conhecedor de geopolítica, porém, antes, é necessário encerrar dois problemas de ordem geográfica e um de ordem mais diretamente política. O “Ocidente” é a palavra confusa para dizer Imperialismo; em segundo lugar, não é possível falar em “Sul Global”, pois os países atrasados que estão no hemisfério sul, não tem capacidade de extensão, senão por uma revolução na escala internacional. Do ponto de vista político, não é a capacidade de uma liderança que se automobiliza para se tornar líder de um hemisfério, por si só, automaticamente, mas, o conjunto de fatores em determinado momento.
Lula precisa se estabilizar na presidência e se apoiar no povo que o elegeu e o apoia. O Brasil ainda passará por conflitos internos até que possa liderar a ponto de intervir na direção tomada por Xi Jinping e Vladimir Putin. Além disso, o País precisará vencer uma grande crise, negociando com os piores abutres do sistema internacional de nações. Evidentemente que a presença de Lula modifica o cenário internacional, e o futuro presidente brasileiro pode ocupar um vácuo de poder deixado pela predominância de líderes neoliberais em países atrasados. Uma liderança nacionalista em um País com as dimensões do Brasil imporá novo ordenamento no G20 e nos diálogos com o G7.
A última questão a ser negada na sentença de Pepe Escobar é que o fato de supostamente não haver “lideranças” no imperialismo, não significa que o imperialismo não lidere e turve o cenário criado por Escobar. É que o imperialismo não precisa de lideranças, já possui a OTAN, as redes institucionais de poder brando e a maior força militar de todos os tempos, podendo intervir no suposto crescimento dos BRICS. Não bastam países quererem fazer parte dos BRICS, mas como o imperialismo pode interceder com a economia impondo embargos, dificultando acordos comerciais e até mesmo aplicando força militar.
Fatos que indicam ampliação dos BRICS
Irã
A Rússia e o Irã estão expandindo rapidamente seus laços energéticos e comerciais em meio às sanções imperialistas. Acordos entre os países estão na base de 40 bilhões de dólares por intermédio da Gazprom, que será finalizada em dezembro. Tratados em torno da navegação e exploração do Mar Cáspio também estão acordados, já que esse mar está entre russos e persas. Além desse acordo bilateral com a Rússia, a República Islâmica do Irã apresentou seu pedido em se juntar aos BRICS, bloco que representa mais de 40% da população mundial e quase um quarto do PIB. O que pode atrasar a ratificação desse acordo é eventual pressão imperialista sobre Brasil e África do Sul. O ingresso imediato de Irã mobilizará uma onda de ataques da imprensa para cima de Lula, que estaria retornando acordos com o “eixo do mal”.
Argentina
O país platino apresentou formalmente sua candidatura por carta à Xi Jinping. Anteriormente, por ocasião da próxima 14ª cúpula do BRICS, o embaixador da Argentina na China, Sabino Vaca Narvaja, tensionou a possibilidade de tornar-se um membro dos BRICS, em meio à grande crise vivida pela Argentina, que tem enfrentado dificuldades em manter o pagamento de juros dos empréstimos junto ao FMI. Deste modo, Vaca tem tentado buscar acordos para utilizar os recursos do Banco dos BRICS. O embaixador Narvaja observou que o mecanismo de cooperação do BRICS tem um profundo significado para a construção de uma ordem global mais equilibrada, onde a cooperação será incondicional e para benefício mútuo. Se a Argentina se juntar ao BRICS, esse movimento também seria muito propício para o desenvolvimento das relações China-América Latina, disse ele ao Global Times. Lula não colocaria obstáculo a esse ingresso, contudo, o imperialismo poderá organizar uma campanha bastante devastadora durante as eleições argentinas em 2023.
“Brics Plus” – México, Paquistão e Sri Lanka
A China defende e busca criar o “Brics Plus”, versão ampliada do bloco desde 2017. Para os chineses, a articulação com economias como países do índico e com a América Central, seria uma forma de organização geoestratégica que daria tração às “rotas da seda”. Desde o anúncio sobre o Brics Plus, o Sri Lanka viveu um golpe de estado e Iram Khan, o político mais popular do mundo, caiu junto com o projeto CPEC, o corredor China-Paquistão, demonstrando que o avanço do bloco não é uma questão simples.
Considerações finais
Os BRICS é um bloco que entra em contradição com o imperialismo, mas não conseguirá se sobrepor a ele. A OTAN como bloco militar ofensivo se impõe como a força que acua o desenvolvimento e expansão dos BRICS. A expansão do bloco e a adesão parece ser algo óbvio, mas a ampliação demanda não somente “enfrentamento”, demanda sabedoria e organização. Lula tem condições de fazer parte desse movimento, mas não fará nada sozinho, apenas pela capacidade de articulação internacional, mas com tomadas de decisões que tragam o conjunto das populações desses países para o entendimento da necessidade de enfrentamento mais concreto contra o imperialismo. Nesse ponto ainda estamos no início novamente, pois há cenário de guerras por procuração e escalada militar em todos os cantos do planeta, e nessa situação, um bloco muitas vezes fica em segundo plano. Com Lula, os BRICS ganham tração para expansão, mas não é condição suficiente e mágica, conforme aponta Pepe Escobar.